Alemanha rejeita renegociar ajuda à Grécia

Gregos contestaram a austeridade que a Alemanha considera inegociável
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Gregos contestaram a austeridade que a Alemanha considera inegociável Foto: Aris Messinis/AFP
Ministro alemão e directora do FMI colocaram pressão sobre Atenas
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Ministro alemão e directora do FMI colocaram pressão sobre Atenas Foto: Georges Gobet/AFP
Banca grega está no fio da navalha
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Banca grega está no fio da navalha Foto: John Kolesidis/Reuters

O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, considerou nesta quarta-feira que o programa da troika (UE, BCE e FMI) para a Grécia, que prevê o apoio financeiro ao país em troca da aplicação de medidas de austeridade, não pode ser renegociado.

“Este é um programa de assistência preparado de forma muito minuciosa, e nós não podemos renegociá-lo”, afirmou o ministro alemão à rádio Deutschlandfunk, horas depois do fracasso das negociações para a formação de um novo Governo de coligação na Grécia – o país vai novamente a eleições em Junho.

Na quarta-feira confirmou-se em Atenas a falta de um acordo nacional para a formação de um governo que tire a Grécia da instabilidade política. Um falhanço que teve consequências negativas na bolsa de Atenas e sobre a própria moeda europeia. O ambiente político não ficou mais desanuviado depois de, em Berlim, a chanceler alemã Angela Merkel e o novo Presidente francês François Hollande, terem prometido que deveriam trabalhar em conjunto para tirar a Europa da crise e, na questão grega, frisarem que querem Atenas dentro da moeda única.

A declaração franco-germânica de apoio à Grécia foi basicamente ignorada. Na mesma altura, a directora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, admitia numa entrevista televisiva a possibilidade de uma saída ordenada da Grécia da moeda única. E na manhã seguinte, o ministro alemão da Finanças vem colocar em cima da mesa a impossibilidade de encontrar outra solução dentro do pacote de ajuda que foi negociado ao longo de semanas e que já era, ele próprio, um segundo auxílio à Grécia.

Em declarações à rádio Deutschlandfunk, Schäuble declarou nesta quarta-feira de manhã que a bola está do lado dos gregos. "A Grécia deve estar disponível para aceitar a ajuda" que já tinha sido aprovada. "Aqueles que ganharem as próximas eleições terão de decidir se aceitam estas condições ou não", prosseguiu o mesmo responsável, acrescentando que "especular nesta altura sobre se a Grécia aceita ou não [este programa[ não vai ajudar" a Europa.

O Presidente grego, Karolos Papoulias, reúne-se nesta quarta-feira com os representantes partidários, para escolherem um Executivo interino que conduza o país até à realização de novas eleições. O encontro que está agendado para as 13h em Atenas (menos duas horas em Portugal continental).

Merkel e Hollande: aperto de mão em vez de um beijo

Alguma imprensa dá destaque ao facto de os chefes de Estado da Alemanha e da França se terem cumprimentado com um aperto de mão, quando se encontraram pela primeira vez em Berlim. Ficou assim para trás o tempo em que Jacques Chirac cumpriu o beija-mão, em 2005, e em que a líder alemã e o homólogo francês – Nicolas Sarkozy – se cumprimentavam com um beijo. Seria um sinal de que algo mudou, reflexo da distância que separa as políticas alemãs da nova via prometida por Hollande ou apenas um óbvio "arrefecimento" dos cumprimentos, dado que Hollande e Merkel não se conheciam? A imprensa alemã limita-se a constatar o facto e não desenvolve o tema.

O que é certo é que o eixo franco-alemão, agora renovado, se pôs de acordo sobre a Grécia, apesar de ter divergido sobre o crescimento económico para a Europa. O que não impediu Merkel e Hollande de assumirem que têm "o dever" de trabalhar juntos na matéria "para o bem da Europa".

Os dois líderes, que não se conheciam, encontraram-se pela primeira vez, em Berlim, escassas horas depois da tomada de posse de Hollande enquanto presidente da República francesa. Merkel, que recusou receber Hollande durante a campanha eleitoral em que apoiou o seu antecessor, Nicolas Sarkozy, garantiu logo a seguir à eleição que o receberia "de braços abertos" em Berlim, o que cumpriu oferecendo-lhe honras militares à chegada à chancelaria.

No final de um breve encontro a que se seguiu um jantar, os dois líderes assumiram uma total identidade de pontos de vista ao garantir que querem e esperam que a Grécia permaneça no euro.

Com esta posição, os dois responsáveis procuraram serenar a especulação crescente sobre uma possível saída de Atenas da moeda única caso recuse, ou não consiga, cumprir os objectivos de consolidação orçamental e de reformas estruturais com que se comprometeu em troca de uma ajuda da zona euro e do FMI de 240 mil milhões de euros.

Merkel e Hollande afirmaram igualmente que respeitam a decisão do país de realizar novas eleições depois do impasse gerado pelo primeiro escrutínio de 6 de Maio, que resultou na vitória dos partidos hostis ao acordo.

A sintonia franco-alemã sobre a crise grega, que voltou a incendiar a zona euro e desestabilizar a Espanha e Itália, contrastou com "algumas diferenças" que assumiram de forma muito diplomática sobre a forma de equilibrar o rigor orçamental imposto pela Alemanha, com a prioridade ao crescimento económico assumida por Hollande na campanha eleitoral. "Há pontos em que não estamos completamente de acordo", reconheceu Merkel.

"Quero que o crescimento não seja apenas um termo vago mas que seja traduzido em actos tangíveis e transpostos para a realidade", afirmou Hollande na conferência de imprensa entre a reunião de trabalho e o jantar.

A reunião arrancou com várias horas de atraso porque Hollande, que já tinha saído de Paris uma hora depois do previsto, teve de voltar atrás para mudar de avião, porque aquele em que seguia foi atingido por um relâmpago poucos minutos depois da descolagem. Segundo Merkel, o facto de o Presidente francês ter conseguido chegar a Berlim depois de tantas peripécias constitui "um bom presságio" para as relações franco-alemãs.

Hollande não perdeu a oportunidade para marcar o pouco apreço com que reagiu à recusa da chanceler de o receber antes da eleição. "Não a conhecia, apesar de a sua reputação ter ultrapassado as fronteiras há muito tempo", afirmou, ao seu lado.

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