Jennifer Lawrence recebe menos do que os actores e "está farta"

Actriz fala pela primeira vez do facto de o seu salário ter sido inferior ao de Bradley Cooper ou Christian Bale em Golpada Americana. Meryl Streep também não é paga ao mesmo nível dos actores do sexo masculino.

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A actriz Jennifer Lawrence falou esta terça-feira pela primeira vez sobre a revelação, no âmbito do ataque informático à Sony, de que recebera menos dinheiro por Golpada Americana do que os outros protagonistas masculinos. Insurge-se contra a cultura dos estúdios e responsabiliza-se por não ter lutado mais, dias depois de Meryl Streep, outra oscarizada, ter confirmado que “sim”, também ela recebe menos do que os actores com quem contracena.

A desigualdade dos salários e partilha de lucros em Hollywood favorece largamente os homens e Lawrence, estrela de blockbusters, diz não ter ficado “zangada com a Sony. Fiquei furiosa comigo”

Num texto intitulado Why Do I Make Less Than My Male Co-Stars? (Por que é que ganho menos do que os meus co-protagonistas masculinos?), Lawrence não poupa palavras. “Quando o ataque informático à Sony aconteceu e descobri quanto menos estava a ser paga do que as pessoas sortudas com pilas”, percebeu que falhou “como negociadora”. “Desisti cedo”, escreve. “Não quis continuar a lutar por milhões de dólares de que, francamente, devido aos franchises” como Jogos da Fome, “não preciso”. E admite, sobre a eterna questão das expectativas culturais em torno do género feminino: “houve um elemento de querer que gostassem de mim que influenciou a minha decisão de fechar negócio sem uma luta verdadeira”.

Na newsletter Lenny Letter, criada pela autora e actriz Lena Dunham, diz que quando viu a folha de pagamentos percebeu que os seus colegas não tiveram qualquer problema sobre serem “mimados” nem “difíceis”. “Estamos condicionadas socialmente a comportarmo-nos desta maneira?”, questiona-se, “poderá ainda haver um hábito remanescente de tentar expressar as nossas opiniões de uma certa maneira que não ‘ofenda’ ou ‘assuste’ os homens?”.  

Lawrence postula: “Estou farta de tentar encontrar uma maneira ‘adorável’ de manifestar a minha opinião e de ainda ser alguém de quem se goste! Que se foda isso”. Reflecte sobre as formas diferentes como os homens com quem trabalha se comportam em situações de tomada de decisão ou expressão de pontos de vista e refere os nomes dos co-protagonistas de Golpada Americana, de David O. Russell, tendo “a certeza de que” Jeremy Renner, Christian Bale e Bradley Cooper “foram elogiados por serem ferozes e estratégicos” na discussão dos seus contratos.

“Mais uma vez, isto pode NADA ter a ver com a minha vagina, mas não estava completamente errada quando um outro email da Sony que veio a público revelou que um produtor se referia a uma outra actriz de primeira linha numa negociação como uma ‘fedelha mimada’. Por alguma razão, não consigo imaginar alguém a dizer isso sobre um homem”.

A actriz refere-se a um dos milhares de emails revelados no escândalo do ataque informático à Sony, em que o produtor Scott Rudin falava sobre Angelina Jolie. O ataque dos hackers, que chegou a merecer uma intervenção do Presidente Barack Obama e levou a troca de acusações entre a Casa Branca e o regime norte-coreano, veio a público no final de 2014 e envolveu, além da vinda a público de mensagens, dados pessoais e folhas de pagamento, uma série de ameaças em torno da comédia The Interview.

O chamado “gender gap” nos pagamentos em Hollywood foi apenas um dos muitos temas que o ataque informático a grande escala ao estúdio trouxe para a opinião pública – mas se já há anos está a ser acompanhado pelos média e por instituições académicas como um exemplo de desigualdade de género, foi um dos picos da atenção mediática sobre o tema. Seguiu-se o momento feito para gif do discurso de Patricia Arquette na vitória do seu Óscar, apoiado de braço no ar por Meryl Streep, e muitas outras actrizes têm vindo a terreiro denunciar o problema.

Streep, uma das mais bem sucedidas actrizes da actualidade, com três Óscares e o maior número de nomeações de sempre para um actor, disse há dias à BBC que ainda sente o sexismo na pele. “É uma indústria só de homens”, descreveu, e respondeu que “sim”, recebe menos do que os seus correligionários masculinos. Defende a transparência nos pagamentos e a ajuda dos homens para combater esta diferenciação e lembra como as coisas funcionam no sector. “Os filmes de mulheres não vendem, dizem-nos”.  

Na semana passada, Gwyneth Paltrow resumiu assim o problema: “O nosso salário é uma forma de quantificar quanto valemos. Se os homens recebem muito mais por fazer a mesma coisa, sentimo-nos uma porcaria”.  

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