Morreu Ray Dolby, o engenheiro que alterou o som do século XX

O inventor dos sistemas Dolby Surround e Dolby Digital faleceu em S. Francisco, aos 80 anos.

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Ray Dolby fundou a sua empresa em Londres, em 1965 DR

Ray Milton Dolby, o engenheiro norte-americano que inventou os revolucionários sistemas que permitiram a redução de ruídos nas gravações de música e na projecção de filmes, sofria da doença de Alzheimer e, em Julho, foi-lhe também diagnosticada leucemia.

Se hoje olhar para a aparelhagem que tem em casa, o mais provável é encontrar a palavra "dolby". Dolby Digital e Dolby Surround são dois pequenos ícones que podem aparecer num simples rádio e leitor de CD ou num sofisticado sistema de home cinema. São os mais conhecidos e mais utilizados sistemas inventados pelo genial engenheiro nascido em Portland, no estado do Oregon, em 1933.

“Hoje perdemos um amigo, um mentor e um verdadeiro visionário”, disse Kevin Yeaman, presidente da Dolby Laboratories, a empresa que Ray Dolby fundou em 1965, em Londres, e que, uma década depois, transferiria para o seu país natal, para S. Francisco.

Ray Dolby formou-se na Universidade de Stanford e, ainda estudante, começou a interessar-se pelas tecnologias de gravação áudio. Foi nelas que continuou a trabalhar quando, terminado o curso de Engenharia, ingressou na Ampex Corporation, uma jovem empresa californiana dedicada às tecnologias de som e vídeo.

Dolby quis, no entanto, diversificar a sua formação, e decidiu atravessar o Atlântico para frequentar a prestigiada Universidade de Cambridge, em Inglaterra, onde se doutorou. Foi neste país que criou uma nova empresa com o seu nome, a Dolby Laboratories, onde iria promover uma revolução tecnológica que marcaria a indústria da gravação de música e imagem. A anulação dos ruídos de fundo nas gravações áudio e a criação do sistema surround, que de imediato foi aplicada às salas de cinema, foram as principais invenções de Dolby, que ao longo das décadas registou mais de 50 patentes.

“Menos ruídos parasitas, mais som”. Era este o lema da empresa criadora dos sistemas Dolby Digital e Dolby Surround, tecnologia que progressivamente foi entrando nas casas de todo o mundo, e que foram também reconhecidos como importantes conquistas para as artes e para a indústria do entretenimento. Valeram a Ray e aos seus colaboradores – em especial Ioan Allen, vice-presidente da sua empresa – dez Óscares, entre 1979 e 2007. A empresa de Dolby, de resto, comprou em 2012 o teatro de Los Angeles onde anualmente se realiza a cerimónia dos prémios de Hollywood, depois da falência da anterior proprietária, a Kodak.

Vários prémios Emmy e Grammy enriquecem também o portfolio da Dolby Laboratories.

Neil Portnow, presidente da Recording Academy (promotora dos Grammy), citado pela BBC, disse que as inovações de Dolby “mudaram o modo como ouvimos música e vemos filmes durante os últimos quase 50 anos”. “As suas tecnologias tornaram-se uma parte essencial do processo criativo para os músicos e os cineastas, garantindo que o seu legado notável permanecerá para as gerações futuras”, acrescentou Portnow.

“Embora ele fosse um engenheiro por vocação, os sucessos que o meu pai conquistou na tecnologia fizeram crescer o seu amor pela música e pelas artes”, disse um dos seus dois filhos, Tom Dolby, realizador e dramaturgo.

Já o irmão David, administrador da Dolby Laboratories, no momento do desaparecimento do pai, quis, citado pela AFP, relevar as suas características humanas e filantrópicas: “Era um homem atencioso, paciente e amável, como marido e como pai, mas também nos negócios e na filantropia, sempre disponível para se envolver nos bons projectos”.
 
 

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