Efacec reforça liderança mundial na mobilidade eléctrica

A Efacec regressou aos lucros em 2016 e estreia o ano com a inauguração de uma fábrica que lhe permitirá triplicar a produção de carregadores de alta potência para veículos eléctricos.

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Nelson Garrido
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Nelson Garrido

A Efacec inaugurou esta segunda-feira um investimento na produção de carregadores para carros eléctricos de 2.5 milhões de euros, mas não terá sido pela dimensão da nova fábrica, na Maia, nem pelo esforço financeiro da empresa num dos seus segmentos mais avançados que a cerimónia atraiu dezenas de personalidades da banca, da política, do mundo empresarial e da construção automóvel europeia. O interesse na inauguração explicava-se mais pela reaparição de Isabel dos Santos, a principal accionista da Efacec, em público depois da purga de que foi alvo em Angola e também pelo facto de a empresa se preparar para consolidar a sua liderança mundial na área da mobilidade eléctrica. Num cenário marcado por fortes medidas de segurança e de severas restrições ao acesso a Isabel dos Santos, a empresária angolana elogiou as equipas da Efacec, sublinhou que Portugal é uma economia que está muito para lá da agricultura ou do turismo e deixou no ar um elogio raro nestes dias em que as relações com Angola estão longe de ser brilhantes: “O espírito de descoberta sempre fez parte do DNA português”, afirmou.

Isabel dos Santos fez um discurso optimista, os dirigentes da Efacec que intervieram seguiram o tom e o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral reforçou-o ao afirmar que a empresa é “um exemplo do que é hoje a indústria portuguesa”, que se distingue “pela inovação e pela capacidade da engenharia”. É de resto essa incorporação de tecnologia que explica um aparente paradoxo: um investimento de médio porte (2.5 milhões de euros) vai permitir aumentar a produção de carregadores de grande potência de 1000 até 3800, o volume de negócios de 26 para 100 milhões de euros até 2025 e o número de postos de trabalho de 112 para 190 ainda este ano – e para 340 em 2025, de acordo com as expectativas.

Toda esta ambição tem como pressuposto a ideia de que a Efacec “é uma referência do melhor que se faz em engenharia”, na avaliação de Ângelo Ramalho, CEO da empresa. A Efacec tem os seus próprios centros de investigação, mas protagoniza também um dos melhores casos de ligação entre as empresas e as universidades. “Há 25 anos que a Efacec trabalha connosco”, diz José Manuel Mendonça, presidente do INESC TEC, um centro de engenharia da órbita da Universidade do Porto. Foi essa ligação que a levou a desenvolver há dez anos competências próprias na área da mobilidade eléctrica. E a tornar-se uma referência mundial na produção de carregadores rápidos para veículos automóveis, com potência de carga na ordem dos 350Kwh.

Se nos carregamentos caseiros uma bateria com autonomia para 400 quilómetros demora oito horas a carregar e se há soluções, como a da Tesla, que reduz o tempo para uma hora, “os carregadores da Efacec conseguem esses resultados em menos de 15 minutos”, diz João Peças Lopes, investigador do INESC TEC. Para se conseguir este desempenho, é necessário dispor de condições tecnológicas exigentes. É preciso controlar o calor que o carregamento rápido gera, é necessário garantir uma potência de energia constante, é obrigatório dispor de materiais com condições de elevada resistência mecânica. “Fomos os primeiros a apostar nesta tecnologia e hoje há muito poucas empresas no mundo capazes de produzir carregadores rápidos e ultra-rápidos”, afirma Nuno Silva, o director da área da tecnologia da Efacec.

“Estamos no centro da revolução da mobilidade eléctrica”, afirma Isabel dos Santos. A aposta na sustentabilidade está a levar à descarbonização da economia e “em 2050 as bombas de gasolina serão o mesmo que hoje são as cassetes”, acredita a empresária. Nas mudanças que se anunciam, a rapidez do carregamento das baterias é uma questão essencial. E a Efacec garante ter um lugar nestes desafios. Para lá de integrar o consórcio europeu que vai instalar 400 estações de carga de grande potência nas principais auto-estradas europeias, a empresa foi igualmente seleccionada para um projecto congénere nos Estados Unidos que implica um investimento de 1,6 mil milhões de euros. E tem em curso parcerias com construtores como a Porsche ou a BMW. A área da mobilidade representa apenas 6% do volume de negócios da Efacec. Mas a curto prazo subirá para 15%.

Isabel dos Santos, que através da Winterfell controla 66% da sociedade desde 2015 (os outros accionistas são a Têxtil Manuel Gonçalves e o Grupo José de Mello), diz que a aposta ontem anunciada é a prova de que a “visão” que a empresa desenhou há três anos está cumprida. A empresária investiu “numa altura em que muitos não acreditavam na economia portuguesa”, sublinhou Caldeira Cabral e depois de transformar uma perda de 20 milhões em 2015 num resultado positivo de quatro milhões em 2016, depois de várias séries de despedimentos e de reestruturações, está em condições de investir. A cerimónia pomposa desta segunda-feira é uma indicação que a Efacec está de volta.

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