Ventura pressiona Montenegro: a “amplíssima maioria não pode ser desperdiçada” por “ego ou arrogância”

Líder do Chega vê num entendimento entre PSD e PS a mola para liderar a oposição. Mas promete empenhar-se numa “solução que dê estabilidade” ao país.

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André Ventura deu uma conferência de imprensa antes de terminar a audiência de Luís Montenegro em Belém Reuters/Pedro Nunes
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Ainda Luís Montenegro estava reunido com o Presidente da República no Palácio de Belém e já André Ventura pressionava o futuro primeiro-ministro. Lembrando o "resultado histórico" do Chega, com a conquista de 50 deputados com os dois dos círculos da emigração, cuja contagem é fechada nesta quarta-feira, Ventura avisou que "esta maioria não deve ser desperdiçada" por algum "ego ou arrogância", numa clara resposta ao silêncio que o líder do PSD manteve nestes últimos dias e à possível continuação da sua estratégia de "não é não" a qualquer acordo com o seu partido.

"A esquerda e a extrema-esquerda foram derrotadas; o Chega e o PSD têm uma amplíssima maioria parlamentar. Esta é uma maioria que não pode nem deve ser desperdiçada", afirmou André Ventura. "Aqueles que, insistindo no seu ego ou na sua arrogância, a desperdiçarem olhando para o lado ou ignorando o voto de quase 1,2 milhões de portugueses, serão eles os causadores de toda a instabilidade que o país pode vir a viver", acrescentou o líder do Chega, numa declaração aos jornalistas na sede do partido.

Ventura deu a sua "garantia total de que se empenhará numa solução que dê estabilidade aos portugueses e dê resposta nas áreas da saúde, educação, habitação e luta contra a corrupção".

Lamentou que não tenha sido possível "obter nenhum acordo de governabilidade", mas procurou que o partido não fique de fora dos louros das medidas que o PS se ofereceu na terça-feira para, em conjunto com o PSD e o CDS, aprovar até ao início do Verão. Disse que "terão luz verde, mesmo sem um acordo de fundo em matéria de governação ou orçamental", medidas como a equiparação do subsídio de missão das forças de segurança, a recuperação do tempo de serviço dos professores, a redução urgente de impostos (sobretudo do IRS), a reforma da justiça com a luta contra a corrupção e a garantia de independência das polícias e magistrados.

Algumas questões excedem as balizas impostas por Pedro Nuno Santos para um orçamento rectificativo com o aval do PS, proposta, aliás, que leva André Ventura a falar de uma clara "aproximação entre PS e PSD". E que aproveita para tirar dividendos, dizendo que "reforça o papel do Chega como líder da oposição".

"Ao ficar claro que o líder do PSD prefere fazer entendimentos com o líder do PS, fica também claro que o partido que pode fazer oposição é o Chega. Vamos assistir cada vez mais a um bloco central contra o Chega e cá estaremos para liderar a oposição se esse cenário se verificar", prometeu. No entanto, sobre o orçamento rectificativo diz-se "disponível para avaliar".

"Livrou-nos de um activo tóxico"

Ventura anunciou já as duas primeiras iniciativas legislativas do Chega, sendo uma delas repetida da proposta feita por Pedro Nuno a Montenegro: a equiparação do suplemento de missão a todas as forças e serviços de segurança, guardas prisionais e forças militares, e uma "reforma de luta contra a corrupção, ampliando largamente a capacidade de o Estado confiscar bens da corrupção e crimes económicos".

Antes, congratulara-se com os resultados provisórios dos dois círculos da emigração, em que o Chega elege dois deputados, um pela Europa e outro pelo círculo relativo ao resto do mundo. E deteve-se especialmente neste último por o partido ter conseguido "roubar" o lugar de Augusto Santos Silva. "Livrou-nos de um activo tóxico do socialismo dominante", disse, referindo-se ao até aqui presidente do Parlamento como alguém que "tinha aniquilado, censurado e atacado persistentemente o Chega".

Sobre o facto de com estes dois deputados o partido atingir o número redondo da meia centena, Ventura disse ser uma "marca histórica que assinala o fim do bipartidarismo e o início de uma nova era que deve combinar os três maiores partidos como forças dominantes da Assembleia da República".

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