Enquanto a Ucrânia avança no terreno, Putin pondera novo ataque a Kiev

Soldados ucranianos hasteiam bandeira em vila na província de Donetsk. Presidente russo alega que a Ucrânia já sofreu dez vezes mais baixas do que a Rússia.

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A bandeira ucraniana hasteada em Neskuchne, na província de Donetsk Reuters/STRINGER
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Com Kiev a resguardar as informações em relação à contra-ofensiva, foi o secretário-geral da NATO a dar conta, nesta terça-feira, dos avanços no terreno das forças ucranianas. Numa breve declaração antes de um encontro com Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, Jens Stoltenberg afirmou que a Ucrânia está a “conquistar território”, apesar de a contra-ofensiva ainda estar “nos primeiros dias”.

“Quanto mais terreno os ucranianos ganharem, mais provável é que o Presidente Putin compreenda que tem de se sentar à mesa das negociações e concordar com uma paz justa e duradoura”, disse o líder da Aliança Atlântica.

Apesar de o Governo de Kiev limitar ao máximo a informação sobre o que está a acontecer na linha da frente da guerra, continuam a chegar notícias dos avanços ucranianos, os maiores em sete meses. Esta terça-feira, a bandeira azul e amarela da Ucrânia foi hasteada na vila de Neskuchne, na província de Donetsk, uma vitória testemunhada pela Reuters.

“Há três dias, as forças russas ainda estavam aqui, mas nós conseguimos expulsá-los de Neskuchne. Glória à Ucrânia”, disse Artem, soldado de uma unidade de defesa territorial ucraniana. “Estas terras são ucranianas”, proclamou.

Na segunda-feira, as autoridades ucranianas quebraram brevemente o silêncio em relação à contra-ofensiva para anunciar a captura de sete localidades no sul do país. Segundo a vice-ministra da Defesa, Hanna Maliar, a tropa da Ucrânia avançou 6,5 km e ocupou 90 quilómetros de território ao longo de uma frente de 100 km.

Em Moscovo, Vladimir Putin aproveitou um encontro com correspondentes de guerra russos no Kremlin para dar a sua versão do que está a acontecer na frente, afirmando que, até agora, a Ucrânia sofreu dez vezes mais baixas do que a Rússia. O Presidente russo alegou também que Kiev já perdeu entre 25 e 30% dos veículos militares fornecidos pelos aliados ocidentais, precisando que o número de blindados ucranianos destruídos pelas forças russas será de 160, contra 54 tanques perdidos pela Rússia.

O Presidente russo considerou ainda como desnecessária a declaração da lei marcial no país, que tem sida repetidamente pedida por vários políticos e bloggers militares, uma medida que implicaria a mobilização de milhões de reservistas.

Novo ataque a Kiev?

“As pessoas terão de ser trazidas de volta a casa em algum momento, essa questão está a ser discutida no Ministério da Defesa", disse Putin, recordando que a lei não prevê uma data específica para o regresso dos mobilizados e que tudo dependerá da situação na frente de batalha.

“Tudo depende do que pretendemos, dos nossos objectivos”, disse o líder russo, acrescentando que estava perante uma questão que só ele será capaz de responder: deve a Rússia tentar outra vez capturar Kiev, a capital da Ucrânia?

No encontro que reuniu 18 jornalistas e bloggers militares russos e que foi transmitido em directo pela televisão estatal, Putin disse ainda que se a Ucrânia continuar com os seus ataques nas regiões fronteiriças, a Rússia será obrigada a criar o que chamou de “zona sanitária” no território do país vizinho.

“Se isto continuar, então possivelmente teremos de considerar a questão, e digo isto com muito cuidado, de criar em território ucraniano uma espécie de zona sanitária a uma distância tal que será impossível atingir o nosso território”, afirmou o Presidente russo, admitindo a necessidade de proteger melhor a fronteira dos ataques, sabotagens e incursões ucranianas, especialmente na região de Belgorod.

Putin voltou ainda a acusar a Ucrânia de ser responsável pela destruição da barragem de Kakhovka, a 6 de Junho, afirmando que a represa foi deliberadamente atingida com rockets lançados a partir um sistema HIMARS fornecido pelos Estados Unidos.

Na sexta-feira passada, os serviços secretos ucranianos divulgaram uma alegada conversa telefónica de alguém que identificavam como um soldado russo a dizer que “não foram eles, foi o nosso grupo de sabotagem” a destruir a barragem. No mesmo dia, a fundação norueguesa de sismologia Norsar disse ter recolhido dados de estações de medição de sismos na vizinhança que detectaram uma explosão à hora em que a barragem ruiu.

A administração norte-americana anunciou, entretanto, que aprovou um novo pacote de ajuda militar para a Ucrânia, no valor de 325 milhões de dólares (300 milhões de euros), que inclui munições para sistemas de defesa antiaérea, outras munições e veículos de combate.

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