Junqueras declara ao tribunal em Madrid que se considera “preso político”

"Amo a Espanha", disse o ex-vice-presidente catalão Oriol Junqueras no seu julgamento no Supremo Tribunal. Mas acusou o Governo espanhol de "deixar a cadeira vazia" e não conversar com os catalães.

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Oriol Junqueras troca documentos com o seu advogado: o acusado diz que só responderá a este, e não à procuradoria ou acusação EMILIO NARANJO/EPA

O antigo vice-presidente da Generalitat da Catalunha, Oriol Junqueras, foi ouvido esta quinta-feira pela primeira vez ao Supremo Tribunal de Madrid, onde é julgado junto com outros 11 líderes independentistas. “Considero-me um preso político”, foram as suas primeiras palavras. 

Junqueras é o mais alto responsável a ser julgado neste processo sobre o referendo à independência da Catalunha, já que o antigo líder da Generalitat, Carles Puigdemont, saiu do país, e é para ele que está pedida a pena mais pesada, 25 anos de prisão.

“Estou numa situação em que não tenho defesa possível, por que estão a acusar-me pelas minhas ideias”, declarou, segundo o jornal La Vanguardia. “Percebo que estou num processo político e como sou representante eleito, não responderei às perguntas das acusações.”

A estratégia de Junqueras, que o diário El País classifica como arriscada, foi assim de responder apenas a perguntas dos seus advogados de defesa, transformando o seu tempo no tribunal numa espécie de discurso político.

"A acusação distorce a argumentação. Do meu ponto de vista, nada do que fizemos é crime. Votar num referendo não é crime", disse Junqueras, citado agora pelo jornal El País. "Não cometemos nenhum dos crimes que nos querem atribuir."

"Cadeira vazia"

Junqueras acusou de seguida o Governo espanhol de deixar “a cadeira vazia” face às propostas de diálogo do independentismo catalão. “Perante uma proposta maioritária, reiterada no tempo, democrática, pacífica… O resultado é sempre uma recusa do diálogo. A cadeira em frente está sempre vazia”.

“Já disse muitas vezes que amo a Espanha”, declarou ainda Junqueras. “Como é que isso é compatível com o republicano catalão que sou? É, porque estou convencido de que o melhor modo de garantir a convivência é um reconhecimento entre iguais.”

Esta declaração levou a reacções: o líder do PP (conservador), Pablo Casado, comentou no Twitter: “Amar Espanha é incompatível com acabar com a sua democracia”, o que seria decorrente do processo de independência da Catalunha e que o estatuto de eleito não equivale a uma autorização para atacar.

A líder do Cidadãos (direita anti-independência) na Catalunha, Inès Arrimadas (a mais votada nas eleições de Dezembro de 2017, mas que ocupou o lugar de líder da oposição), foi ouvida sobre o processo. “Este julgamento trata de ideias”, declarou. “Trata de acções, de delitos, de saltar por cima das leis, de ignorar avisos dos tribunais, de pensar que estavam acima de todos.” 

O juiz que preside ao processo, Manuel Marchena, tinha dito antes que os acusados só poderiam responder a questões sobre factos verificados. Marchena recusou ainda uma petição da defesa de Jordi Cuixart, da associação Òmnium, para retirar a acusação popular do partido de extrema-direita Vox do processo. “Não vai ser possível ter um debate ideológico sobre o que cada um dos acusados ou as acusações possam encarnar”, declarou Marchena.

O papel dos Mossos

Após ter sido ouvido Junqueras, foi a vez do então responsável pela pasta do Interior, Joaquim Forn, ser ouvido. Forn decidiu responder às perguntas da defesa e acusação – apenas excluiu as da acusação popular do partido de extrema-direita Vox​.

A acusação concentra-se em dois episódios violentos: a 20 de Setembro de 2017, quando numa concentração no Departamento de Economia da Generalitat foram destruídas duas viaturas da polícia, e do dia 1 de Outubro desse ano, quando foi realizado o referendo que Madrid considerava ilegal.

Junqueras repetiu várias vezes que o processo não foi nunca violento, e que as autoridades catalãs nunca sancionaram qualquer tipo de violência.

Joaquim Forn foi questionado sobre uma série de acontecimentos e sobre o papel das forças de segurança, os Mossos d’Esquadra.

A uma pergunta sobre se o número de agentes tinha sido suficiente, respondeu que foi a maior mobilização de forças, mesmo maior do que após os atentados terroristas de 16 de Agosto em Barcelona e Cambrils.

A outra questão sobre confrontos entre os Mossos d’Esquadra e elementos das forças espanholas. “Li em alguns relatórios, foram coisas absolutamente minoritárias e não representativas do que aconteceu naquele dia.”

O tribunal recusou ainda que Puigdemont falasse por videoconferência. “É um processo penal, não pode ser acusado de manhã e à tarde testemunha.”

A ministra espanhola da Defesa, Margarita Robles, criticou Puigdemont por permitir que outros políticos que “recebiam ordens” do presidente da Generalitat estejam a responder na Justiça “assumindo a responsabilidade” que seria dele.

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