Como Costa pôs Centeno no pódio do PS

Só falta o anúncio de que Centeno volta a preparar o programa económico e estará disponível para ficar nas Finanças depois de 2019. A dúvida é se, com Centeno na equipa, o pós-2019 será também o “pós-geringonça”.

1. Mário Centeno não foi este sábado ao congresso do PS, mas nem precisou de ir à batalha para a ganhar. Enquanto no palco se sucediam os nomes que um dia podem suceder a António Costa, o líder do partido fez passar nos ecrãs do congresso, hora a hora, uma série de vídeos com uma mensagem única de elogio ao seu ministro das Finanças.

O ritual implicava sempre baixar as luzes e aumentar o som. No primeiro da tarde aparecia Maria Luís Albuquerque a garantir que o OE não era cumprível, interrompida pelas exclamações do inesquecível Vasco Santana, no filme Canção de Lisboa. Era como se a ex-ministra dissesse aos socialistas “esternocleido- mastóideo” e eles se rissem dela à gargalhada. E os socialistas riram-se. Num outro vídeo, passou Costa a celebrar a saída do procedimento por défice excessivo com um aviso à esquerda: “Não podemos reverter o caminho, só assim garantimos que estes resultados são sustentáveis no futuro.” E os socialistas aplaudiram.

Num outro vídeo, foi o próprio Centeno quem falou, em voz off, falando de uma viragem de políticas, lembrando os resultados, apontando o caminho. “Parabéns, Centeno!”, dizia o vídeo. Só faltava os socialistas apagarem as velas.

A mensagem do PS agora é esta: também eles fazem contas certas. Passou pelos vídeos, passou pelo discurso de Costa, até passou pelo discurso de Manuel Alegre. Para fechar, só falta o anúncio de que Centeno volta a preparar o programa económico e estará disponível para ficar nas Finanças depois de 2019. A dúvida é se, com Centeno na equipa, o pós-2019 será também o “pós-geringonça”. 

2. O tema mais abordado no congresso do PS foi o do futuro da aliança. E uma vez mais a mensagem mais esclarecedora não foi dita no palco da Batalha. Num programa (ironicamente) chamado Bloco Central, na TSF, Augusto Santos Silva explicou que “quem vai decidir” se ela fica para lá de 2019 não é o PS, mas o PCP e BE. 

A razão é simples: em 2015 foi possível chegar a um entendimento pela negativa, em 2019 será preciso “densificar o acordo”. Porque o PS vencerá as eleições, o pretexto já não será tirar a direita do poder, nem apenas acabar com a austeridade. Será preciso construir um consenso em áreas como a Europa, a Segurança Social, a legislação laboral, as políticas sociais. Não há, portanto, qualquer dúvida de que Costa irá procurar os actuais parceiros. A dúvida é se eles estão dispostos a ceder no que não cederam até aqui.

Já no palco do congresso, a conversa foi estimulante, mas o resultado foi indefinido: o discurso à esquerda de Pedro Nuno Santos foi muito bem recebido, mas até Francisco Assis conseguiu receber aplausos fazendo a antítese do líder da ala esquerda.  Se há dois anos havia um mar de elogios sobre a “geringonça” e nenhum crítico subiu ao palco, agora sucederam-se os que pediam um recentramento e os que apoiavam um novo acordo. Uma coisa é certa: com tantas opiniões contrárias, Costa ganhou a palavra final. Sempre a teria. 

3. Do dia de ontem sobrou só uma certeza. Quando acabar a era António Costa, teremos de nos preparar para uma outra com mais sílabas: prepare-se para o pedro-nunismo, porque ele chegará um dia. Logo se vê em que circunstâncias. 

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