“Eu é que sou a mãe, mas tirar um curso também é uma possibilidade para mim”

Marília Lopes, 38 anos, é mãe de Maria João Carmo, de 17. Conta, na primeira pessoa, como o passo da filha, a primeira da família a seguir os estudos no ensino superior, pode ser o pretexto para também ela ir para a universidade.

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Marília Lopes, de 38 anos, é mãe de Maria João Carmo, de 17 Adriano Miranda

Nunca se pôs em causa a minha filha ir para a faculdade. Foi uma transição natural. Connosco [os pais] é que foi diferente. Eu fiquei sem o meu pai aos 12 anos. Fiz o 9.º ano e só passado um tempo é que fui fazer o 12.º, à noite. Depois disso tirei o curso de estética e a vida foi diferente. Casei aos 19 anos e não se proporcionou.

A vida foi complicada a dada altura. Eu sou a mais nova de nove irmãos. Nenhum deles foi a faculdade. Uma família assim grande era complicada. E somos de uma freguesia, aqui perto de Guimarães, Tabuadelo.

Mas ir para a faculdade era uma coisa que queria muito. Às vezes, ainda falo nisso. Eu sei que eu é que sou a mãe, mas tirar um curso também é uma possibilidade para mim. Ainda há dias pensei nisso. Eu gostava de tirar Psicologia.

O meu marido não estudou depois do 9.º ano. Ele é o mais velho de seis irmãos e foram todos trabalhar. Se já era complicado por sermos de famílias grandes, acresce que fomos criados em aldeias. O meu marido [trabalha como comercial numa tinturaria] é de Gémeos, uma povoação aqui de Guimarães.

Agora ter uma filha nisto é muito bom. Ainda vou com ela. Nunca se falou no ela não ir. Estivemos a ponderar foi o curso porque ela estava um bocadinho indecisa, entre Direito, Criminologia e Relações Internacionais. Depois optou pelo Direito, no Porto, por ser um curso mais versátil.

O pai queria que ela ficasse aqui no Minho, porque assim ia e vinha todos os dias. Mas eu acho que lhe vai fazer bem. Acho que faz falta eles voarem e perceberem como é a vida sozinhos. É bom para se desenrascarem. Ela é a primeira a sair do ninho.

Eu era esteticista. Agora, há cinco anos que estou numa empresa onde sou coordenadora da zona Norte, desde Trás-os-Montes a Aveiro. O curso que queria tirar, de Psicologia, tem um bocadinho a ver com isto. Porque nós falamos muito com as pessoas.

Quando eu tinha o gabinete, as pessoas vinham, falavam, contavam os problemas. Tem um lado que se aproxima da psicologia e que eu gosto.

A nível profissional eu estou bem. E não quero ser psicóloga. Gostava de tirar o curso para mim, era uma realização pessoal. Agora se calhar, aos 38 ou aos 40 anos, vá eu também.

Depoimento construído a partir de uma entrevista

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