Já estão online os primeiros dados dos Panama Papers

Consórcio Internacional de Jornalistas organizou informação retirada dos ficheiros da Mossack Fonseca e publicou base de dados.

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Os ficheiros da Mossack Fonseca, sedeada no Panamá, envolvem informação sobre contas em dezenas de paraísos fiscais RODRIGO ARANGUA/AFP

Está entreaberta a porta dos Panama Papers. Depois das primeiras notícias, o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI) publicou nesta segunda-feira uma base de dados com informação sobre 320 mil sociedades offshore que aparecem nos mais de 11,5 milhões de documentos entregues ao consórcio.

As informações – que podem ser consultadas no site do consórcio ou mais em baixo nesta página – incluem nomes de sociedades, fundações e fundos sedeados em 21 paraísos fiscais, envolvendo pessoas em mais de 200 países e territórios, ao longo de 39 anos (1977-2015). É possível pesquisar as informações por país, ver onde uma entidade foi registada, em que nome está, identificar o país a que está ligada e ver qual é a morada do offshore. Em relação a Portugal são divulgadas referências sobre 246 offshores, mas há mais entidades e beneficiários que surgem na pesquisa associados a outros países.

A plataforma não é um repositório dos ficheiros originais, mas uma base organizada das sociedades offshore referidas nos documentos. Como o consórcio já tinha anunciado, ficam de fora, por exemplo, o registo de contas e operações financeiras, emails e correspondência que aparecem nos ficheiros internos da sociedade de advogados panamiana Mossack Fonseca.

“O CIJI publica a informação em nome do interesse público”, escreve o consórcio, explicando, porém, que haverá casos em que os nomes noticiados nas últimas semanas não aparecem na base de dados, nomeadamente porque a informação contida em emails, cartas e notas internas “não é facilmente extraída de forma sistemática”.

Numa entrevista ao PÚBLICO, Frederik Obermaier, um dos jornalistas do Süddeutsche Zeitung, o jornal alemão a quem foi entregue a imensidão de documentos dos Panama Papers, explicou que os dados agora divulgados servem antes de mais “para fundamentar uma história, ou mostrar uma prova de algo que serviu para fazer determinado trabalho”.

No seu site, o consórcio também disponibiliza a base de dados para download em ficheiros de texto (em formato CSV).

publicação das notícias dos Panama Papers começou a 3 de Abril simultaneamente nos 107 meios de comunicação de 77 países associados ao CIJI. As ondas de choque das revelações foram imediatas, com o primeiro-ministro finlandês, Sigmundur David Gunnlaugsson, a demitir-se dias depois de o seu nome aparecer ligado a uma offshore. E desde então não parou de crescer a pressão pública sobre os líderes mundiais, para que apertem a legislação relacionada com os paraísos fiscais.

O consórcio de jornalistas apresentou este caso como “uma das maiores fugas de informação de sempre”, desenvolvida a partir de 2,6 terabytes de informação interna da Mossack Fonseca. As primeiras revelações tiveram amplo eco internacional, desde logo, por ali aparecerem dezenas de chefes de Estados, pessoas próximas, ministros e proeminentes empresários.

A história dos Panama Papers começa mais de um ano antes da divulgação das primeiras notícias, quando uma fonte anónima – que se apresentou pelo nome de código “John Doe” – contactou o Süddeutsche Zeitung disponibilizando-se a passar os primeiros ficheiros de informação.

O jornal começa a investigar os dados e, perante um tão grande manancial de informação, contacta do CIJI para partilhar os dados. A investigação passa a partir daí a contar com a colaboração do consórcio e é alargada à rede de jornalistas a ele associados.

Em Portugal participam no consórcio os jornalistas Micael Pereira (Expresso) e Rui Araújo (TVI), que têm publicado os trabalhos em conjunto.

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