Draghi garante que compras de dívida “não vão parar subitamente”

Larga maioria dos membros do conselho de governadores do BCE decidiu manter fim do programa de compras de activos em aberto, sinalizando novo prolongamento para lá de Setembro de 2018.

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Mario Draghi esta quinta-feira em Frankfurt LUSA/ARMANDO BABANI

Apesar de passar de compras de activos de 720 mil milhões de euros em 2017 para um cenário em que só se compromete - para já - com mais 270 mil milhões de novas compras durante os primeiros nove meses de 2018, o presidente do Banco Central Europeu (BCE) fez tudo, na conferência de imprensa que se seguiu à decisão, para conseguir tranquilizar aqueles que temem um desaparecimento rápido demais da política expansionista. E a julgar pelas primeiras reacções dos mercados, parece tê-lo conseguido.

Mário Draghi falou esta quinta-feira aos jornalistas depois de ter sido anunciado que o programa de compra de activos (principalmente dívida pública) seria prolongado para lá de Dezembro de 2017 durante mais noves meses, até Setembro de 2018, mas que o montante de compras mensais passaria dos actuais 60 mil milhões de euros para 30 mil milhões de euros. Confirmou-se assim a intenção da autoridade monetária de começar a retirar os estímulos que tem vindo a lançar na economia.

À partida, com a retirada de estímulos vem o risco de reacções negativas dos mercados e de efeitos negativos na retoma da economia. Para tentar evitar isso, a medida foi acompanhada por diversos sinais e garantias que apontam para que o BCE continue este processo de retirada de forma muito cuidadosa, com passos moderados e progressivos.

Mario Draghi começou por explicar que a decisão de diminuir o volume mensal de compras acontece porque se está a assistir na zona euro a melhorias nas condições económicas, com recuperação do consumo e do investimento privado. No entanto, assinalou, ainda não se vêem os resultados desejados na inflação, nomeadamente porque os aumentos salariais nominais não arrancam. Por isso, o presidente do BCE disse que “as condições financeiras favoráveis ainda são necessárias”.

Como é que isso será garantido? Draghi apresentou três vias pelas quais o BCE vai garantir o estímulo necessário. Em primeiro lugar, pelo facto de se continuarem a realizar compras de activos por mais nove meses. É certo que o valor mensal é menor, mas as compras continuam a ser realizadas.

Em segundo lugar, lembrou o líder do banco central, o BCE mantém o compromisso de continuar a reinvestir em títulos o dinheiro que recebe de volta quando os activos que comprou atingem a maturidade. Os responsáveis do BCE não deram números exactos do volume de compras realizado por esta via, mas Vítor Constâncio, vice-presidente do BCE também presente na conferência de imprensa, estimou que possa rondar os 10 mil milhões de euros mensais.

Por fim, o BCE reiterou a garantia de que as suas taxas de juro de referência irão continuar ao nível mínimo recorde por bastante mais tempo. Uma subida de taxas apenas acontecerá “bem depois” de concluído o programa de compra de activos. Não se sabe ao certo quando é que isso será – e Mario Draghi preferiu não esclarecer – mas a aposta é que pode acontecer apenas já no final de 2019 ou mesmo 2020.

Esta convicção – a de que a subida de taxas ainda demora – saiu reforçada pelo facto de Mario Draghi ter garantido, nas respostas aos jornalistas, que o programa de compra de dívida “não vai parar subitamente”. Isto é, quando se chegar a Setembro, a nova data até à qual o BCE se compromete a comprar 30 mil milhões de euros mensais, o programa deve ser prolongado, possivelmente com um nível de compras inferiores. Isso atira o eventual início de subida de taxas para mais longe, já que apenas deverá acontecer “bem após” o fim do programa.

A não definição, para já, de qual a data do fim do programa de compras de activos foi, reconheceu Draghi, uma das questões onde não foi possível atingir um consenso entre os membros do conselho de governadores do BCE. Uma “larga maioria” preferiu manter o fim do programa em aberto, mas outros membros, menos entusiastas dos estímulos monetários em vigor, queriam um calendário completo para o “regresso à normalidade”.

A vitória da facção mais adepta da política expansionista, evidente nas palavras de Draghi, e o facto da redução do volume mensal de compras ter ficado dentro do que eram as expectativas, conduziu nos momentos a seguir à conferência de Mario Draghi a uma reacção positiva dos mercados, com uma ligeira depreciação do euro face ao dólar e uma descida das taxas de juro da dívida.

No caso da dívida portuguesa, a taxa de juro da dívida a 10 anos estava, às 15h, nos 2,266%, uma descida de 0,034 pontos face ao dia anterior.

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