O fogo já se foi, agora luta-se por recuperar o muito que as chamas levaram

Populações e autarquias do Norte e Centro do país continuam a passar por muitas dificuldades.

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Sergio Azenha (colaborador)

Faltam bens essenciais de toda ordem. Continuam a existir falhas graves na distribuição de electricidade, água e comunicações. No terreno está quase tudo por fazer, da recuperação de habitações à recolha de animais mortos e limpeza de estradas e terrenos. Apesar de a chuva que caiu nos últimos dias ter ajudado a apagar os fogos, as populações do Centro e Norte do país fustigadas pelos incêndios de domingo continuam a viver dias difíceis. E os autarcas, que estiveram nesta terça-feira em reuniões com o primeiro-ministro, lutam como podem para ajudar os populares.

A Câmara de Oliveira do Hospital recorreu às redes sociais para pedir ajuda. A autarquia pede todo o tipo de vestuário para adultos e crianças, cobertores e lençóis, todo tipo de alimentação, nomeadamente comida para bebés, aguas e sumos. Também não esquece a ração para amimais, lembrando que “nem todos morreram, mas agora não há nada com que os alimentar”. A câmara pede que os bens sejam entregues no quartel dos bombeiros voluntários locais. Neste concelho arderam dezenas de habitações e mais de uma centena de pessoas ficaram desalojadas, apesar das muitas casas ardidas serem segunda habitação ou devolutas. No concelho morreram nove pessoas vítimas dos incêndios.

Em Pampilhosa da Serra, distrito de Coimbra, há um sentimento de indignação entre os bombeiros. O segundo comandante disse à agência Lusa que a corporação sente-se revoltada por ter sido deixada sozinha a combater um fogo que afectou 60 localidades do concelho.

Catorze viaturas e 57 operacionais eram os meios para combater um fogo "completamente desgovernado" que fustigou quase todo o concelho, disse José Almeida, que esteve a coordenar as operações de combate.

O presidente da câmara, José Brito, que também já foi bombeiro, corrobora: “Não me lembro de ver um incêndio tão violento a dizimar uma área tão grande", contou, referindo que seria "suicídio meter-se à frente das chamas”. O incêndio que afectou Pampilhosa da Serra deixou cerca de 20 pessoas desalojadas e destruiu 238 habitações. Este era um dos locais onde nesta terça-feira ainda não havia telecomunicações. “O concelho está completamente isolado”, afirmou o presidente da autarquia.

Já em Santa Comba Dão, distrito de Viseu, cerca de 80% da mancha florestal do concelho ardeu no domingo e na segunda-feira, sendo este "o maior incêndio de sempre" a afectar o município, disse à agência Lusa o presidente da autarquia, Leonel Gouveia. De acordo com o autarca, arderam 15 habitações principais e mais de 50 devolutas ou segundas habitações. No concelho morreram cinco pessoas.

Já em Mira (Coimbra), onde os fogos afectaram 70% do território, surgem relatos de falhas no Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP), o que prejudicou o combate às chamas. Nuno Pimenta, comandante dos bombeiros de Mira, disse à Lusa que o SIRESP só funcionou para as comunicações internas, o que contribuiu para o isolamento do concelho logo nas primeiras horas do combate ao fogo, que teve dezenas de frentes.

Surgem ainda relatos de muitas dificuldades em várias outras terras tocadas pelos fogos, como em Gouveia, distrito da Guarda, Monção (Viana do Castelo) e Vagos (Aveiro). Mais de uma dezena de agrupamentos de escolas continuavam nesta terça-feira sem aulas, no Norte e Centro do país, devido aos incêndios florestais. com Lusa

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