Biden foi à ONU denunciar a “guerra de um só homem” e alertar: um conflito nuclear não terá vencedores

Presidente dos EUA pediu união contra as “ameaças irresponsáveis” de Putin e defendeu que os Estados não podem ser “testemunhas passivas da História”. UE e Reino Unido dizem que a “mobilização” russa é uma “demonstração de fraqueza”.

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Joe Biden discursou no segundo dia de intervenções na Assembleia Geral da ONU EPA/JUSTIN LANE

Não se sabe se o discurso que Joe Biden tinha preparado para a sua intervenção desta quarta-feira na 77.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, teve de ser reescrito face ao anúncio de “mobilização parcial” das forças russas para a Ucrânia feito, horas antes, por Vladimir Putin; certo é que a mensagem matinal do seu homólogo russo deu ao Presidente dos Estados Unidos uma oportunidade de ouro para fazer da sua intervenção no maior palco mundial de nações um manifesto de responsabilização pessoal de Putin pelos “horrores” no terreno e, principalmente, pela “ameaça” que toca a todos, independentemente do seu posicionamento sobre o conflito: um cenário de guerra nuclear.

“Hoje, o Presidente Putin fez novas ameaças nucleares à Europa, num acto de desprezo irresponsável por um regime de não-proliferação; agora a Rússia está a chamar mais soldados para se juntarem à luta; o Kremlin está a organizar referendos fictícios para anexar partes da Ucrânia – são violações extremas da Carta da Nações Unidas”, denunciou Biden, para depois alertar: “Uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca pode ser travada.”

Na sua mensagem aos russos (e ao mundo), Putin tinha assegurado que não estava a “fazer bluff” quando dizia que a Rússia “vai usar todos os meios que tem ao seu dispor” para proteger “o seu povo”, para além da mobilização de mais 300 mil reservistas.

Segundo o chefe de Estado norte-americano, a guerra na Ucrânia é uma “guerra desnecessária de um só homem” – Vladimir Putin – e “é, pura e simplesmente, sobre a extinção do direito da Ucrânia de existir enquanto Estado e enquanto povo”.

Joe Biden também denunciou “ataques” russos contra “escolas, estações de comboio e hospitais” ucranianos e disse que há “provas ainda mais horríveis dos crimes de guerra da Rússia” na Ucrânia, fazendo referência aos “sinais de tortura” e às denúncias de assassinatos e desaparecimentos forçados em cidades ucranianas como Izium.

Defendendo que os Estados não podem ser “testemunhas passivas da História”, mas “autores da História”, no que toca à forma como lidam com conflitos armados, alterações climáticas, crises alimentares ou violações de direitos humanos, o Presidente dos EUA propôs uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, nomeadamente um “alargamento do número de representantes permanentes e não-permanentes”.

Ao mesmo tempo, prometeu fundos para o combate à insegurança alimentar e garantiu que os EUA não querem uma nova Guerra Fria com a China.

Do lado europeu, também houve críticas ao discurso e às medidas anunciadas por Putin. Num comunicado conjunto, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e Elizabeth Truss, primeira-ministra do Reino Unido, que se reuniram em Nova Iorque, concordaram que a “mobilização de partes da população” russa é um “sinal de que a invasão russa” da Ucrânia “está a fracassar” e é uma “demonstração de fraqueza” do Kremlin.

Focando-se na ameaça com maior potencial de catástrofe, o alto-representante para a Política Externa e de Segurança da UE, Josep Borrell, recorreu ao Twitter para dizer que “ameaçar com armas nucleares é inaceitável e é um perigo real” para o mundo inteiro. “A comunidade internacional deve unir-se para prevenir tais acções. A paz mundial está em perigo”, alertou.

Afirmando que a mobilização de mais tropas para a Ucrânia vai fazer “escalar o conflito” e trazer “mais sofrimento e mais perdas de vidas, ucranianas mas também russas”, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, defendeu, ainda assim, em entrevista à Reuters, “que a única forma de acabar com a guerra é provar que o Presidente Putin não vai vencer no campo de batalha”, para que ele “perceba que tem de se sentar e negociar um acordo razoável com a Ucrânia”.

Um acordo que, segundo Biden, não pode, no entanto, passar pela “captura de território de uma nação”. “Se as nações podem prosseguir as suas ambições territoriais sem consequências, pomos em risco tudo aquilo que esta mesma instituição defende”, disse aos Estados-membros da ONU. “Tudo!”, repetiu.

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