Chega propõe ouvir no Parlamento RTP e ERC sobre cartoon alusivo a polícia e racismo

Cartoon em que um polícia dispara com cada vez mais intensidade sobre alvos cada vez mais escuros tem “o claro intuito de difamar e incitar ao ódio contra os polícias”, entende o partido.

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Parte do cartoon Carreira de Tiro DR

O Chega propõe a audição no Parlamento do Conselho de Administração da RTP e da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), na sequência da transmissão pelo canal público de um cartoon alusivo à polícia e ao racismo.

Segundo um requerimento divulgado esta segunda-feira pelo partido, e endereçado à Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, o Chega quer ouvir também o Conselho Geral Independente da RTP — e requer que estas audições se realizem com carácter de urgência.

O cartoon, de Cristina Sampaio (colaboradora do colectivo Spam Cartoon, que tem uma rubrica semanal na RTP), chama-se Carreira de Tiro e mostra um polícia a atirar ao alvo com cada vez mais intensidade. No final, são mostrados quatro alvos, do mais claro ao mais escuro. O mais claro não foi atingido, ao passo que o polícia acertou progressivamente mais em todos os outros.

O Chega considera que esta é uma "insinuação de que a polícia é racista" e tem "o claro intuito de difamar e incitar ao ódio contra os polícias". "Tendo em conta que a RTP é a televisão pública, a televisão de todos os portugueses, o caso torna-se ainda mais grave, sendo imperativo apurar responsabilidades pela emissão do cartoon", defende o partido.

No sábado, o Sindicato Nacional da Carreira de Chefes (SNCC) da PSP anunciou que apresentou uma queixa-crime contra os autores do cartoon e também contra a RTP por tê-lo emitido, considerando que "há, inequivocamente, uma intenção de vilipendiar todos os polícias, retratando-os como xenófobos e racistas".

Contactado pela Lusa, o ilustrador André Carrilho, co-fundador, juntamente com João Paulo Cotrim, do Spam Cartoon, considerou que a queixa "não faz sentido", uma vez que o cartoon "não tem nada a ver com a PSP nem com a realidade portuguesa".

"Nós trabalhamos para a RTP desde 2017 e o cartoon é sempre feito num contexto de actualidade nacional e internacional, neste caso é internacional. Tem a ver com a ocorrência em França, da morte de um jovem francês às mãos da polícia que depois deu origem a vários tumultos pelo país inteiro", explicou André Carrilho.

Por sua vez, fonte oficial da RTP disse à Lusa que "o Spam Cartoon é um exercício de opinião livre sobre a actualidade nacional e internacional que a RTP acolhe desde 2017", sendo da autoria de "alguns dos mais reconhecidos cartoonistas portugueses".

"Em nenhuma circunstância [o cartoon em questão] serviu para instigar à violência contra quem quer que seja. Os valores da liberdade de expressão e de opinião são basilares da democracia e do serviço público da RTP", salientou o canal de televisão.

Também no sábado, o PSD questionou o Conselho de Administração da RTP sobre o mesmo cartoon, considerando que "atenta de forma evidente e infeliz contra a imagem e o bom nome" das instituições policiais.

No dia seguinte, o presidente do CDS-PP criticou o ministro da Administração Interna por não ter defendido a honra das forças policiais após a transmissão do cartoon.

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