Centenas de economistas avisam para consequências das reformas em Israel

Carta “de emergência” de um grupo que inclui um prémio Nobel diz que danos podem ser “mais poderosos e rápidos” do que o antes estimado.

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Polícia detém uma mulher no protesto contra as medidas propostas pelo Governo em Telavive AMMAR AWAD/Reuters

Os protestos contra a anunciada reforma judicial em Israel continuam e incluem acções tão diferentes como manifestações nas ruas, demissões de pessoas com funções públicas, ou cartas de especialistas de diversas áreas. A mais recente, esta quinta-feira, foi uma carta de centenas de economistas, com nomes sonantes incluindo um prémio Nobel, dizendo que os danos à economia do país que já tinham previsto serão ainda mais poderosos e rápidos caso a reforma vá em frente, segundo o diário Times of Israel.

As medidas controversas incluem cortar o poder do Supremo Tribunal para revogar leis que considere inconstitucionais, ou seja, que não estejam conformes com as leis básicas, que servem como constituição, que Israel não tem. Precisamente por não haver uma lei fundamental, basta uma votação por maioria simples no Parlamento para retirar esta prerrogativa ao Supremo, deixando o Parlamento com um poder sem contrapeso ou supervisão.

A segunda proposta problemática é mudar o modo de nomeação dos juízes, dando mais poder aos políticos.

O grupo de economistas que agora escreveu o que chamou uma “carta de emergência” já tinha antes alertado para os potenciais efeitos na economia destas medidas, comparando com a Polónia, que aprovou medidas de nomeação de juízes semelhantes.

“Desde que publicámos a nossa primeira petição [ao Governo para não levar a reforma em frente], há muitos sinais crescentes de que o dano à economia se pode manifestar de modo mais poderoso e mais rápido do que esperávamos”, diziam nesta segunda os economistas, entre os quais estão, além do Nobel Daniel Kahneman, dois antigos governadores do Banco Central de Israel, incluindo um que foi nomeado em 2013 pelo próprio Benjamin Netanyahu, segundo o diário.

Entre os sinais estão a descida do shekel, que está no valor mais baixo dos últimos três anos, o desempenho da Bolsa de Telavive está abaixo do esperado e empresas relevantes, como start-ups (Israel orgulha-se de ser a start up nation) e fundos de investimento estão a retirar capital do país. Num artigo publicado esta quinta-feira, o Financial Times dizia que Israel se arrisca a ser a "shut down nation".

A “carta de emergência” dos economistas foi publicada um dia depois de mais uma enorme manifestação contra as medidas – em que os manifestantes acabaram por se concentrar à porta de um cabeleireiro onde estava a mulher de Netanyahu, Sara. Netanyahu comparou estes manifestantes aos colonos que, no domingo, queimaram dezenas de carros e casas na localidade palestiniana de Hawara, no que o diário Haaretz considerou um "pogrom", e mataram um palestiniano a tiro, deixando outros feridos.

Também a demissão da embaixadora de Israel em França, Yael German, foi notícia. A responsável “deixou o posto diplomático mais desejado” para lutar contra a reforma judicial, segundo o Haaretz, que a entrevistou. “Farei tudo o que estiver ao meu alcance para parar este desastre”, declarou.

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