Mulheres condenadas por deixarem água e comida para migrantes no deserto

Segundo dados do grupo humanitário Humane Borders, desde 2000 já morreram quase 3000 migrantes no sul do Arizona.

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Um grupo de 376 migrantes detidos em Janeiro pelos serviços de controlo fronteiriço perto de Yuma, no Arizona Reuters/HANDOUT

Um juiz federal condenou quatro mulheres por entrarem sem permissão numa reserva natural, no deserto do Arizona (EUA), para deixarem água e comida para os migrantes que por lá passam.

As activistas foram condenadas nesta sexta-feira pelo juiz norte-americano Bernardo Velasco, naquela que é já considerada a primeira sentença criminal por causas humanitárias no espaço de uma década, segundo o diário britânico The Guardian.

As quatro mulheres, Natalie Hoffman, Oona Holcomb, Madeline Huse e Zaachila Orozco-McCormick, são voluntárias do grupo activista “No More Deaths” (“Não a mais mortes”, na tradução em português) que luta contra a morte de imigrantes ilegais que atravessam o deserto junto à fronteira entre os Estados Unidos e o México.

Natalie Hoffman foi considerada culpada por conduzir um veículo no interior da reserva nacional Cabeza Prieta (Arizona) e por ter entrado na zona federal protegida, sem permissão, para deixar cântaros de água e enlatados em Agosto de 2017. As restantes activistas foram condenadas por entrarem na reserva natural sem autorização e por lá deixarem bens pessoais.

Todos os anos centenas de migrantes morrem e outros tantos são resgatados pelas patrulhas de controlo fronteiriço ao tentarem chegar aos Estados Unidos. Segundo a agência Reuters, o deserto de Sonora, que atravessa o Arizona, é um dos locais de travessia mais mortíferos.

Desde 2000, o gabinete de medicina legal do condado de Pima (Arizona) em parceria com o grupo humanitário Humane Borders ("Fronteiras Humanas" em português) tem vindo a monitorizar o número de migrantes mortos no condado e no sul do Arizona, com os números a chegarem quase aos três mil. No entanto, o número total de mortes pode ser mais elevado tendo em conta que muitos dos corpos nunca chegam a ser resgatados.

À semelhança do que acontece no deserto do Sara, uma grande parte dos migrantes morre devido ao calor extremo, por exaustação, falta de água e comida ou abandonados por traficantes, muitos dos quais vindos da América Central e a viajar em família e com crianças, explica o Guardian

Em Dezembro passado, uma criança de sete anos da Guatemala morreu de choque e desidratação num centro de detenção de imigrantes no estado norte-americano do Novo México, depois de ter atravessado o deserto entre os estados do Arizona e do Texas. 

Já na semana passada, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez um discurso ao país onde falou sobre os seus receios com a imigração ilegal, referindo-se ainda a uma “crescente crise humanitária”. A paralisação parcial do Governo já dura há 29 dias, sem acordo à vista no Congresso para financiar a construção de um muro com o México.

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