Foi você que pediu uma passagem de ano?

Os preparativos estão feitos, as noites programadas, os elencos da festa definidos. Agora, é tempo de escolher a música e o ambiente desejados. Das festas nas praças municipais aos jantares de gala, dos ritmos quentes ao apego à nostalgia, oferta não falta.

Foto
Pedro Abrunhosa volta a animar a Avenida dos Aliados, como há três anos Fernando Veludo/NFactos

Fim de ano na praça

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Fim de ano na praça

Ruas cheias de gente, é isso que se quer. O convívio a céu aberto, se possível sem chuva, mas, se ela chegar, algo se saberá improvisar para ultrapassar o desconforto – um dia não são dias e uma chuvinha não faz mal a ninguém. Venha daí 2019 nas praças, nas alamedas e nas avenidas, nas marginais ou nos terreiros deste país. Os municípios têm tudo preparado. E, em alguns casos, como Porto e Lisboa, a festa até já começou.

Na Invicta, Diogo Piçarra abriu a festa, no sábado. Na capital, coube a Branko fazê-lo no mesmo dia. Para a noite mais aguardada, a da passagem de ano, estão convocados, na Avenida dos Aliados, Pedro Abrunhosa & Comité Caviar. Já no Terreiro do Paço a despedida a 2018 será feita por Daniel Pereira Cristo com os convidados Tatanka, João Só e Ana Bacalhau e o primeiro abraço a 2019 terá assinatura de Richie Campbell, ajudado por Dengaz, Mishlawi, Plutónio e DJ Dadda.

De Norte a Sul, fogo-de-artificio atrás de fogo-de-artifício, concerto atrás de concerto: Anselmo Ralph em Cacilhas, junto à Fragata D. Fernando II e Glória; Expensive Soul em Beja, na Praça da República; Miguel Araújo em Santarém, no Jardim da República; Resistência e Blaya em Viseu, no Campo de Viriato; os UHF e Diogo Piçarra em Coimbra, no Largo da Portagem; Marta Ren & The Groovelvets em Viana do Castelo, no Centro Cultural; Galgo, Throes + The Shine e Xinobi em Guimarães, na Plataforma das Artes e da Criatividade. E mais, e mais, e mais, de Norte a Sul, fogo-de-artifício atrás de fogo-de-artifício, concerto atrás de concerto.

Foto
Marta Ren estará em Viseu com os seus Groovelvets DR

Fim de ano caliente

O Inverno está aí, o que não é propriamente novidade. Chega a 21 de Dezembro, quando já caem as folhas das árvores, quando os casacos quentes já saltaram do armário, quando as televisões já começaram a fazer reportagens sobre a neve que cai nos sítios onde a neve cai todos os anos por esta altura. O Inverno está aí, como está todos os anos na passagem de ano, mas há formas de, na noite de 31 de Dezembro de 2018, trocar as voltas à latitude.

Portanto, aqui, o frio faz-se calor tropical. Caliente? Certamente no Musicbox, em Lisboa, onde La Flama Blanca, distinto embaixador da cumbia e demais tropicalismos latino-americanos, se reúne a Consuelo (alter-ego do DJ A Boy Named Sue) e a Ferrary (Francisco Ferreira, teclista dos Capitão Fausto). Será a edição especial, edição réveillon, do Baile Tropicante que Pedro Azevedo, o homem que encarna La Flama Blanca, promove há seis anos na sala do Cais do Sodré. Sintonia total, neste caso, com o que acontecerá 300 quilómetros a norte, no Maus Hábitos. O célebre espaço portuense não esconde ao que vai: “Vamos transportar o Maus Hábitos para a América do Sul e fazer a festa”. Para cumprir a missão com distinção, terão, no Salão Nobre, a reunião de DJ Quesadilla e Xico da Ladra ao comando dos pratos, e, na Sala de Espectáculos, um set DJ de Cumbadélica e a electrónica colorida a latinidades bem ritmadas dos Ohxalá.

Foto
O habitual Baile Tropicante do Musicbox terá uma edição especial réveillon DR

Trocando a expressão “caliente!” por, por exemplo, “deixa ferver!”, poderemos saborear a mesma temperatura (escaldante) na Casa Independente, em Lisboa, que monta a festa Pró Ano Logo se Vê com Pedro Coquenão, o criador dessa máquina de invenção luso-angolana, pan-africana, chamada Batida, com o kuduro e afro-house de DJ Satélite e com as preciosidades resgatadas à música angolana e cabo-verdiana por Rita Só, portuguesa radicada em Berlim e metade dos Undo The Taboo.

