Isabel dos Santos deixou de ser uma investidora discreta

Empresária angolana começou a investir em Portugal em 2005 e nunca mais parou.

Foto
Isabel dos Santos quintiliano santos/novo jornal

A presença de Isabel dos Santos em Portugal demorou alguns anos até ser confirmada oficialmente. No final de 2005, passou a ser accionista da Galp Energia ao lado da petrolífera estatal angolana Sonangol e de Américo Amorim, quando o Estado português vendeu uma importante fatia do capital, mas, na altura, só estes dois últimos nomes foram conhecidos.

Rumores havia muitos, mas só em 2008 se confirmou a sua participação, por via indirecta, na petrolífera portuguesa (ver infografia). Foi, aliás, nesse ano que a filha do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, avançou para o sector bancário: o banco BIC expandiu-se para Portugal, tendo o ex-ministro do PSD, Mira Amaral, como presidente executivo, e ficou com os 9,7% do BPI que estavam nas mãos do BCP.

A partir daqui, nunca mais parou de reforçar os seus investimentos em Portugal, articulando-os com os negócios em Angola. No final de 2009, diversificou os negócios e comprou 10% da Zon, que resultara da divisão dos negócios da PT após a OPA frustrada da Sonaecom. Poucos meses depois surge a Zap, empresa de subscrição de televisão paga, em Angola. Isabel dos Santos fica maioritária e estreita as ligações à Zon. Na Unitel, lançada em 2001 em parceria com a PT (o primero grande negócio com sócios portugueses), o relacionamento com o accionista português passou a complicar-se por volta de 2006.

Os dividendos dos seus negócios iam ajudando a novas apostas. Há empresas vendedoras e Isabel dos Santos tem ambição, preparando bem a sua estratégia. Casada desde 2002 com o congolês Sindika Dokolo, é tida como boa e dura negociadora, é vista como alguém que beneficiou do facto de ser filha de José Eduardo dos Santos (nasceu em 1973, fruto do primeiro casamento, com Tatiana Kukanova), mas que soube multiplicar os seus negócios. “Não represento nenhum interesse e não represento ninguém, a não ser a mim própria”, escreveu Isabel dos Santos em 2007.

No final de 2011, a empresária começou a acelerar e ganhou a privatização do BPN, por apenas 40 milhões, lançando o Banco BIC Portugal para a primeira divisão. Em 2012, Américo Amorim chegou a acordo com os italianos da ENI e a Amorim Energia começou a reforçar a posição da Galp Energia, processo em que é devidamente acompanhado pela Sonangol e por Isabel dos Santos.

Por esta altura, o programa da troika já está a ser aplicado pelo Governo liderado por Pedro Passos Coelho, a economia está em agonia e há ainda mais acertos de posições accionistas. A CGD é uma das várias entidades que saem do capital da Zon (o banco do Estado tinha 10%), vendendo a posição a Isabel dos Santos. Num processo construído passo a passo, a empresária passa a ser a maior accionista da empresa de telecomunicações. Ao mesmo tempo, reforça também a participação no BPI, onde é hoje a segunda maior accionista. 

O fim da fragmentação de capital na Zon permite o casamento, tantas vezes  anunciado, da Zon com a Optimus, através de uma manobra de equilíbrio entre Isabel dos Santos, já milionária, e o grupo Sonae (dono do PÚBLICO). A partir daqui, a PT ganhou um concorrente mais musculado, para depois se virar para o Brasil.

A empresária angolana, que nunca conseguiu dominar Américo Amorim na Galp Energia, acabou por se separar do seu sócio na área da banca. Em Outubro deste ano, Amorim saiu do capital e da administração do Banco BIC em Angola e Portugal. Em vez de dar lugar a novos accionistas, Isabel dos Santos reforçou a sua posição (para 42,5%), tal como o presidente executivo do banco angolano, Fernando Teles.

Sugerir correcção
Comentar