Valor do euro continua a preocupar o BCE

Mario Draghi promete continuação de taxas de juro baixas e não descarta novas medidas de estímulo à economia.

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Mario Draghi, presidente do BCE

Um mês após ter tomado um dos conjuntos de medidas expansionistas mais agressivos da história do BCE, Mario Draghi continua preocupado com o efeito que um euro demasiado forte está a ter na evolução da economia e dos preços, mantendo por isso a promessa de taxas de juro baixas por muito tempo e de novas medidas extraordinárias, caso seja necessário.

Sem surpresas, o Banco Central Europeu não procedeu, na reunião realizada esta quinta-feira, a qualquer alteração da sua política monetária. Na reunião de Junho tinha baixado as taxas de juro para 0,15% e anunciado medidas não convencionais como a concessão de empréstimos de longo prazo aos bancos, sendo que vários responsáveis do banco central deixaram desde logo claro que seria necessário esperar algum tempo para verificar o efeito das medidas tomadas.

No entanto, Mario Draghi fez questão de mostrar que a sua preocupação com o período de inflação demasiado baixa que a zona euro atravessa se mantém. E voltou a afirmar que o actual valor do euro face às outras divisas é uma das principais causas para este tipo de evolução dos preços. “Em relação à taxa de câmbio, não é um objectivo de política, mas é definitivamente muito importante para as nossas perspectivas de estabilidade de preços”, disse Draghi.

As medidas tomadas pelo BCE no mês passado têm o potencial para fazer o euro depreciar-se face ao dólar, nomeadamente num cenário em que a Reserva Federal começa a retirar algumas das suas medidas expansionistas.

Nas últimas semanas, contudo, o euro pouco baixou o seu valor. Ainda assim, dos EUA estão a surgir ajudas para o BCE. Alguns minutos antes da conferência de imprensa de Mario Draghi em Frankfurt, foi dada a conhecer uma nova descida do número de desempregados na economia norte-americana, o que faz crescer a expectativa de redução dos estímulos por parte da Fed e, como consequência, potencia a apreciação do dólar face ao euro.

Em relação ao que irá fazer o BCE nos próximos meses, Mario Draghi reafirmou a intenção de manter as taxas de juro baixas durante um período longo de tempo. Recusou aliás de forma peremptória o conselho para começar a subir taxas de juro dado pelo Banco de Pagamentos Internacionais (BIS) este fim-de-semana. O BIS defende que com as medidas actuais, os bancos centrais estão a arriscar a criação de novas bolhas nos mercados.

O presidente do BCE disse que não faria sentido subir taxas nesta fase e disse que a preparação técnica para que o banco central comece a comprar activos nos mercados (ajudando em particular a concessão de crédito às PME) está a avançar.

O BCE forneceu igualmente os detalhes técnicos relativamente aos empréstimos de longo prazo aos bancos que anunciou em Junho e que irá começar a pôr em prática em Setembro. Há um mês ficou a saber-se que os bancos vão poder pedir emprestado um valor equivalente a 7% do crédito que concedem às empresas e às famílias (excepto crédito à habitação).

Agora, o BCE acrescentou que os bancos vão poder, durante o primeiro ano, aceder a montantes diferentes consoante estão já a aumentar o crédito que fornecem às empresas e famílias ou não. E que ficam sujeitos a ter de devolver o dinheiro em Setembro de 2016 caso não cumpram as exigências de concessão de crédito à economia que são feitas pelo BCE.

Para os bancos, as regras parecem não ser tão exigentes como se temia (havia a expectativa que o BCE estipulasse penalizações para os bancos que não aumentassem o crédito concedido), o que pode ajudar a que haja uma adesão significativa ao programa por parte dos bancos da zona euro. Mario Draghi considera que está a ser feita aos bancos uma proposta "atractiva do ponto de vista financeiro”.

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