Coreia do Norte mantém programa nuclear e continua a violar sanções da ONU

Pyongyang ainda enriquece urânio com fins militares e aposta no fabrico de mísseis, conclui um relatório agora divulgado, entregue ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Pompeo aponta o dedo à Rússia, acusando Moscovo de ser conivente.

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Secretário de Estado dos EUA e o ministro dos Negócios Estrangeiros norte-coreano cumprimentam-se no encontro de diplomatas em Singapura Reuters/EDGAR SU

A Coreia do Norte não suspendeu o seu programa nuclear nem o de mísseis como exigiu a ONU, conclui um relatório encomendado pelo Conselho de Segurança daquela entidade.

O documento confidencial, cujas principais conclusões foram agora divulgadas, dando como confirmadas as suspeitas levantadas no início da semana pelo diário norte-americano The Washington Post, chegou às mãos do principal órgão executivo das Nações Unidas na sexta-feira, escreve a televisão pública britânica, BBC.

O relatório diz ainda que o país asiático tem procurado vender armas convencionais ao estrangeiro e que tem furado as sanções internacionais às importações através de transferências de carvão e de produtos relacionados com o petróleo de navio para navio, prática que é altamente ilegal, desde o começo do ano. A exportação de material militar tem tido como principais destinos a Líbia, o Iémen e o Sudão.

Segundo a televisão americana CNN, que a ele teve acesso também na sexta-feira, o documento resulta do trabalho de peritos independentes encarregues de reportar de seis em seis meses ao Conselho de Segurança as suas conclusões sobre o cumprimento ou eventual incumprimento pela Coreia do Norte das sanções internacionais a que foi sujeita por este órgão das Nações Unidas

O mesmo relatório garante ainda que o país liderado por Kim Jong-un tem procurado desafiar estas sanções recorrendo também aos seus diplomatas e outros representantes que tem no estrangeiro.

No começo da semana, e com base em imagens de satélite e outras informações, o Post defendia que havia provas de que Pyongyang continuava a fabricar mísseis, apesar das conversações encetadas pela Administração Trump que levaram ao encontro dos chefes de Governo dos dois países e àquilo a que a Casa Branca se refere como um acordo histórico.

Donald Trump e Kim Jong-un reuniram-se em Singapura em Junho e acordaram em trabalhar no sentido da desnuclearização da península coreana, mas sem chegarem a qualquer compromisso em torno de medidas concretas.

Recorde-se que a Coreia do Norte está hoje sob fortes sanções internacionais devido ao programa nuclear e aos testes com mísseis que tem vindo a fazer. Sanções de índole financeira e diplomática que, a avaliar pelas práticas de Pyongyang já enunciadas, são ineficazes, concluem os autores do relatório agora entregue ao Conselho de Segurança da ONU.

Mike Pompeo, o secretário de Estado norte-americano, está entre os que acreditam que a desnuclearização da península coreana é possível, mas que é preciso continuar a pressionar o Governo de Kim Jong-un para que dê passos concretos em direcção ao desmantelamento dos seus programas nuclear e de mísseis.

Não haverá resultados imediatos

Falando aos jornalistas em Singapura, Pompeo  garantiu que o “trabalho já começou”, mas que ninguém está à espera de resultados imediatos. E aproveitou para pôr a bola do lado da Rússia, acusando Moscovo de estar a ajudar Pyongyang a desrespeitar as sanções do Conselho de Segurança ao autorizar acordos entre empresas dos dois países e ao conceder vistos de trabalho a norte-coreanos.

“Quero lembrar a todas as nações que apoiaram estas resoluções [as sanções financeiras e diplomáticas] que este é um assunto sério e algo que vamos discutir com Moscovo”, disse o chefe da diplomacia americana à margem de um encontro de diplomatas do Sudeste Asiático em Singapura, aqui citado pela BBC. “Estamos à espera que os russos e todos os outros países cumpram as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas e façam valer as sanções.”

Troca de cartas

De acordo com a agência Reuters, Pompeu levou a Singapura uma carta de Trump dirigida Kim. A missiva foi entregue ao ministro dos Negócios Estrangeiros de Pyongyang, Ri Yong Ho, pelo embaixador dos EUA nas Filipinas, Sung Kim, que teve um papel fundamental no encontro de Junho. A carta, diz o Departamento de Estado, é uma resposta a outra enviada antes por Kim.

"Devemos falar de novo em breve", disse o chefe da diplomacia da Casa Branca ao seu homólogo. "Concordo, há muitas conversações produtivas que devemos ter", respondeu Ri, entre apertos de mão e sorrisos.

Também na sexta-feira, avança a CNN, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou sanções a um banco russo depois de terem sido dadas como provadas transacções com um banco norte-coreano. Daí que, apesar dos sorrisos de circunstância trocados entre Pompeu e Ri, este tenha também descrito as acções dos EUA como "alarmantes": "O que é alarmante são as insistentes medidas no interior dos EUA para regressar ao passado, longe do que serão as intenções do seu líder".

Até aqui a Coreia do Norte ainda não contestou as conclusões do relatório.

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