Governo contrata horas de voo extras para combate a incêndios

Das 71 aeronaves que foram estando disponíveis neste mês de Agosto para combate a fogos, só sete são públicas. Ajuda internacional representou um terço da capacidade aérea de combate, no total.

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Nas últimas semanas a gestão dos meios aéreos motivou críticas dirigidas à Protecção Civil Daniel Rocha
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Nas últimas semanas a gestão dos meios aéreos motivou críticas dirigidas à Protecção Civil ADRIANO MIRANDA

Perante a vaga de incêndios em Portugal, o Governo decidiu aumentar o número de horas contratualizadas com as empresas privadas de aluguer de meios aéreos em mais cinco milhões de euros. Mas também fez com que o dispositivo de combate e vigilância a incêndios tenha ganho uma dimensão inédita. No total, nestes dois últimos meses, já operaram em solo português 70 aeronaves. Cerca de um terço deste dispositivo chegou de Espanha, quando solicitado.

Para a época mais grave dos incêndios, a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) tinha previsto um dispositivo de 48 aeronaves, sete públicas (seis de combate ao fogo e um helicóptero de coordenação da Força Aérea) e 41 privadas, alugadas - contingente que tem sido reforçado de forma inédita pelo apoio estrangeiro. "No decurso da actual campanha de combate aos incêndios rurais que têm assolado o país, Portugal tem beneficiado da solidariedade internacional sob a forma de auxílio, também, em meios aéreos de combate", diz a ANPC, que contabiliza, no total, um conjunto de 23 aeronaves estrangeiras que já combateram incêndios florestais por cá. A frota espanhola é a maior neste conjunto que tem estado disponível para auxili.

A ajuda que tem chegado de Espanha, no quadro do mecanismo europeu de Protecção Civil e de acordos bilaterais, tem ultrapassado números de anos anteriores. Desde 1 de Julho até ao dia 21 de Agosto, o país vizinho esteve "envolvido no dispositivo de combate aéreo" português com dois aviões médios de carga (que estiveram em Portugal entre 13 e 20 de Agosto), "dois aviões médios anfíbios, seis aviões médios anfíbios, quatro helicópteros ligeiros, quatro helicópteros médios e dois helicópteros pesados". Estes meios, respondeu a ANPC ao PÚBLICO têm sido "empenhados a partir de Espanha", não de forma simultânea, mas sempre que se justifique. A adjunta de operações nacional da ANPC, Patrícia Gaspar, informou nesta quarta-feira que "o contingente terrestre espanhol saiu" de Portugal neste dia. A última equipa da Unidade Militar de Emergência regressou a Espanha e "os meios aéreos ontem [terça-feira] também já não operaram", acrescentou.

Além deste apoio em força dos espanhóis, há ainda ajuda internacional de um avião de Marrocos e de dois helicópteros da Suíça (mais um de reserva).

Contudo, a violência dos incêndios levou também a Protecção Civil a decidir contratar mais horas de voo para os meios aéreos portugueses que tem alugados para combater os incêndios. "Até à presente data, não houve reforço de verbas para o aluguer de novos meios aéreos a privados. Houve, sim, a contratação adicional de horas de voo, no montante de 4,890 milhões de euros, associados a contratos já em execução", respondeu a ANPC a perguntas enviadas pelo PÚBLICO sobre o dispositivo aéreo que está operacional neste momento.

No último mês registaram-se acidentes com dois helicópteros da empresa Everjets, que aluga meios ao Estado, num deles, em Castro Daire, morreu o piloto português. Estes dois helicópteros foram entretanto substituídos.

Nas últimas semanas, em que os incêndios atingiram proporções graves, a Protecção Civil foi alvo de críticas pela gestão dos meios aéreos por vários presidentes de câmara, mas também pelo deputado do PSD Duarte Marques que acusou a ANPC de "mentir" sobre a alocação de aviões Canadair e de helicópteros ao incêndio em Mação,da semana passada. A ANPC justificou a utilização de aeronaves com uma estratégia de gestão dos meios que passa por não ter os aviões e helicópteros todos em simultâneo a atacar um incêndio, mas a entrarem e saírem do teatro de operações à vez, para que não saiam todos ao mesmo tempo. Isto, porque, admitiu Patrícia Gaspar, os aviões de combate demoram algum tempo a abastecer-se de combustível.

No Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) estão registados três locais para os Canadair (os aviões pesados) se abastecerem - Aveiro, Lisboa e Beja. Contudo, nas respostas ao PÚBLICO, é dito que os aviões pesados têm a possibilidade de se abastecer em Seia, em "qualquer base da Força Aérea" - no DECIF estão registadas quatro bases - e ainda nos aeródromos de Cascais e aeroportos de Faro e Porto. De acordo com o DECIF há ainda 14 centros de meios aéreos que permitem o abastecimento de helicópteros Kamov e vários para os helicópteros ligeiros e médios.

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