Ciro critica “polarização odienta” e volta a comparar PT e Bolsonaro

“Você que vota no Bolsonaro porque não quer o Lula de volta, me dá uma chance. Você que vota no Lula porque não quer mais o Bolsonaro, há um país para governar, me dê uma oportunidade”, pediu o candidato numa entrevista à TV Globo.

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Ciro Gomes em campanha no Rio de Janeiro ANDRE COELHO/EPA

Em terceiro lugar nas sondagens a caminho das presidenciais de 2 de Outubro no Brasil, o candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT), Ciro Gomes, acusou os dois principais rivais de estarem a tentar repetir “uma espécie de 2018”, protagonizando uma “polarização odienta”. O ex-ministro foi o segundo entrevistado pelo Jornal Nacional da TV Globo, depois da entrevista ao Presidente, Jair Bolsonaro, na segunda-feira à noite, e dois dias antes da de Lula da Silva.

Ao contrário de Bolsonaro e de Lula, diz Ciro, ele “estava lá em 2018 tentado advertir que as pessoas não podiam usar a promessa enganosa do Bolsonaro para repudiar a corrupção generalizada e o colapso económico gravíssimo que foram produzidos pelo PT”, o Partido dos Trabalhadores, de Lula da Silva.

“É grande a massa que vai votar Lula para se livrar do Bolsonaro, mas esqueceram que amanhã tem um país para governar”, defendeu o candidato. Segundo a última sondagem da Datafolha, divulgada na semana passada, Bolsonaro (32%) está a cerca de 15 pontos percentuais de Lula da Silva (47%) na primeira volta das eleições. Ciro surge muito atrás, com 7% das intenções de voto.

Ciro disse que pretende mudar o modelo de presidencialismo de coligação que vigora no Brasil, no qual os partidos do chamado centrão se tornaram fundamentais para garantir a governabilidade do chefe do Executivo. “Este modelo é a certeza de uma crise eterna. Lula, para cadeia, Dilma [Rousseff] cassada [impugnada], [ex-presidente Fernando] Collor cassado, Fernando Henrique – o PSDB nunca mais disputou eleição nacional –, e Bolsonaro desmoralizado agora”, afirmou o ex-ministro das Finanças (com Itamar Franco) e da Integração Nacional (no primeiro governo de Lula da Silva).

O candidato propôs, assim, transformar sua eleição não num voto pessoal, mas num plebiscito programático. Reiterou uma das suas propostas de governo, o fim da reeleição, afirmando que a medida ajudaria a dar mais segurança política ao país. “O que destruiu a governança política brasileira nesse modelo foi a reeleição. O Presidente se coloca com medo dos conflitos porque quer agradar a todo mundo porque quer a reeleição. O Presidente se vende a esses grupos picaretas da política brasileira, desculpe a expressão, porque tem medo de CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] e porque quer se reeleger.”

Sem conseguir fechar alianças, Ciro teve de recorrer a uma solução interna para compor sua candidatura. A escolhida foi a vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos, candidata à vice-presidência. Na entrevista, ele tentou explicar o isolamento e apresentou-se como um abolicionista num sistema esclavagista. “Você não vai esperar que um esclavagista ajude um abolicionista. É basicamente o que eu estou tentando fazer”, disse. “Libertar o Brasil de uma crise que corrompeu organicamente a Presidência da República e a transformou numa espécie de esconderijo do pacto de corrupção e fisiologia no Brasil”, resumiu.

A escolha de Ana Paula foi também um aceno ao candidato ao Governo da Baía, ACM Neto, presidente do DEM (Democratas, partido de centro-direita), elogiado por Ciro na entrevista. Ele citou os planos adoptados pelo aliado para conter as enchentes na capital baiana. “As encostas em Salvador têm diminuído muito graças ao grande governo que o ACM Neto fez como prefeito”.

A entrevista de Bolsonaro foi outros dos temas da entrevista a Ciro. “Eu vi ontem [segunda-feira] aqui o cidadão dizendo que não há corrupção no Brasil, mas a corrupção está institucionalizada, está um despudor porque manipula o dinheiro público”, defendeu.

“Você que vota no Bolsonaro porque não quer o Lula de volta, me dá uma chance. Você que vota no Lula porque não quer mais o Bolsonaro, há um país para governar, me dê uma oportunidade. E você indeciso, sabe quantos são vocês? Mais da metade da população. Está na mão de vocês mudar o Brasil”, apelou o candidato. Pouco antes do início da entrevista, Ciro já dava o tom, num vídeo publicado nas redes sociais, afirmando que fará um esforço para que “essa campanha não seja resolvida de véspera, como quer o sistemão, obrigando você a escolher entre o coisa ruim e o coisa pior”.

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S.Paulo

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