Israel recusou vistos de trabalho para ONG estrangeiras

Pessoas que trabalham para várias agências internacionais não viram os vistos renovados e temem que a decisão tenha motivações políticas.

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Ajuda humanitária proveniente da UE para ser entregue em Rafah REUTERS/Mohamed Abd El Ghany
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Uma série de pessoas estrangeiras a trabalhar para organizações não governamentais (ONG) em Israel não conseguiram renovar os seus vistos ou obter um documento necessário para fazer trabalho humanitário em Israel, segundo o diário israelita Haaretz.

Isto acontece, diz o jornal, precisamente quando o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) decretou, entre as medidas provisórias a Israel, permitir maior entrada e distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

Estão a ser afectadas “dezenas” de pessoas, a maioria de países ocidentais, que tiveram de deixar os seus empregos ou não conseguiram regressar aos seus escritórios em Jerusalém ou Ramallah, ou começar novas posições nos territórios palestinianos ocupados, segundo o artigo do Haaretz, assinado pela jornalista Amira Hass.

A explicação dada às organizações internacionais foi a de uma alteração no processo de emissão de vistos, até agora da responsabilidade conjunta da Autoridade para a População e Imigração e pelo Ministério da Segurança Social – no ministério estão registadas cerca de 160 ONG internacionais.

O Haaretz lembra que, em várias ocasiões anteriores em que não foi possível providenciar serviços de vistos, estes eram prolongados de modo automático. Este foi o caso durante a pandemia da covid-19, por exemplo.

Mas não é o que está a acontecer agora, e as autoridades estão a exigir aos funcionários das ONG que saiam de imediato quando os vistos expiram – mesmo que tenham cumprido a lei e tenham pedido o seu prolongamento.

Algumas das pessoas ouvidas pelo Haaretz decidiram ficar, mas com medo de serem deportadas a qualquer momento – o que restringe a sua liberdade de movimentos.

Algumas disseram também suspeitar de “motivações políticas” para o que está a acontecer.

Os efeitos, continua o diário liberal israelita, fizeram-se sentir nas actividades de dezenas de organizações envolvidas na prestação de cuidados médicos, alimentação e água para Gaza, onde há uma crise de fome aguda, falta de água, e uma ameaça de doenças que poderão matar milhares de pessoas.

Na semana passada, um relatório do Center for Humanitarian Health da Universidade John Hopkins e da London School of Hygiene and Tropical Medicine estimava que, mesmo que os combates parassem nessa altura, ainda poderiam morrer cerca de 8000 pessoas nos próximos seis meses devido à crise de saúde pública provocada pela guerra. E se não houver uma trégua e a violência continuar, poderão morrer cerca de 85.570 pessoas até ao início de Agosto, incluindo 68.650 por causa de complicações de lesões traumáticas.

A enfermeira Rita Costa, da organização Médicos Sem Fronteiras, contou ao PÚBLICO, no início de Fevereiro, depois de regressar de Rafah, no Sul da Faixa de Gaza, que não há, por exemplo, locais para pessoas que foram feridas em bombardeamentos ou se queimaram usando fogueiras para cozinhar (dada a falta de combustível) mudarem os seus pensos.

A recusa de vistos está a dificultar também o trabalho na Cisjordânia, já que há muitas organizações que apoiam comunidades palestinianas na Cisjordânia que foram deslocadas pela violência dos colonos que vivem no território ocupado por Israel ou por pressão militar das forças israelitas, continua o Haaretz.

Ao procurar respostas, o jornal recebeu afirmações de umas entidades dizendo que a responsabilidade era de outra, com referências também à mudança da “situação de segurança” na sequência do ataque do Hamas contra Israel a 7 de Outubro.

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