BE acusa gestão da TAP de “canibalizar” a empresa. PCP pede fim do “secretismo”

A deputada Mariana Mortágua do Bloco considera que o Governo “não esteve à altura da importância da TAP. O deputado Bruno Dias do PCP fala em “promiscuidade” na gestão da empresa.

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Mariana Mortágua é a deputada efectiva do BE na comissão de inquérito à gestão política da TAP Nuno Ferreira Santos

Embora à direita se peçam demissões de governantes e saídas de deputados socialistas da comissão de inquérito à TAP, o Bloco de Esquerda (BE) optou por criticar os gestores da empresa e pedir esclarecimentos ao primeiro-ministro, no rescaldo da audição à CEO da companhia, Christine Ourmières-Widener.

Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, a deputada Mariana Mortágua considerou esta quarta-feira que das três audições já realizadas pela comissão de inquérito e, em particular, dos depoimentos da presidente executiva, é possível extrair duas evidências.

Em primeiro lugar, a bloquista considera que ficou claro que "a gestão privada da TAP canibalizou a empresa utilizando recursos em benefício próprio".

E deu exemplos: foram feitos acordos de pré-reforma de 1,2 milhões de euros com antigos administradores e realizados contratos de consultoria de 1,6 milhões de euros (67 mil euros por mês), os negócios de prestação de serviços aos accionistas através da Atlantic Gateway custaram 4,3 milhões de euros e a empresa, quando gerida por David Neeleman, "retirou da TAP através de contratos com a Airbus [para a venda de 53 aviões] mais de 200 milhões de euros para capitalizar a própria TAP".

A segunda evidência, para Mortágua, é que "o Governo do PS não esteve à altura da importância da TAP", devido à "informalidade" com que a geriu politicamente, ao facto de não existirem "relações formais de gestão" na companhia, ao modo como a ex-secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, foi despedida, à tentativa de alteração de uma viagem do Presidente da República por parte do ex-secretário de Estado das Infra-estruturas, Hugo Mendes, ou porque o ministro das Finanças, Fernando Medina, pediu à CEO da companhia que se demitisse sem a avisar de que, caso contrário, a iria despedir.

"Todos estes episódios mostram que o Governo não esteve à altura da gestão da TAP", insistiu, lembrando ainda que a reunião preparatória de deputados do PS e assessores do Governo com a CEO da TAP na véspera da sua audição parlamentar de Janeiro é "obviamente excessivo" e carece de "qualquer cabimento".

A deputada pediu, por isso, que o primeiro-ministro "assuma a responsabilidade de explicar ao país como vai garantir que a TAP é gerida com a dignidade que merece" e "que não vamos ser confrontados de novo com este tipo de informações que são um vexame". "Vimos vários ministros a rodar ao longo deste processo, mas o primeiro-ministro sempre chamou a si a importância da TAP", disse, em jeito de justificação.

PCP exige fim do "secretismo"

Já o PCP exigiu o fim da promiscuidade, da ausência de transparência e secretismo na gestão da TAP, responsabilizou os governos do PS e PSD e pediu uma saudação aos trabalhadores face às "tropelias" feitas na empresa.

Estas posições foram transmitidas pelo deputado comunista Bruno Dias, em declarações aos jornalistas, no Parlamento, que sustentou que as primeiras audições da comissão parlamentar de inquérito "evidenciam desde já os prejuízos para o país resultantes da governação e da promiscuidade PS/PSD".

"Ficou claramente demonstrado que a TAP tem vindo a ser gerida, em contexto de sectores públicos, como se fosse uma empresa do sector privado. Aqueles salários aos administradores da TAP de 620 mil euros por ano ou de 350 mil euros por ano foram legalizados por uma excepção aprovada no estatuto do gestor público", apontou.

O deputado do PCP defendeu depois que há ilações a tirar. "É preciso acabar com o secretismo na gestão pública, reuniões secretas e acordos de confidencialidade. Estamos perante decisões que não são tornadas públicas e que ficam no silêncio das negociações entre escritórios de advogados. Isto tem de acabar e na gestão pública é preciso salvaguardar a transparência democrática e a defesa do interesse público", declarou.

De acordo com Bruno Dias, na TAP, "se a solução para garantir transparência e escrutínio e respeito pela legalidade é acabar com a contaminação de tudo aquilo que a gestão provada trouxe, então a solução não é voltar a entregar a empresa à gestão privada para que regressem essas práticas".

O parlamentar saudou também os trabalhadores da TAP. "No meio destas tropelias e destas promiscuidades na gestão, com ataques à empresa, é obra produzir riqueza para o país, manter a operação com os resultados conhecidos. Os trabalhadores têm mesmo de ser respeitados e saudados", acentuou.

Interrogado sobre se os ministros das Finanças, Fernando Medina, e das Infra-estruturas, João Galamba, devem ser demitidos, Bruno Dias apontou que "à medida que se vão substituindo uns aos outros as políticas vão continuando". "Acima de tudo, o que é preciso é assegurar uma mudança de política para garantir escrutínio, transparência, rigor e respeito pela população e pelo país", disse.

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