Casa projectada para acolher museu de Manoel de Oliveira sem compradores

Edifício projectado por Eduardo Souto de Moura está pronto há 12 anos, mas a Câmara nunca conseguiu chegar a acordo com o realizador para a sua utilização.

Foto
Edifício foi projectado por Eduardo Souto de Moura Fernando Veludo/NFactos

A Câmara do Porto revelou esta quinta-feira que não houve interessados na compra do imóvel denominado Casa Manoel de Oliveira, adiantando que "a seu tempo" tomará as medidas adequadas "para limitar o prejuízo de um projecto que falhou".

Em declarações à Lusa, fonte da presidência da autarquia admitiu que até à data do fim do prazo de um ano para vender o equipamento por ajuste directo (7 de Maio), ninguém quis comprar o equipamento projectado pelo arquitecto Eduardo Souto de Moura há duas décadas, e concluído há 12 anos para ser casa e museu de Manoel de Oliveira, sem que a Câmara tenha assinado qualquer acordo com o cineasta, que morreu no passado dia 2 de Abril com 106 anos.

"A casa não teve o destino que quem a imaginou pensou que ia ter. A hasta pública e o ajuste directo foram uma tentativa de limitar prejuízos de um projecto que falhou. Mas não houve, até agora, interessados", adiantou a fonte municipal.

A mesma fonte notou que "a Câmara, a seu tempo, tomará as medidas que entender adequadas" para o imóvel, reconhecendo não estar ainda definido o futuro do equipamento situado na zona da Foz, na Rua de Diogo Botelho, que há um ano foi levado a hasta pública pelo valor base de 1,58 milhões de euros.

O leilão não teve qualquer licitação e terminou dez minutos depois, com os serviços municipais a anunciar que o regulamento do município estipula, nestes casos, que o equipamento possa ser, durante um ano, vendido por ajuste directo por um montante até 5% inferior ao valor base da hasta pública.

O equipamento construído pela autarquia nunca foi usado ou alvo de acordo formal entre o cineasta e a autarquia. Em Novembro de 2013, a Fundação de Serralves assinou um protocolo com a família de Manoel de Oliveira para acolher o seu arquivo e, em 2014, o presidente da autarquia, Rui Moreira, decidiu vender o imóvel da Foz por considerar não fazer sentido "manter uma casa que nunca foi utilizada".

Foram levadas a leilão as duas fracções do equipamento, uma destinada a "edificado cultural" , com 160 metros quadrados de área coberta e 1.800 metros quadrados de "área descoberta", e outra, para "equipamento habitacional", composta por "cave, entrepiso, rés-do-chão e dois pisos" distribuídos por 98 metros quadrados.

Este projecto foi lançado em 1998, por altura do 90º. aniversário de Manoel de Oliveira, por decisão da Câmara, então presidida por Fernando Gomes (PS), e a obra ficou pronta em 2003, quando a autarquia era já liderada pelo social-democrata Rui Rio, que derrotou o seu antecessor nas eleições autárquicas de 2001.

O realizador de Aniki-Bóbó responsabilizou, em Setembro de 2007, a Câmara do Porto pelo fracasso da criação de uma casa-museu reunindo todo o seu acervo cinematográfico. Num comunicado, o seu advogado lembrou que em 2003, quando "o edifício [da Foz] ficou concluído, a Câmara enviou funcionários para transportarem, sem aviso e sem consentimento de Manoel de Oliveira, o material" do seu acervo.

O cineasta recordou que manifestou a vontade de doar o acervo "ainda nos anos 1990", quando a Câmara era presidida por Fernando Gomes, tendo a autarquia "acolhido de braços abertos a ideia", propondo, "em contrapartida, a construção de um edifício de raiz, projectado por um conceituado arquitecto".

O acordo assinado em 2013 com Serralves prevê instalar o espólio do cineasta num projecto do arquitecto Siza Vieira, que se prevê albergar uma exposição permanente, um anfiteatro de 50 lugares e salas para arquivo e consulta dos arquivos do realizador.

 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários