Meryl Streep, George Clooney e Nicole Kidman doam dinheiro a actores e actrizes dos EUA em greve

Várias estrelas de Hollywood contribuíram para se angariar mais de 15 milhões de dólares nas últimas três semanas. Pedidos de ajuda disparam, diz sindicato.

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Protestos em Times Square a 25 de Julho Roy Rochlin/getty images
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Há três semanas, os actores e as actrizes de Hollywood entraram em greve, juntando-se aos colegas argumentistas, há meses em protesto por melhores condições de trabalho. Uma paralisação histórica que tem produzido consequências muito palpáveis, tanto no ecossistema da indústria da televisão e do cinema – inevitavelmente de pernas para o ar face à greve de 10 mil argumentistas e mais de 160 mil intérpretes – como na vida dos próprios trabalhadores e respectivas famílias.

Tal como vários actores e actrizes têm feito questão de assinalar nas redes sociais, a maioria dos intérpretes de Hollywood não são ricos nem famosos. Muitos têm segundos trabalhos: são empregados de mesa, trabalhadores da limpeza, motoristas de Uber. São esses que têm estado na linha da frente dos piquetes de greve e que têm sido directamente afectados pelas paralisações. Só na última semana, mais de 400 profissionais pediram ajuda à Fundação SAG-AFTRA, entidade que providencia apoio financeiro aos actores mais precários dos EUA e que está associada ao SAG-AFTRA, sindicato que congrega a guilda Screen Actors Guild e a federação Federation of Television and Radio Art.

Apesar de haver celebridades da indústria de corpo presente nos protestos – Lupita Nyong’o, Colin Farrell, Jane Fonda e Brendan Fraser, por exemplo –, muitas pessoas se têm questionado onde estão os pesos-pesados de Hollywood ("Where the fuck is Ben Affleck?", em tradução livre 'onde raios anda Ben Affleck?', lia-se num dos cartazes erguidos na primeira semana da greve). Ao que parece, alguns deles estão a doar dinheiro à Fundação SAG-AFTRA, numa campanha para apoiar os actores e as actrizes em greve.

Meryl Streep, George Clooney, Jennifer Lopez e Ben Affleck (em casal), Matt Damon, Leonardo DiCaprio, Hugh Jackman, Nicole Kidman, Julia Roberts, Arnold Schwarzenegger e Oprah Winfrey são algumas das superestrelas que contribuíram para se angariar mais de 15 milhões de dólares (aproximadamente 14 milhões de euros) nas últimas três semanas, anunciou esta quarta-feira a fundação.

Uma geração a retribuir

Meryl Streep e George Clooney encabeçam a lista de doações, tendo contribuído também com várias acções de sensibilização junto de outras superestrelas de Hollywood, refere o jornal norte-americano The New York Times.

“Lembro-me dos meus dias como empregada de mesa, trabalhadora da limpeza, dactilógrafa, até mesmo de quando estava na fila do desemprego”, disse Meryl Streep num comunicado. “Nesta greve, tenho a sorte de poder apoiar aqueles que lutarão numa longa acção contra Golias.” George Clooney acrescentou: “Fomos apoiados por pessoas como Bette Davis e Jimmy Cagney, agora é hora de a nossa geração retribuir".

“A indústria do entretenimento está em crise e a Fundação SAG-AFTRA está a processar até 30 vezes o número habitual de pedidos de ajuda de emergência”, disse o presidente da fundação, o actor Courtney B. Vance, numa nota publicada no site deste organismo. “O nosso Programa de Assistência Financeira de Emergência serve para garantir que os actores necessitados não percam as suas casas, que possam pagar as contas, comprar alimentos para as suas famílias, ir ao médico, e muito mais. É um desafio imenso, mas estamos determinados a enfrentá-lo neste momento”, explicou Vance.

Não há, para já, previsões para o fim desta greve, que tem como principal alvo a Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP), que representa os grandes estúdios clássicos e as plataformas de streaming – ou seja, entidades como a Warner Bros, Paramount, Netflix ou Amazon. Em cima da mesa está a negociação de novos contratos colectivos, aumento de salários, nova legislação sobre os direitos conexos do streaming devidos aos intérpretes e o debate sobre a substituição de postos de trabalho e de tarefas pela inteligência artificial.

Por outro lado, a paralisação dos argumentistas poderá ter fim à vista. A direcção do WGA, sindicato que representa estes profissionais, vai reunir-se com a AMPTP esta sexta-feira para retomarem negociações

Estes protestos, tanto de actores como de argumentistas, têm resultado na paragem de filmagens, no cancelamento de actividades promocionais de séries e de filmes, em adiamentos de cerimónias como os Emmys e numa série de ausências em festivais de cinema fora dos EUA, como Locarno (a decorrer) e Veneza (a arrancar no dia 30 de Agosto).

Desde 1980 que os actores e as actrizes dos EUA não entravam em greve, e desde 1960 que não o faziam ao mesmo tempo que os argumentistas.

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