O que é que a greve de argumentistas dos Estados Unidos já obrigou a parar?

No início do mês, a WGA (Writers Guild of America) entrou em greve e piquetes. Ficaram em pausa uma prequela de A Guerra dos Tronos, a nova época de Stranger Things ou novo Blade.

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Protestos à porta da Netflix em Los Angeles, Califórnia CAROLINE BREHMAN/EPA
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No início do mês, os argumentistas americanos entraram em greve. Reclamam melhores condições de trabalho, mais estabilidade e ordenados que garantam a sobrevivência numa indústria em constante mutação e em que a ascensão do streaming mudou as regras de produção. Tudo indica que a AMPTP, a Alliance of Motion Picture and Television Producers, que representa os estúdios, e a WGA, a Writers Guild of America, a guilda dos argumentistas, que têm o apoio de vários outros sindicatos da indústria, se manterão em conflito durante muito tempo.

Os resultados mais palpáveis, em termos de quebras nas séries, por exemplo, só se sentirão mais tarde, lá para o fim do ano. Mas há já notícias de rodagens e trabalho de desenvolvimento de novas séries que pararam. Há, por exemplo, uma prequela de A Guerra dos Tronos, A Knight of the Seven Kingdoms: The Hedge Knight, para a HBO, que foi posta em pausa. A notícia foi dada pelo próprio George R.R. Martin, criador da saga literária, que até antes de se dedicar a esse universo já era argumentista de televisão e participou na greve de 1988, que durou quatro meses – a única que houve desde então, a de 2007-08, prolongou-se por um período de tempo semelhante.

Num texto publicado no seu site oficial, Martin lamentou já não haver oportunidades de aprendizagem e ascensão na carreira como a que conheceu ao escrever para a versão da década de 1980 de A Quinta Dimensão, que envolvia estar na rodagem e aprender durante o processo. House of the Dragon, adianta, continua a produção da segunda época, com todos os guiões já acabados, revistos e fechados. Mas, neste tipo de produções, é muito comum o trabalho e a escrita continuarem mesmo durante a rodagem, ou seja, até no produto final poderá haver vestígios da greve.

Segundo o site Deadline, a HBO – cuja nova dona, a Warner Bros., se gabou na sexta-feira de que as suas plataformas de streaming começarão a dar lucro este ano – e a Disney tentaram forçar os seus showrunners, os argumentistas que são os produtores executivos e quem manda efectivamente nas séries, a trabalharem nas suas produções em tudo o que não seja escrita.

Segundo a Variety, a nova época de Andor, a série Star Wars da Disney sobre uma rebelião e lutas contra o poder, vai voltar a ser rodada, sem Tony Gilroy, o criador, nas filmagens, mas ainda a ser produtor executivo e a tratar do casting e da música, por exemplo, desde que tal trabalho não envolva escrita, edição ou incorporar sugestões dos seus superiores. O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder, da Amazon, também acabará a produção da segunda temporada sem os showrunners J.D. Payne e Patrick McKay por perto.

David Simon, criador de The Wire e We Own This City, que é membro do comité de negociação da WGA para esta greve, declarou esta segunda-feira no Twitter que o seu acordo com a HBO, que dura há 25 anos, foi "suspenso", algo que não era "inesperado". No mesmo dia, a falar na Casa Branca num visionamento da série Disney+ American Born Chinese, em frente a executivos da Disney, o Presidente Biden disse esperar que a greve fosse "resolvida" e que "os argumentistas recebessem um acordo justo" e "merecido o mais rapidamente possível".

As repercussões mais imediatas da greve já se tinham feito sentir. Os talk shows cómicos diários, por exemplo, saíram quase todos do ar. Saturday Night Live também. Mais tarde, sentir-se-á atrasos no desenvolvimento no novo filme Blade, da Marvel, já de si uma produção azarada. Outras séries, como Abbott Elementary, o novo Daredevil, Hacks, Yellowjackets, Severance ou a quinta e última temporada de Stranger Things, também estão numa pausa antes de começarem a produção.

Entre outras reivindicações, os argumentistas querem combater os salários mais baixos, a redução significativa da compensação por exibições posteriores à estreia, os chamados "residuals", e a proliferação de equipas e temporadas mais pequenas, que duram menos tempo. Isto dificulta em muito, dizem, a progressão no trabalho, transformando este emprego em mais um exemplo da "economia de biscates". Já para não falar na vontade dos estúdios em usarem, mesmo sem a tecnologia ainda ter capacidade para tal, inteligência artificial.

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