Crise no BES leva clientes a depositar 200 milhões na CGD num só dia

Caixa Geral de Depósitos conseguiu um valor recorde de depósitos no início desta semana.

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Gonçalo Português

Foi nesta segunda-feira, 4 de Agosto, que muito portugueses, na maioria antigos clientes do Banco Espírito Santo (BES), se dirigiram aos balcões do Caixa para guardar as suas poupanças. O PÚBLICO sabe que o nível de depósitos da Caixa foi registando um volume crescente ao longo do mês de Julho, à medida que ia aumentando a instabilidade à volta do banco e do grupo Espírito Santo. O pico aconteceu esta segunda-feira, num dia em que 200 milhões de euros de clientes particulares foram depositados na instituição liderada por José de Matos.

A Caixa, que é um banco do Estado, é vista por muitos portugueses como um banco de refúgio em alturas de turbulências no sector financeiro. Além disso, no final do mês passado, a CGD surpreendeu ao apresentar lucros no semestre - numa altura em que todos os grandes do sector (à excepção do Santander Totta) registaram prejuízos – e um rácio de solidez (common equity Tier 1) de 10,7%, acima dos 7% exigidos pelas autoridades europeias.

A transferência de dinheiro para a Caixa aconteceu apesar de a segurança dos depósitos no BES nunca ter sido posta em causa e de o Fundo de Garantia dos Depósitos continuar a garantir um máximo de 100 mil euros a cada depositante, mesmo num cenário extremo de insolvência. Muito do dinheiro transferido para a Caixa terá resultado do resgate de produtos financeiros junto aos balcões do antigo BES.

Depois da subida em Julho, e do pico de segunda-feira, o nível de depósitos na Caixa voltou a registar uma pequena correcção na terça-feira, uma tendência já natural do mês de Agosto, altura em que muitos emigrantes regressam ao país e levantam parte das suas poupanças e remessas.

Os 200 milhões de euros que entraram na Caixa esta segunda-feira referem-se apenas a depósitos de particulares e não de empresas. No entanto é público de que há pelo menos uma empresa, a Portugal Telecom, que também levantou 128 milhões depositados no BES depois de 30 de Junho, embora neste caso não se saiba para onde foi transferido o dinheiro. Quando apresentou as contas no passado dia 30 de Junho, o BES também já tinha dado conta que os depósitos apresentaram uma redução de 310 milhões ao longo do segundo trimestre.

Apesar dos insistentes apelos e das garantias dadas pelo Banco de Portugal aos depositantes, a possibilidade de haver uma quebra de depósitos no BES já tinha sido alertada pelo agência de rating canadiana DBRS que na sexta-feira cortou a notação financeira da instituição, um dos factores que, a par da derrocada das acções e do buraco descoberto no banco, levou o Banco de Portugal a optar por uma medida de resolução para salvar o antigo BES.

Ainda durante o fim-de-semana semana Carlos Costa anunciou um plano que dividiu o antigo BES em dois: um “banco bom” que passou a agregar os activos de melhor qualidade, e um “banco mau” para onde foram transferidos os activos e passivos mais problemáticos do BES. O “banco mau” passou a ser propriedade dos antigos accionistas da instituição financeira que perderam quase tudo o que investiram no banco. Os depositantes foram transferidos para o “banco bom”, que agora chama-se Novo Banco. Este banco passou a ser património do Fundo de Resolução, que reúne as maiores instituições financeiras e bancos do país. E foi para o Novo Banco que foram transferidos os clientes e depositante do antigo BES.

No âmbito deste plano o Estado comprometeu-se a emprestar 4400 milhões de euros ao Fundo de Resolução que, por sua vez contribuirá com 500 milhões, para injectar 4900 milhões de capitais no Novo Banco e assim garantir a solidez da instituição. Entretanto, os banqueiros já vieram propor ao regulador que a contribuição do Estado baixasse para 3900 milhões, sendo que os bancos financiariam o fundo de resolução com 635 milhões, que se juntam aos 367 milhões que já existem no fundo. A banca e o Estado serão ressarcidos com o produto da venda do Novo Banco.

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