Itália endividada, Alemanha a poupar demais

Comissão Europeia pede “reequilíbrio mais simétrico” nas economias do conjunto da zona euro.

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Pierre Moscovici, comissário europeu para os assuntos económicos LUSA/OLIVIER HOSLET

Uns países com endividamento a mais, como a Itália, outros com poupança em excesso, como a Alemanha. A análise da Comissão Europeia aos desequilíbrios dos países da UE e à coordenação das políticas dos Estados-membros voltou a revelar em 2019 o mesmo problema já detectado há vários anos.

No Pacote de Inverno do Semestre Europeu apresentado esta terça-feira, entre os treze países onde foram detectados desequilíbrios económicos, os casos mais graves – aqueles onde os desequilíbrios são classificados como “excessivos” – estão relacionados com níveis de endividamento considerados demasiado elevados. Itália, Grécia e Chipre são os países visados e todos eles apresentam entre as suas debilidades os riscos associados a um endividamento externo elevado.

No caso de Itália, a terceira maior economia da zona euro, a Comissão, que tem mantido discussões acesas com Roma em relação à sua política orçamental, deixa vários avisos. “Uma elevada dívida pública e uma dinâmica fraca ao nível da produtividade implicam riscos com uma relevância que pode ir além das suas fronteiras no futuro, num contexto de crédito mal parado e desemprego ainda elevados”, diz o relatório.

Mas se a dívida é o problema mais sinalizado, a Comissão também volta este ano a deixar avisos aos países que, face ao estrangeiro, apresentam excedentes considerados exagerados. A Holanda é um desses casos, mas, neste capítulo, a Alemanha é, até pelo facto de ser a maior economia da União Europeia, a que gera mais preocupações, sendo colocada entre os países em que existem “desequilíbrios macroeconómicos”.

A Comissão assinala que “o excedente da balança de transacções correntes persistentemente elevado” da Alemanha tem um impacto para toda a economia da UE e reflecte “o baixo nível de investimento em relação à poupança, tanto no sector privado como no sector público”. Repetindo críticas que já vem fazendo há vários anos, Bruxelas diz que, apesar de uma tentativa de apostar mais na procura interna por parte do governo de Angela Merkel, a verdade é que o consumo e o investimento continuam com o mesmo peso no PIB, mesmo num cenário em que existe espaço orçamental para o Executivo responder às necessidades de investimento em infra-estruturas”.

Na conferência de imprensa do Pacote de Inverno, o comissário Pierre Moscovici referiu-se aos excedentes registados em países como a Alemanha e a Holanda como ”desequilíbrios não só para os próprios países como também para toda a zona euro”. E ligou este facto ao endividamento excessivo de outras economias. “A correcção destes dois desequilíbrios, dívida de um lado e excedente da balança corrente do outro, vai inevitavelmente demorar tempo. Mas é preciso prosseguir com os esforços, porque estas continuam a ser as principais fontes de vulnerabilidade da zona euro”, disse.

“Se queremos tornar as nossas economias mais resilientes, e se queremos que estejam menos dependentes da procura externa, é preciso um reequilíbrio mais simétrico no conjunto da zona euro, com uma consolidação continuada onde for necessário (sobretudo nos países que continuam a ter uma dívida pública elevada e défices acentuados) e com um aumento do investimento público e uma procura interna mais forte, onde seja possível do ponto de vista orçamental”, afirmou o comissário.

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