A ferver estará também o B. Leza, o afamado clube de música africana. A passagem de ano terá ali como prato forte a actuação de Zeca di nha Reinalda, rei do funaná. Vocalista dos Bulimundo e nome de destaque da música cabo-verdiana, assegurará que a entrada em 2019 se faz da melhor forma, ou seja, com Febri de Funaná.

Fim de ano nostálgico 

O fim de ano é tempo de olhar em frente, é o momento em que se fazem todas aquelas promessas que revolucionarão a nossa postura perante a vida (e de que nos esqueceremos aproximadamente duas semanas depois), é tempo de futuro porque o futuro está mesmo ali, no segundo em que Dezembro se torna Janeiro e um número é acrescentado à cronologia dos tempos. O fim de ano pode ser tudo isso, mas quem resiste a reviver, a recordar, a prestar tributo aos tempos que já lá vão e àqueles que fizeram parte deles?

Quem estiver em Caminha na noite de passagem de ano, recordará a dobrar. Duas décadas numa noite só: Remember 80s and 90s é o título (esclarecedor) do espectáculo protagonizado no Terreiro por um homem da terra, o músico e produtor Paulo Baixinho. Já em Sesimbra, os céus sobre a marginal irão iluminar-se com um fogo-de-artifício com dedicatória bem marcada: serão alvo de homenagem Aretha Franklin e Montserrat Caballé, duas gigantes da música que nos deixaram este ano – fica a dúvida se DJ Johny e DJ Ricky, animadores de serviço no Largo da Marinha e no Largo de Bombaldes, antes e depois da homenagem pirotécnica, oferecerão aos foliões memórias sonoras da rainha da soul e da grande dama da ópera.

Declaradamente em modo tributo, e neste caso a um passado que ainda não acabou, será a passagem de ano no Montijo e em Vila Nova de Milfontes. Na cidade do distrito de Setúbal, o som da festa estará a cargo da banda Xutos À Nossa Maneira. Na praia alentejana, a contagem decrescente será assinalada por um tributo aos autores de Remar remar, responsabilidade do grupo de baile 4Ever – depois do obrigatório fogo-de-artifício há ska-punk com os The Pilinha e, depois, mais nostalgia servida por DJ consumido pelo espírito dos anos 1980.

Fim de ano no groove

Há que preparar os comes e os bebes, naturalmente, há quem reserve uma indumentária especial, enfim, há que dar conta dos pormenores essenciais para assegurar que a passagem de ano será memorável. E, entre esses pormenores, é indispensável cuidar que a banda sonora seja trabalhada com o máximo rigor para que tudo o resto faça sentido. Se a noite é para dançar, que se assegure o groove e que seja ele a ritmar as horas que antecedem a chegada do tal de 2019. Pois bem, groove não faltará.

Não faltará nos Estúdios Time Out, em Lisboa, onde Da Chick, acompanhada dos convidados Bandido$, Bill Onair, Antoine Gilleron, Rádio Cacheu e Jeff Lennon, anuncia a ambição de fazer do Mercado da Ribeira um Soul Train dentro do mítico clube nova-iorquino Studio 54 – e a noite até foi baptizada It’s a groovy celebration para não deixar dúvidas a ninguém.

Nas Damas, no bairro lisboeta da Graça, estará alguém que, não sendo certo que tenha estado no Studio 54 original, estava lá, em Detroit, quando os ritmos electrónicos se encaminhavam para essa força transformadora a que chamaram tecno. Jerry The Cat, americano radicado em Portugal, membro dos Gala Drop e dos Loosers, será um dos protagonistas da festa de passagem de ano, ao lado da dupla 2Jack4U e de João Moço.

Groove também não faltará no Ferroviário, na zona de Santa Apolónia, que tem no combo soul Cais do Sodré Funk Connection o primeiro anfitrião da noite. A banda que recupera para os nossos dias o som clássico da Stax e Motown dá o tom. Depois, Progressivu, DJ Big e WhyViiDee, entre o kuduro, o hip-hop, a house e o R&B, manterão os ritmos no ritmo certo.

