Quantas pessoas fugiram da Rússia desde o anúncio da mobilização parcial? E para onde foram?

Kremlin negou que 700 mil russos tenham fugido do país, mas os dados das viagens de avião e dos países vizinhos da Rússia apontam para uma saída em massa desde que Vladimir Putin anunciou uma mobilização parcial militar de reservistas para a guerra na Ucrânia.

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Cidadãos russos a caminho da Geórgia EPA/ZURAB KURTSIKIDZE

Os cidadãos russos começaram a cruzar as fronteiras para os países vizinhos pouco depois de o presidente Vladimir Putin anunciar uma mobilização parcial militar de reservistas para a guerra na Ucrânia, a 21 de Setembro.

Quantas pessoas fugiram da Rússia desde o anúncio da mobilização?

É difícil avançar com valores precisos, mas o número de russos que saíram do país pode chegar às centenas de milhares, com base nas informações reveladas pelos países vizinhos e nas redes sociais. Os números divulgados podem incluir não só homens que querem escapar ao recrutamento, mas também membros da família e outros viajantes.

O jornal independente russo Novaya Gazeta Europe avançou, a 26 de Setembro, que 216 mil homens saíram da Rússia desde que a mobilização foi anunciada, citando uma fonte do Kremlin, números que foram verificados pela Reuters.

Os dados das viagens de avião também apontam para um êxodo. O número de bilhetes só com viagem de ida vendidos na Rússia aumentou 27% de 21 a 27 de Setembro, em comparação com a semana anterior, de acordo com a analista de reservas ForwardKeys, com sede em Espanha.

O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, anunciou que a Rússia está a planear recrutar 300 mil homens. A 4 de Outubro, Shoigu avançou que mais de 200 mil pessoas já tinham sido convocadas.

Para onde vai a maioria?

Por poderem entrar sem passaporte ou visto, muitos estão a ir para o Cazaquistão, que partilha a segunda maior fronteira terrestre do mundo com a Rússia. O Cazaquistão disse, a 3 de Outubro, que mais de 200 mil russos entraram no país desde 21 de Setembro e que cerca de 147 mil saíram no mesmo período, embora o destino deste segundo grupo não seja conhecido.

A Geórgia, onde os russos também podem entrar sem visto, disse que 68.887 cidadãos chegaram ao país de 21 a 29 de Setembro, enquanto 45.624 partiram.

Os dados de reservas de viagens aéreas da ForwardKeys mostram um aumento de três dígitos em viagens (só de ida) da Rússia para Tbilisi (capital da Geórgia), Almaty (cidade no Cazaquistão), Istambul, Tel Aviv e Dubai, na semana que acabou a 27 de Setembro.

A Turquia, um destino turístico popular entre os russos, também registou um aumento nas chegadas. Cerca de três milhões de pessoas chegaram à Turquia vindos da Rússia até o final de Agosto, um aumento de 22% em relação a 2021, mostram dados oficiais. Muitos russos também estão a dirigir-se para a Europa.

Quantos russos chegaram à UE ou a outros países europeus?

A União Europeia detectou um aumento nas chegadas após o anúncio de Putin. Cerca de 66 mil cidadãos russos entraram nos países do bloco de 19 a 25 de Setembro, um aumento de 30% em relação à semana anterior, mostraram os dados da agência Frontex.

O número caiu para 53 mil na semana que começou a 26 de Setembro, disse a Frontex, mencionando a política para reduzir a emissão de vistos da UE e algumas medidas russas para impedir a saída de homens em idade militar. A maioria dos russos que entraram na UE já tinham autorizações de residência ou vistos, enquanto outros tinham dupla cidadania.

A Finlândia, que tem uma fronteira de 1300 quilómetros com a Rússia, tem sido o principal ponto de chegada à UE. Dados finlandeses mostraram que o número de turistas russos que chegam através de quatro pontos de controlo na fronteira duplicou nos dias após 21 de Setembro.

De 21 de Setembro a 5 de Outubro, 59.975 russos chegaram à Finlândia através destes quatro pontos, mas muitos partiram depois para outros países europeus, enquanto 36.116 russos voltaram para casa.

Como estão a reagir os países europeus?

A Estónia, Letónia, Lituânia e Polónia começaram a não permitir a entrada a russos com vistos de turista emitidos por qualquer um dos países que pertencem ao Espaço Schengen a 19 de Setembro. A Finlândia seguiu o exemplo em 30 de Setembro.

O ministro da Justiça da Noruega disse que o governo poderia proibir novas chegadas da Rússia a curto prazo, se necessário.

Desde que a mobilização começou, as embaixadas alemãs na Arménia, Cazaquistão, Geórgia, Cazaquistão e Bielorrússia viram um aumento de pedidos de audiência por parte de cidadãos russos que desejam viajar para a Alemanha e para outros países da UE.

A França também será selectiva no processo de decidir quem pode permanecer no país. “Vamos garantir que os jornalistas dissidentes, as pessoas que lutam contra o regime, os artistas e os estudantes ainda possam viajar para França”, disse a secretária de Estados dos Assuntos Europeus, Laurence Boone.

O que diz a Rússia?

O Kremlin negou esta quinta-feira as informação de que 700 mil russos fugiram do país desde que Moscovo anunciou a campanha de mobilização militar parcial que, segundo a Rússia, reforçaria as forças russas na Ucrânia em centenas de milhares de cidadãos. Numa entrevista, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que não possuiu números exactos das pessoas que deixaram o país desde o anúncio de Putin.