Marcelo diz que Costa pode ser candidato presidencial ou liderar o Conselho Europeu

Presidente da República disse que o seu candidato preferido nas eleições internas do PS seria António Costa.

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O Presidente da República diz que tem acompanhado a disputa eleitoral interna no PS LUSA/JOSÉ COELHO
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O Presidente da República afastou quaisquer responsabilidades na demissão de António Costa e admitiu que o primeiro-ministro tem “condições” para presidir ao Conselho Europeu, mas que também pode ser um “bom candidato” presidencial.

Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas, esta quinta-feira à tarde, à margem da iniciativa Natal dos Hospitais, a decorrer no centro de reabilitação de Alcoitão, em Sintra, depois de se ter remetido praticamente ao silêncio nos últimos dias sobre a actualidade política. Este ponto de agenda não foi divulgado oficialmente pela Presidência da República.

Assumindo que tem acompanhado a disputa eleitoral interna no PS, o chefe de Estado foi questionado sobre se tem preferência: “Tenho. Era o dr. António Costa, era o que tinha preferido”. O primeiro-ministro não é candidato nas eleições para a liderança do partido, que se realizam esta sexta-feira e sábado.

Interrogado sobre se está arrependido da decisão que tomou, o Presidente remeteu toda a responsabilidade para o primeiro-ministro. “Quem tomou a decisão foi António Costa. Foi ele, não fui eu. Decidiu por causa das circunstâncias que sabemos”, disse, em declarações transmitidas pela RTP, insistindo: “Ele é que comunicou que se ia embora. Não fui eu que lhe disse: ‘Vá-se embora’.”

Marcelo disse acreditar que não conseguia convencer o primeiro-ministro da decisão contrária à que tomou. “Como é que se dissuade uma pessoa que tem a convicção muito profunda de que aquilo é a decisão correcta na sua vida? É impossível”, disse, lembrando que Costa assumiu, na passada segunda-feira, em entrevista à TVI/CNN Portugal, que faria o mesmo caso não existisse o parágrafo no comunicado da Procuradoria-Geral da República sobre a abertura de um inquérito em que era visado. “Agora mesmo [Costa] disse que, sabendo o que sabe hoje, ainda assim provavelmente tomaria a mesma decisão. Ele tomou uma decisão. A decisão que tomei a seguir foi uma consequência”, disse.

O Presidente foi, depois, questionado sobre se concorda com as declarações de Francisco Assis em que assumiu, em entrevista ao PÚBLICO/RR,​ gostar de ver António Costa como presidente do Conselho Europeu.

“Eu não tenho nenhuma dúvida. O primeiro-ministro tem um prestígio europeu excepcional e falando com elementos dos vários grupos políticos europeus, ele tem as condições para vir a ser presidente do Conselho Europeu”, disse, tendo sido questionado sobre se Costa também poderia ser um bom candidato a Belém.

“Tem de perguntar ao dr. António Costa, ele é que tem de escolher o futuro, tendo vários possíveis futuros. Eu não, eu tenho de gerir este futuro imediato de cerca de dois anos”, disse, acrescentando: “Estão-me a perguntar: e depois dos dois anos, ele seria um bom candidato presidencial? Eu digo: sim, se entretanto não estiver presidente do Conselho Europeu. Se estiver presidente do Conselho Europeu, não pode ser as duas coisas ao mesmo tempo.”

Caso das gémeas: “Nada a esclarecer” com o filho

Relativamente ao caso das gémeas luso-brasileiras, o Presidente começou por dizer que não queria pronunciar-se sobre o relatório da auditoria interna do Hospital de Santa Maria porque ainda vai ser enviado a outras instâncias oficiais, nomeadamente à Procuradoria-Geral da República.

Questionado sobre a confirmação de que houve uma ilegalidade na marcação de uma consulta para as crianças a pedido da Secretaria de Estado da Saúde, Marcelo remeteu para a justiça mesmo que essa irregularidade não tenha sido de um serviço ou funcionário público: “Vamos esperar pelo apuramento da realidade. Se a realidade apurar que houve alguma coisa ilegal de quem exerce funções públicas ou por um privado, aí funciona a justiça”.

Interrogado sobre se esclareceu o caso com o seu filho, Nuno Rebelo de Sousa, o Presidente respondeu negativamente: “Não, não tenho de esclarecer nada. Quem tem de esclarecer está a investigar e depois de investigar ou conclui que há qualquer coisa que se passou bem ou que se passou mal e eu agirei em conformidade”.

Relativamente aos eventuais danos na popularidade do Presidente da República que a polémica do caso das gémeas pode ter causado, o próprio rebateu a ideia e lembrou que tem tomado decisões polémicas, além de estar a sofrer desgaste de uma intensa presença mediática.

“Um Presidente que, num espaço de tempo muito curto, tem de aceitar a demissão do primeiro-ministro, uma coisa que foi tão repentina para todos nós, provoca um choque na opinião pública, dissolve o Parlamento — há quem concorde, há quem não concorde —, dissolve o Parlamento nos Açores — há quem concorde e quem não concorde —, é notícia durante dois meses, de manhã, à tarde. à noite, com o desgaste que isso tem… No fim disso tudo, andar no núcleo duro de 50% dos portugueses é miraculoso...”, defendeu.

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