Foto
Os Cais do Sodré Funk Connection vão animar o Ferroviário, em Lisboa DR

Fim de ano alternativa

Pode ter tudo a que se tem direito numa passagem de ano (a contagem decrescente a assinalar a chegada da meia-noite, o champanhe derramado nos copos, o ambiente de muito festiva felicidade, a amiga bêbada inconveniente, o amigo deprimido por causa das inconveniências da amiga) e, ainda assim, não parecer reprodução das imagens que passarão pelas televisões e pelas redes sociais ao longo da noite, ilustrando a festa mundo fora com imagens curiosamente semelhantes, de Sydney a Vigo, passando por Ulan Bator. Pode nem ser passagem de ano ou réveillon, mas sim um Reiveilhão – Baile de Máscaras, como o abrilhantado pelos Irmãos Catita no Titanic Sur Mer, em Lisboa, e que contará com convidados como, citamos, “os gigantes Ena Pá 2019, a clássica Miss Gretty Star, a divina Miss Suzy e a voluptuosa e sensual Senhorita Manu de La Roche numa banheira de leite de burra”.

Pode não ser réveillon, nem Reiveilhão, continuemos, e simplificar-se em Revelhão. Aparentemente sem baile de máscaras, esse terá lugar na zona oriental de Lisboa, na Fábrica Musa. Aí, onde o champanhe será trocado pela cerveja e as passas por tremoços, teremos à disposição um cardápio musical em que conviverão sem conflito, tudo boa diversidade, um cantautor chamado Éme, um respigador de música popular portuguesa baptizado Hipster Pimba, uma voz de pop electrónica-popular, devidamente desalinhada, chamada Sreya, ou um set de DJ Firmeza (também passam pelos festejos Sar, DJ Problemas e Black).

Foto
Éme estará no Revelhão da Fábrica Musa, em Lisboa DR

Caso o desejo seja viver a noite como se não houvesse amanhã, então não será mal pensado assentar arraiais no Barracuda – Clube de Roque, o espaço inaugurado este ano no Porto como casa de e para o rock’n’roll. Haverá concertos de Swamp Bones e dos infatigáveis Dirty Coal Train – que agem em palco como se não haver amanhã fosse realmente uma forte possibilidade e, assim sendo, não houvesse tempo a perder.

Já na Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa, pedir-se-á tempo. Tempo para ter tempo, coisa rara no mundo contemporâneo. Há jantar, há festa, há ceia. Há muita música programada para as salas do edifício: Maria João, Os Compotas, Yami Aloelela, Bubacar Djabaté ouHavana Way são alguns dos que ali marcarão presença para, cite-se o mote da organização, “sair de vez da nossa zona de desconforto”.

Fim de ano de gala

Bonita, bonita, é a passagem de ano em traje catita. Assim pensarão muitos e muitas enquanto se aproxima a noite de 31 de Dezembro. Pois bem, a pensar neles, não faltam dress codes “formais” e “elegantes” e jantares de gala a condizer. No extremo sul do país, no Tivoli Marina Vilamoura, haverá até passadeira vermelha. Será, anuncia o hotel, uma passagem de ano (algarvia) ao estilo de Hollywood. Com uma estrela em palco muito cá da casa: Rui Veloso é o homem convidado para dar brilho musical à noite.

Sem vista para a marina, mas com vista para o rio, os janotas e as coquetes poderão contemplar o Tejo desde o Sud Lisboa, localizado ao lado do MAAT – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, apreciar o jantar de gala e dividir-se entre a festa SUD 54 (Studio 54 ainda como inspiração) no Terrazza e o Réveillon Bamboléo, no Sud Lisboa Hall, com os eternos Gipsy Kings como reis da festa

Já na Figueira da Foz e no Estoril, o traje de gala poderá ser adequado à temática da passagem de ano. No Casino Estoril, os aparentemente eternos Boney M, os de Rivers of Babylon e Daddy cool, farão do século XXI um espaço muito anos 1970. No Casino da Figueira, 2019 chega em modo Loucos Anos 50. Assim é intitulado o espectáculo de cantoria e bailarico que animará os convivas antes de a Orquestra Santos Rosa dar o tom para a acção na pista de dança. Ou seja, será passagem de ano de gala e, ao mesmo tempo, passagem de ano nostálgica e passagem de ano tributo. Passagens de anos há muitas, como dizia o outro. Venha a nossa, qualquer que ela seja.