BCE e Itália agitam mercados de dívida da zona euro

Portugal é um dos países afectados, com a taxa de juro a 10 anos a aproximar-se dos 2%.

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Peter Praet, membro do conselho executivo do BCE, com Mario Draghi Reuters/Ralph Orlowski

Com os mercados ainda a reagir negativamente à entrada em funções do novo governo italiano, o Banco Central Europeu (BCE) deu esta quarta-feira novos motivos de ansiedade aos investidores, conduzindo a um dia de subidas de taxas de juro da dívida pública de vários países europeus, incluindo Portugal.

De acordo com os dados publicados pela Reuters, a taxa de juro da dívida a 10 anos italiana voltou a ser a mais penalizada, subindo 0,148 pontos percentuais, para 2,931%, agravando uma tendência que se faz sentir há várias semanas. Durante o último mês, as taxas italianas subiram mais de um ponto percentual, distanciando-se significativamente das taxas de outros países como Portugal.

Esta quarta-feira, contudo, o efeito negativo sentiu-se na generalidade dos países, tendo Portugal visto as suas taxas de juro a 10 anos subir 0,116 pontos percentuais para 1,934%. Mesmo na Alemanha, as taxas de juro subiram, de 0,37% para 0,46%.

De acordo com diversos analistas, a subida generalizada de taxas desta quarta-feira é em larga medida motivada pelas declarações feitas no dia anterior pelo membro do conselho executivo do BCE Peter Praet. Este responsável afirmou que o banco central está cada vez mais confiante que a inflação está a caminhar para o objectivo pretendido, revelando que, na reunião agendada para a próxima semana, o conselho de governadores do BCE irá discutir se e como irá terminar o seu programa de compras de dívida pública.

Peter Praet, que sempre foi visto como um dos principais defensores dentro do BCE da política de estímulos posta em prática pela autoridade monetária, deu agora, de uma forma que surpreendeu muitos investidores, um dos sinais mais claros de que estará para breve o anúncio de Draghi sobre a forma como o banco abandonará a sua política expansionista.

Para o mercado de dívida pública, a confirmação do início do processo de saída do BCE do lado dos compradores, conduz a uma descida do valor das obrigações, a que corresponde uma subida das taxas de juro implícitas praticadas no mercado.

Para os países com elevadas dívidas públicas, como Portugal, esta tendência de subida das taxas de juro penaliza as finanças públicas, que beneficiaram recentemente de uma descida dos encargos com a dívida, e constitui um dos principais riscos para os próximos anos.

Nas últimas semanas, a incerteza em relação à situação política italiana e à forma como irão evoluir as finanças públicas do país tem sido também motivo para uma subida das taxas, não só em Itália, como nos países que são vistos como mais expostos num cenário de crise financeira grave na zona euro.

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