Universidades reclamam papel central na Europa para os próximos cinco anos

Novo programa comunitário privilegia “especialização inteligente” das regiões e consórcio criado no Norte do país pretende ser “exemplar” na ligação entre ciência e desenvolvimento.

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A Universidade do Minho é uma das que integra o consórcio UNorte.pt HUGO DELGADO / PUBLICO

Se a Europa quer que a sua estratégia nos próximos cinco anos, assente na ciência e na inovação, seja bem-sucedida, tem que dar um papel central às universidades. Essa é a reivindicação feita pelas universidades do Norte de Portugal, numa conferência que aconteceu em Braga nesta segunda-feira, e o Governo concorda com essa ideia. O consórcio recentemente estabelecido entre as instituições de ensino superior da região pode ser “exemplar” dessa ligação entre investigação e desenvolvimento, acreditam os seus responsáveis.

O ensino superior é “a coluna vertebral” da inovação feita na União Europeia (UE), defendeu o reitor da Universidade do Minho (UM), António Cunha, na conferência sobre o papel das universidades de investigação na estratégia Europa 2020. Apesar de reconhecer que há investigação científica feita em instituições privadas e empresas, aquele responsável reclamou a centralidade das universidades no sector.

António Cunha insta os políticos “a reconhecerem esse facto” e as universidades “a investirem” nesse sentido. “As novas formas de ensino e aprendizagem têm que estar em ligação com a investigação. Sem isso, as universidades talvez não sobrevivam”, antecipa o reitor da UM.

No novo quadro comunitário assumem especial relevo as chamadas estratégias de especialização inteligente. António Cunha valorizou, nesse sentido, o consórcio UNorte.pt, estabelecido recentemente pelas três universidades da região (Minho, Porto e Trás-os-Montes e Alto Douro), em ligação com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte: “O que estamos a fazer no Norte de Portugal pode ser exemplar quanto à forma como as universidades podem promover o desenvolvimento.”

Para o reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, a palavra-chave para os próximos cinco anos é “cooperação”, tanto a nível nacional, como internacional, seja entre as universidades ou com empresas e outros agentes da sociedade. “Não nego que haja competição, mas temos que encontrar um terreno comum de entendimento.”

A secretária de Estado da Ciência, Leonor Parreira, concorda com a ideia defendida pelos reitores das universidades do Norte: “O ecossistema natural para a ciência são as universidades.” A governante foi à conferência da UM assinalar o “progresso assinalável” que tem sido feito pelas instituições científicas nacionais e, em particular, pelas universidades na captação de financiamento europeu para a investigação.

Em 2012 e 2013, dois anos em que Portugal esteve sob o programa de austeridade, os cientistas nacionais conseguiram captar quase metade dos 564 milhões de euros conseguidos em todos os seis anos do último programa quadro europeu. Os dados já disponíveis relativos a 2014, mostram que Portugal já conseguiu ter 245 projectos aprovados, que valem mais de 116 milhões de euros. “O potencial de competir está lá”, valoriza a secretária de Estado.

Alerta para cortes no orçamento europeu
Na conferência da UM esteve presente Helena Nazaré, a portuguesa que preside à Associação Europeia de Universidades (EUA, na sigla internacional), que reúne 850 instituições de ensino superior. Na sua intervenção, a professora da Universidade de Aveiro deixou um aviso em relação às consequências da proposta de corte no orçamento europeu destinado à investigação científica feita, em Janeiro, pelo Comissão Europeia liderada por Jean-Claude Juncker.

De acordo com as contas da EUA, há 2,7 mil milhões de euros que estavam destinados à ciência no âmbito do programa Horizonte 2020, que a comissão quer transferir para o Fundo Europeu de Investimentos Estratégicos (EFSI).

“Isto tem passado um pouco despercebido, com a crise na Ucrânia e a situação na Grécia, mas temos que estar atentos”, alertou Helena Nazaré. “É um sinal amarelo, ao qual devemos ficar atentos”, acrescentou a presidente da EUA, que tem mantido contacto com vários deputados europeus para evitar esta mudança.

A associação de universidades tinha emitido um comunicado, no final da semana passada, onde falava em “inversão” na política europeia para a investigação científica, que irá “prejudicar a competitividade” da Europa.

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