Bancos dificultam análise com contas de custo único

Contas pacote ficam mais caras ou mais baratas?

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daniel rocha

Os bancos dificultam a comparabilidade das comissões que cobram aos clientes, e que são actualmente uma das suas principais fontes de receita. Boa parte da dificuldade de comparação decorre das centenas de comissões criadas depois da crise financeira de 2008, mas também da estratégia de agregar vários serviços por um custo único, as contas pacote, que os protege da criação de eventuais limites a certas comissões ou de maiores exigências de simplificação.

A nova aposta da banca, que já leva mais de dois anos, pode compensar para alguns clientes, mas não para todos. A estratégia tem passado pelo “empacotamento” do maior número possível de clientes e, com isso, a gestão da receita é mais previsível. E ainda facilita futuros aumentos, já que podem ser reflectidos no custo agregado e não sobre os produtos desagregados.

Com a nova engenharia bancária, a comparação de produtos passou a ser bem mais difícil, porque nenhuma dessas contas é directamente comparável, em número de produtos e nas suas características. Basta pensar nas diferenças de custos de disponibilização de cartões de débito e de crédito, e nas características associadas a estes últimos, como prazos de pagamento sem juros, descontos na aquisição de produtos, seguros, devolução de capital (cash back), entre muitos outros.

A comparabilidade das contas pacote não faz parte dos 11 serviços que a Comissão Europeia definiu como obrigatórios a disponibilizar no comparador de comissões a criar por todos os Estados-membros. A introdução dessas contas no comparador do Banco de Portugal (BdP) foi uma sugestão da Deco, tendo em conta que, uma boa parte dos clientes portugueses já subscreveu estes serviços.

Apesar de ser praticamente impossível a sua comparabilidade, o BdP optou por criar três níveis de contas pacote, sendo que o mais básico, nalguns bancos, só disponibiliza um cartão de débito, restringindo ao pacote dois a inclusão de cartão de crédito. Alguns bancos só disponibilizam um pacote, como é o caso do BPI, do BCP, e do Montepio. A CGD e o Banco Santander apresentam três ofertas.

No pacote 1, o Banco Santander e o Montepio oferecem o custo mais barato, de 24,96 euros, já o banco público apresenta o maior custo no de nível 3, 112,35 euros. No BPI e BCP, o custo dos seus pacotes aproxima-se dos 100 euros anuais. 

A soma dos custos de serviços agregados ultrapassa estes valores, porque os custos dos serviços individuais dispararam nos últimos anos. A comissão de manutenção de conta à ordem, que ninguém consegue determinar que custo tem, é quase igual nos seis bancos analisados, variando entre 61,78 euros na CGD e 65,32 no Santander. O custo da disponibilização de cartão de crédito, designada de anuidade, já custa 24,96 euros no Santander (o de menor custo), o que compara com 10,40 euros do Novo Banco.

Curiosamente, o custo de um cartão de débito é particamente semelhante ao de crédito, à excepção do Montepio, onde o mais básico custa quase 30 euros. E está muito próximo dos 20 euros nos restantes. Nas transferências bancárias, um serviço cada vez mais utilizado pelos clientes, as maiores disparidades verificam-se nas realizadas através do telefone com operador. Ainda assim, uma transferência interbancária (para conta domiciliada num banco diferente), feita online, ou em linha como passou a ser designada, já custa 1,77 euros no BCP, e nos restantes bancos, à excepção da CGD, está acima de um euro. O PÚBLICO limitou-se a comparar alguns serviços, excluindo operações aos balcões que são actualmente as mais caras.

O Banco de Portugal admite alargar o comparador a outros serviços. De referir que as comissões cobradas num conjunto de produtos de crédito, como consumo e habitação, apenas estão disponíveis nos preçários.

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