Hugo Mendes pressionou CEO da TAP a aceitar “incómodo” e mudar voo de Marcelo: “Ele é o nosso principal aliado político”

O deputado da IL Bernando Blanco revelou esta terça-feira um e-mail do ex-secretário de Estado das Infra-estruturas para a CEO sobre um pedido para alterar um voo para Marcelo Rebelo de Sousa.

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Christine Ourmières-Widener foi ouvida esta terça-feira na comissão de inquérito à gestão da TAP Nuno Ferreira Santos

O ex-secretário de Estado das Infra-estruturas Hugo Mendes argumentou com o "apoio político" do Presidente da República ao Governo para convencer a presidente executiva (CEO) da TAP a mudar um voo da companhia aérea no regresso de Marcelo Rebelo de Sousa a Lisboa, vindo de Maputo. O voo acabou por não ser mudado, depois de a TAP ter percebido que o pedido que tinha chegado até à mesa da CEO não provinha "directamente" da Presidência, contou esta tarde na comissão parlamentar de inquérito Christine Ourmières-Widener.

O caso foi contado pelo deputado da IL Bernardo Blanco. O parlamentar revelou que em causa estava um e-mail interno com data de 10 Fevereiro recebido pela CEO da TAP sobre o que a companhia aérea devia fazer perante um pedido de alteração de 24 para 23 de Março do voo em que vinha o Presidente da República de Maputo.

Segundo as informações reveladas por Bernardo Blanco, a CEO da TAP enviou um e-mail ao secretário de Estado Hugo Mendes dizendo que sua "reacção espontânea" era declinar o pedido, mas que tratando-se de um voo para o Presidente da República queria conhecer a posição do lado do executivo.

De seguida, Bernardo Blanco leu a resposta de Hugo Mendes para Christine Ourmières-Widener. "Bom dia, sei que isto é um incómodo para ti mas não podemos mesmo perder o apoio político do Presidente da República. Ele tem-nos apoiado no que diz respeito à TAP, mas se o humor dele mudar, tudo se perde. Uma frase dele contra a TAP ou o Governo e ele empurra o resto do país contra nós. Não estou a exagerar. Ele é o nosso principal aliado político, mas pode transformar-se no nosso pior pesadelo."

Quando recebeu a resposta, a CEO revelou receio de que este e-mail viesse a público, o que acabou por acontecer agora, no âmbito da comissão parlamentar de inquérito.

Esta terça-feira à tarde, questionada sobre a existência de pressões políticas, a gestora sinalizou que a empresa sofria pressões que não imaginou quando assumiu funções, que não era fácil trabalhar nesse cenário e que foi preciso concentrar-se no seu trabalho – o que nem sempre era fácil.

Sobre o voo, revelou que entretanto verificou que o pedido "não era directamente da Presidência", acrescentando que "não houve alteração da data do voo".

Reunião com o PS antes da audição de Janeiro

Antes, a presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, confirmou ao mesmo deputado que esteve reunida com deputados do PS e com membros do Governo na véspera da sua última audição parlamentar, que se realizou a 18 de Janeiro, para falar do caso Alexandra Reis.

A revelação também foi feita por Bernardo Blanco e confirmada esta terça-feira pela ainda presidente executiva da TAP, depois de ter consultado a sua agenda e ladeada pelos seus advogados.

O encontro teve lugar às 12h00 do dia 17 de Janeiro e o descritivo era o de “reunião preparatória com o GPPS [Grupo Parlamentar do PS] sobre a audição à senhora PCE [presidente da comissão executiva] da TAP”.

Depois de o deputado ter perguntado se tinha havido alguma combinação de perguntas e respostas a fazer depois na audição do dia seguinte, a gestora disse que não se recordava de combinar questões e que lhe foram colocadas perguntas, às quais respondeu.

Do lado do deputado da IL, este classificou a situação como sendo “pouco ética”, com a existência de “promiscuidade entre quem devia ser escrutinado e quem deveria escrutinar no dia a seguir”.

O deputado enunciou que estiverem presentes no encontro personalidades como o chefe de gabinete do ministro das Infra-estruturas e a adjunta da ministra dos Assuntos Parlamentares.

“Esta deve ter sido a reunião mais participada que teve com o Partido Socialista e com o Governo”, ironizou Bernardo Blanco. Inquirida sobre se a reunião partiu do PS ou da TAP, a presidente da companhia aérea disse que a iniciativa tinha partido de uma recomendação do Ministério das Infra-estruturas.

Os deputados do PSD e do Chega mostraram o seu desagrado quando souberam do encontro organizado pelos socialistas com a presidente da TAP, tendo Paulo Moniz, do PSD, pedido para saber se algum dos presentes tinha estado nessa reunião. Christine Ourmières-Widener acabou por identificar o deputado do PS Carlos Pereira, que é coordenador do partido nesta comissão de inquérito, depois de este se ter recusado a responder ao PSD, afirmando que não eram os socialistas quem estava a ser alvo de inquérito.

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