Portas: “É um bocadinho aterrador pensar que não há acordo no 'Brexit'”

Antigo líder do CDS fez o retrato de uma Europa com falta de "competividade", "envelhecida" e "zangada".

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“A Europa não é uma pizza neutral de valores", afirma Paulo Portas Enric Vives-Rubio/ARQUIVO

O ex-vice-primeiro-ministro Paulo Portas mostrou preocupação com a falta de entendimento sobre a saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo: “É um bocadinho aterrador pensar que não há acordo sobre o 'Brexit'”. O antigo líder do CDS falava num debate sobre a Europa no Mundo, promovido na Escola de Quadros do CDS e da Juventude Popular (JP) a decorrer em Peniche.

Numa altura em que se esgotam os dias para um entendimento para o "Brexit" e ainda optimista sobre um acordo de última hora, Paulo Portas defendeu que o “Reino Unido precisa do continente e o continente precisa do Reino Unido”. No primeiro caso são as exportações que os ligam, no segundo é a segurança. Com a saída do Reino Unido da União Europeia, permanece no espaço europeu uma das duas potências nucleares.

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros lembrou que “a única vez que a França se pronunciou sobre um tratado europeu, o de Amesterdão, deitou-o abaixo”. “Não sei se temos bem a noção da exiguidade de forças nos estamos a colocar”, disse, referindo que “os Estados Unidos nunca abdicarão do dólar e do seu orçamento militar”. Portas sugeriu que os britânicos deveriam viver como a antiga primeira-ministra britânica conservadora Margaret Thatcher: “Com pé dentro e um pé fora mas nunca sair”.

Apontando o "Brexit" como um dos momentos de “risco” da próxima semana para a Europa, o ex-líder do CDS gastou a sua intervenção a fazer um retrato de uma Europa que tem falta de competitividade, que vê o centro da gravidade económica mudar-se para Oriente e a ficar para trás no desenvolvimento de uma economia digital forte face à China e Estados Unidos. Essa Europa, que está “envelhecida”, é a mesma que tem um problema com migrações mas sobre o qual Portas diz não partilhar a “esquizofrenia” que existe. O que se passou, disse, “é uma vergonha para a Europa” onde “a Alemanha foi uma excepção”.

O retrato completou-se com a comparação com o que se passa na América Latina, com a saída e acolhimento de milhares de venezuelanos por países vizinhos. “A Europa está a ficar antiga e zangada e hostil aos outros quando o mundo se globaliza e um continente como a América Latina foi capaz de acolher mais depressa muito mais gente”, afirmou, reconhecendo que na Europa há a questão da “relação com o Islão”. E é aí que se centra o foco do problema das migrações. “A Europa não é uma pizza neutral de valores. Quem procura a Europa deve aceitar o ethos comum básico”, afirmou, criticando a opinião de um órgão consultivo das Nações Unidas que concluiu que um “país europeu não pode proibir a burka” quando na “Europa não escondem as mulheres na burka”.

Face à China e Estados Unidos, Paulo Portas vê vantagem competitiva da Europa em África e América Latina: “Era por aí que eu ia e foi por onde fomos”.

Em jeito de conselho para a plateia de quase centena de jovens, reunidos num hotel, o ex-líder do CDS sugeriu: “Todos nós usamos as redes sociais mas não deixem de usar a vossa independência para pensar pela vossa cabeça”. Antes do do debate foi anunciado que o nome da Juventude Popular que integrará a lista para as europeias: Francisco Laplaine Guimarães, vice-presidente da estrutura.

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