“Coletes amarelos”: 90 mil polícias mobilizados para mais um sábado de protestos

Recuo do Governo no imposto sobre os combustíveis não apaziguou ira dos manifestantes, que deverão protestar pelo quarto fim-de-semana consecutivo. Em Paris vão estar 8 mil agentes e dezenas de carros blindados.

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Distúrbios perto do Arco do Triunfo (Paris) no passado fim-de-semana Reuters/STEPHANE MAHE

As autoridades francesas estão a movimentar todos os esforços para o que acreditam poder ser mais um sábado de violência em várias localidades do país e por isso vão mobilizar cerca de 89 mil polícias para a conter ao máximo. Depois de três fins-de-semana consecutivos de manifestações do movimento “coletes amarelos”, o Governo desistiu da intenção de aumentar o imposto sobre os combustíveis. Mas o recuo na medida que desencadeou os protestos não foi suficiente para travar a ira dos manifestantes, que deverão voltar às ruas para exigir reformas laborais, sociais e no sistema de educação, entre outras reivindicações.

Para evitar que se repitam os actos de violência registados na semana passada, o Governo liderado por Édouard Philippe prometeu o emprego de “meios excepcionais”.

Entre os quase 90 mil efectivos que durante o próximo sábado vão estar em alerta máximo – num primeiro momento o primeiro-ministro falou em “apenas” 65 mil – contam-se cerca de oito mil só para a capital francesa, o principal palco dos confrontos com as autoridades e actos de vandalismo que tiveram como alvo estabelecimentos comerciais, veículos estacionados, estátuas e monumentos.

Com o Figaro a noticiar que as autoridades estão a preparar-se para “as piores ofensivas de violência possíveis” e que os manifestantes mais radicais “têm vontade de iniciar uma guerra civil”, Paris vai contar com “dezenas de carros blindados” a patrulhar as ruas, o que pode significar que também haverá pessoal militar a participar nas operações.

Estarão ainda a postos para actuar, assim que chamados pela polícia, cerca de 75 mil elementos do corpo médico e dos serviços de socorro e emergência.

Para além do reforço securitário, a polícia parisiense enviou um documento a centenas de lojas e restaurantes localizados nos Campos Elísios e noutras zonas do centro da cidade a recomendar que se mantenham fechados.

Museus e espaços de entretenimento como a Torre Eiffel, o Louvre, o Orsay ou a Ópera de Paris vão igualmente fechar as portas, como medida de precaução, anunciaram as respectivas chefias na quinta-feira. Pelo menos seis jogos do principal campeonato de futebol em França foram suspensos, entre os quais o Paris Saint-Germain-Montpellier, que se jogaria no sábado em Paris.

O ministro do Interior, Christophe Castaner, e vários presidentes de câmara e dirigentes municipais da região pediram aos franceses para não se manifestarem este fim-de-semana em Paris. O apelo foi repetido na quinta-feira pelo primeiro-ministro, que alertou para o risco de o movimento de protesto poder ficar rotulado como um “grupo violento”, por causa da imagem que alguns dos manifestantes estão a passar.

“Há pessoas que não vêm aqui para protestar, mas apenas para causar distúrbios”, criticou Phillipe, na hora de justificar a mobilização policial. “Queremos ter os meios necessários para não lhes darmos carta-branca. Continuaremos a mostrar firmeza e a lutar contra o ódio e a violência”.

Em Bordéus, no Sudoeste francês, dezenas de edifícios públicos também estarão encerrados, tal como em Marselha e Avinhão, junto à costa Sul do país, e em Pas-de-Calais, no Norte.

As manifestações começaram por causa da intransigência de Emmanuel Macron e do Governo em abdicar do imposto adicional sobre os combustíveis, apresentado como uma medida de combate às alterações climáticas.

A pressão e o impacto dos protestos dos “coletes amarelos” – que ganhou força e adeptos nas redes sociais – obrigou o Presidente e o primeiro-ministro a recuarem na medida, mas o movimento, entretanto transformado numa demonstração nacional de fúria contra a governação de Macron, tem agora outras exigências, que incluem reformas no sistema de impostos e na educação, aumento das pensões e do salário mínimo e a redução da idade de reforma.

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