Mário Centeno foi Deus no Paraíso entre os militantes do PS

Em Almada, o ministro do momento pregou entre crentes que “esta foi uma legislatura de sucesso”.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES
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Dias antes da ida de Mário Centeno a Almada, distrito de Setúbal, já um deputado do PS eleito pela região, dizia que ia “ser Deus a falar sobre o Paraíso”. E o ministro cumpriu a profecia, numa sessão em águas calmas em que ninguém reparou na draga na sala.

Nem a carta vinda de Bruxelas, a pedir esclarecimentos até segunda-feira, que os jornalistas recordaram à entrada de Mário Centeno na Academia Almadense, arrefeceu o optimismo do “grande amigo do PS”, como foi designado o ministro na noite de sexta-feira, pelo presidente da federação distrital e secretário de Estado, António Mendonça Mendes.

Os deputados locais não escondiam a vaidade por ser Setúbal a acolher, no conjunto do périplo de ministros pelo país, na semana da apresentação do Orçamento de Estado para 2019, o pai da criatura. “É 'dois em um', o ministro das Finanças é o mais relevante do panorama político no momento”, disse Paulo Trigo Pereira ao PÚBLICO, e Eurídice Pereira, coordenadora dos parlamentares eleitos por Setúbal, acrescentou a “satisfação” de ter o responsável financeiro do Governo a “abordar a resposta do serviço público”. 

Mário Centeno encerrou as jornadas parlamentares do distrito de Setúbal com a chave-de-ouro da declaração oficial do “sucesso” pleno. “Esta é uma legislatura de sucesso”, atirou, para desfiar um rolo de números compressor de qualquer descrença.

“Durante esta legislatura, o PIB, a riqueza que o país produz, cresceu 20% em termos nominais. Criámos 380 mil postos de trabalho, reduzimos a metade o desemprego – a taxa de desemprego era superior a 12% em 2015 e é 6% em 2019, é a maior queda da taxa de desemprego na Europa. O défice caiu de 4,4% para 0,2%, ou cairá. É a maior redução do saldo global orçamental na Europa, se excluirmos a Grécia. A divida pública, que é aonde todas estas variáveis vão dar, cai 10% ao longo da legislatura. Cairá de 128,8% para 118,5%. É uma muito significativa queda do endividamento público e a maior aposta no futuro, nas novas gerações, em Portugal.”

Um desempenho que é “o melhor dos últimos anos da União Europeia”, uma vez que “nenhum outro país da UE teve o desempenho financeiro que Portugal conseguiu”.

O ministro complementa a resposta a Bruxelas – que não quis dar à chegada, aos jornalistas – acrescentando que não foram apenas as condições internacionais e comunitárias que geraram o sucesso português. “Dizem que tudo isto é porque há boas condições em torno de Portugal. É verdade. Também é verdade que Portugal contribui para essas boas condições. Mas também é verdade que nenhum outro país aproveitou essas boas condições tanto quanto Portugal”.

“O resultado deve-se ao reconhecimento que o Governo tem, entre os portugueses, mas também lá fora, à capacidade que tivemos de aumentar a confiança na nossa economia e a auto-estima dos portugueses.”, concluiu Mário Centeno.

Pelo menos a auto-estima da sala rebentou no aplauso das quase 200 pessoas presentes que enchiam o balcão e a plateia, onde pontificavam, na primeira fila, os quatro presidentes de câmara socialistas do distrito – a quinta, Inês de Medeiros, de Almada, ficou na mesa sobre o palco - e os sete deputados eleitos por Setúbal.

Quando o debate desceu à terra, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi o tema no topo das preocupações demonstradas pelos militantes. Dizem que é necessário reforçar o investimento.

Nesta fase os jornalistas já tinham sido convidados a sair, mas o ministro repetiu o que tinha dito de porta aberta: “Vamos todos ser mais exigentes com o SNS. Vamos dar ao SNS todos os recursos de que precisa para funcionar.”

Mário Centeno, que elegeu também apenas este tema para a sua intervenção inicial, afirmou que o sector “foi, desde a primeira hora, uma enorme prioridade do Governo”, que o SNS tinha “perdido mais de mil milhões de orçamento no período anterior a 2015 e milhares de colaboradores”, que “nos últimos dois anos e meio” foram contratados “mais de nove mil novos profissionais – entre 2500 médicos e mais de 3500 enfermeiros e todas as outras classes profissionais”, e que, “no final da legislatura, o orçamento da Saúde vai crescer próximo de 1400 milhões de euros, comparado com 2015”.

Desta vez ninguém foi Adalberto. Nenhuma voz perguntou como é que tanto investimento acabou na remodelação do ministro da Saúde.

Sobre o tema mais polémico do momento na região, as dragagens em Setúbal, não houve questões. A única referência foi a brincadeira do líder da concelhia do PS de Setúbal, Paulo Lopes, que, ao chegar, sussurrou as palavras de ordem para os seus camaradas deputados: “Sado sim, dragagens não!”

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