BCE entre dois fantasmas vindos do passado

Como dois acontecimentos no século XX influenciam as decisões tomadas agora em Frankfurt.

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Reuters/KAI PFAFFENBACH

Hiperinflação dos anos 20 na Alemanha ou regresso à recessão em 1937 nos Estados Unidos. Se estes dois cenários de crise vividos no século XX estão há muito resolvidos e ultrapassados, os fantasmas da sua possível repetição em 2018 estão agora bem presentes em Frankfurt, desempenhando um papel importante na decisão que o Banco Central Europeu tem de tomar esta quinta-feira.

A hiperinflação registada na República de Weimar na Alemanha - quando as notas de marcos eram usadas para fazer lume e os empregados dos restaurantes tinham de anunciar novos preços de meia em meia hora, é o acontecimento que condiciona as preferências alemãs relativamente ao que deve ser a política do BCE. E no actual contexto, prolongar por muito mais tempo uma política monetária ultra-expansionista é visto, por grande parte da opinião publica do país e também pelos responsáveis do Bundesbank, como uma ameaça crescente para o clima de inflação baixa.

No pólo oposto, a forma como a economia mundial voltou a ter uma recaída em 1937 - pelo facto de, nos EUA, Reserva Federal e Governo terem decidido retirar cedo demais os estímulos monetários que tinham sido introduzidos durante a Grande Depressão – é vista como um alerta de que é preciso ter muito cuidado na hora de começar a reduzir as compras de activos e de aumentar as taxas de juro.

O debate dentro do BCE é feito precisamente entre uma facção, liderada pelos representantes alemães, que receia mais a inflação e outra, da qual fará parte do presidente Mario Draghi, que aquilo que teme mais é uma recaída da economia da zona euro e o regresso do risco de deflação. Até agora, este segundo grupo tem estado em maioria, mas existe a expectativa que, com a economia a dar sinais de maior vigor, tenha chegado a hora do primeiro grupo ter também as suas vitórias.

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