Alexandra Reis ainda não tem informação da TAP sobre valor da indemnização a devolver

A gestora revelou ainda não tem muito claro os motivos pelos quais saiu da empresa e adiantou que agiu “de boa fé” a fechar o acordo com a TAP que levou ao pagamento da indemnização de 500 mil euros.

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Alexandra Reis, ex-administradora da TAP e ex-secretária de Estado do Tesouro Nuno Ferreira Santos

A ex-administradora da TAP Alexandra Reis ainda não devolveu à companhia aérea a parte da indemnização que recebeu em Fevereiro do ano passado, apesar das insistências que fez junto da empresa para ser informada do valor em termos líquidos que tem de repor. A gestora disse ainda que as divergências com a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, não beliscavam a aplicação do plano de reestruturação e que agiu de "boa-fé" ao assinar o acordo de saída.

Na comissão de inquérito à TAP, a gestora disse que os seus advogados contactaram a TAP logo no dia seguinte ao conhecimento do relatório da Inspecção-Geral de Finanças (IGF) – ou seja, na manhã de 7 de Março deste ano –para saber o valor líquido a devolver, mas que até agora não obteve essa indicação, apesar das "insistências feitas, três pelo menos". "Continuo a aguardar essa indicação para que se possa proceder à devolução", afirmou.

A ex-administradora adiantou também, sobre as causas da sua saída, que as divergências "não beliscavam" a implementação do plano de reestruturação. Disse ainda que quando a CEO a contactou para distribuir os pelouros, lhe perguntou o que queria que fizesse, até porque Reis tinha um vínculo à TAP anterior ao seu lugar na administração. "Eu quero que saias da empresa", disse-lhe a presidente executiva, segundo relatou aos deputados, acrescentando não ter dúvidas que saiu da empresa "por vontade" da CEO.

E adiantou que agiu "de boa-fé". Embora tenha reconhecido saber do enquadramento do estatuto do gestor público, indicou que essa questão não se colocou no seu contrato de saída. "Eu, de boa-fé, confiei nos advogados da TAP e também naqueles que me representavam na altura", disse a gestora. "Nem por instante pensei que alguma vez pudesse haver alguma dúvida sobre aquele valor", disse mais tarde em resposta à deputada do BE, Mariana Mortágua, referindo-se aos 500 mil euros.

Também em resposta ao deputado do PCP Bruno Dias, a ex-administradora contestou ainda as conclusões da IGF e argumentou que se era nula a fórmula jurídica com que o acordo foi feito - renúncia precedida de acordo -, então devia considerar-se tratar-se de uma “destituição por conveniência”. E, nesse caso, Alexandra Reis considera que “teria direito a solicitar a reintegração na TAP”, visto que antes de ser administradora era trabalhadora da TAP. Apesar de não se rever nas conclusões, a gestora vai devolver a parte da indemnização.

Alexandra Reis explicou ainda que começou por pedir uma indemnização de 1,4 milhões de euros, devido ao “racional” que passava pela aplicação das “mesmas condições que tinham sido propostas a todos os trabalhadores”, majoradas pelo facto de no seu caso ser administradora. A gestora considerava ainda que “nada” lhe podia ser apontado na sua actuação da empresa. “Muito pelo contrário”, concluiu.

A ex-administradora saiu da TAP a 4 de Fevereiro de 2022 depois de fechar um acordo que previa o pagamento de uma indemnização de 500 mil euros. Esta foi considerada ilegal pela Inspecção-Geral de Finanças, obrigando-a a devolver mais de 450 mil euros.

A gestora disse desde o início que nunca aceitaria se não estivesse convicta que aquele pagamento estava conforme a lei, mas depois da decisão da IGF, e embora não concordando com as conclusões, garantiu que devolveria o montante fixado.

Recusa de contrato a empresa do marido da CEO

A gestora explicou que, em Janeiro de 2022, “não me estavam a pedir para renunciar a um mandato na SGPS”, mas “a pedir para sair da empresa”.

“As razões que me foram apresentadas naquele dia [25 de Janeiro de 2022] foram relacionadas com o facto de querer reorganizar a equipa executiva, [e] isso é um cenário diferente”, explicou. “Confesso que talvez ainda não entenda perfeitamente de forma muito clara as razões, mas entendi que me estavam a pedir para sair da empresa”.

A questão da motivação para o seu afastamento foi outro dos pontos abordados pelo deputado da IL, com Bernardo Blanco a querer saber se tinha havido algum desentendimento entre Alexandra Reis e a presidente executiva da TAP depois de ter sido recusada uma proposta da empresa à qual o marido de Christine Ourmières-Widener está ligado, a Zamma.

“Nunca comentei esse assunto com a CEO e a CEO nunca me fez nenhum comentário sobre esse assunto”, afirmou Alexandra Reis. Houve, disse, “o esforço comercial normal de uma empresa, que tenta vender uma solução a outra. Mantive a minha equipa de sobreaviso porque não fazia sentido avançar com aquela aquisição".

"O tema arrastava-se, e em Dezembro de 2021 dei instruções muito claras à minha equipa", adiantou, para que não houvesse "nenhuma contratação àquela empresa”. A gestora disse ainda que não lhe chegou “nenhuma indicação” de que a CEO tivesse ficado descontente com essa decisão.

Na audição de ontem, com a presidente executiva, o deputado do Chega, Filipe Melo, questionou Ourmières-Widener sobre se as desavenças com Alexandra Reis tinham começado após uma apresentação do seu marido, Floyd Widener, que terá pretendido negociar um contrato.

A gestora respondeu que houve de facto uma “apresentação”, mas que “a TAP decidiu por outra solução” e que por isso o assunto foi encerrado. O tema, disse, estava ligado às operações e não à divisão das compras. “Não percebo porque está a falar nisso, não me parece que esteja relacionado”, sublinhou Ourmières-Widener.

Já no caso da mudança de sede, Alexandra Reis confirmou haver divergências neste tópico, não tendo concordado com decisão de sair do local onde hoje está a TAP por, disse, isso implicar um custo para a empresa (da renda) e afectar negativamente os trabalhadores.

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