Jornal alemão contrata jornalista que invadiu telejornal russo em protesto contra a guerra

A jornalista Marina Ovsiannikova, que protestou em directo contra a “propaganda russa” transmitida pelo seu canal, foi agora contratada pelo jornal alemão Die Welt pela “coragem demonstrada”.

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O momento em que Marina Ovsiannikova empunhou o cartaz com a frase "Russians Against War" EPA/DSK

O jornal alemão Die Welt contratou como correspondente Marina Ovsiannikova, a jornalista russa que invadiu um noticiário ao vivo na televisão estatal russa em protesto contra a guerra na Ucrânia há cerca de um mês, informou o seu proprietário, Axel Springer, citado pelo jornal The Guardian.

Ovsiannikova, de 43 anos, será correspondente e fará reportagens para o jornal e também para o canal de notícias televisivo do Die Welt, inclusivamente sobre a Ucrânia e a Rússia, acrescentou Springer. A ex-editora do canal estatal russo Channel One “defendeu a ética jornalística apesar da ameaça de repressão estatal” através do seu protesto, representando uma voz activa quer no âmbito da guerra quer no jornalismo disse o editor-chefe do jornal alemão, Ulf Poschardt, justificando esta contratação.

Representou a “coragem num momento decisivo e defendeu as virtudes jornalísticas mais importantes apesar da ameaça de repressão estatal” acrescentou. Ovsiannikova, por sua vez, disse que o Die Welt “representa o que está a ser defendido com tanta veemência pelas pessoas corajosas na Ucrânia: a liberdade”. “Vejo como minha tarefa como jornalista defender essa mesma liberdade”, sublinhou.

Ovsiannikova foi, na altura, multada em 30.000 rublos (343 euros) por ter interrompido a transmissão ao vivo do noticiário nocturno, gritando e empunhando um cartaz que dizia: “Parem a guerra. Não acreditem na propaganda. Eles estão sempre a mentir-vos”. Este cartaz terminava com a frase Russians Against War("Russos Contra a Guerra”).


"Não reconheço a minha culpa. Continuo convencida de que a Rússia está a cometer um crime e que é o invasor da Ucrânia”, afirmou a jornalista no final do seu julgamento. Para além disto, Ovsiannikova já tinha publicado um vídeo no qual expressava a sua vergonha por trabalhar para o Channel One onde, segundo a própria, “espalhava a propaganda do Kremlin”.

“Lamentavelmente, durante alguns anos trabalhei no Canal 1 e na propaganda do Kremlin, estou muito envergonhada por isso neste momento. Envergonhada por me ter sido permitido contar mentiras a partir do ecrã da televisão. Envergonhada por ter permitido a ‘zombificação’ do povo russo. Ficámos em silêncio em 2014, quando isto estava apenas a começar. Não saímos para protestar quando o Kremlin envenenou Navalny”, pode ouvir-se neste vídeo.

Foi a primeira vez que um trabalhador dos meios de comunicação estatais russos denunciou publicamente a guerra que a Rússia está a travar, numa altura em que o regime russo começou a apertar na censura à comunicação sobre o conflito que continua a descrever como uma “operação militar especial”. Segundo avança o jornal britânico The Guardian, outros programas de notícias que divulgaram os instantes do protesto desfocaram a mensagem do cartaz levado pela manifestante.

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