Ucrânia prepara-se para decretar estado de emergência a nível nacional

Presidente russo diz estar disponível para “encontrar solução diplomática”, mas afirma que os interesses da Rússia “não são negociáveis”.

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Protesto em frente à embaixada russa em Kiev contra o reconhecimento da independência dos territórios separatistas por Moscovo UMIT BEKTAS / Reuters
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Vladimir Putin, Presidente da Federação Russa SERGEY GUNEEV / SPUTNIK / KREMLIN POOL/EPA

A Ucrânia prepara-se para declarar o estado de emergência em todo o país e mobilizou os militares na reserva para responder à ameaça de uma ofensiva russa no Leste do país.

O Parlamento ucraniano deverá aprovar esta quarta-feira a declaração do estado de emergência a pedido do Conselho de Defesa e Segurança Nacional, que deve ter a duração de 30 dias. No entanto, segundo explicou o secretário do conselho, Alexei Danilov, as medidas deste regime vão ser definidas por cada província, dependendo da sua necessidade e estado de alerta. O estado de emergência prevê a imposição de restrições na circulação e, potencialmente, de toques de recolher.

Na terça-feira à noite, o Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, assinou um decreto para mobilizar os militares na reserva para “aumentar a prontidão do Exército ucraniano” à luz das movimentações de tropas russas no Donbass. A Rússia anunciou que pretende enviar forças de “manutenção de paz” para os dois territórios separatistas cuja independência o Kremlin reconheceu.

O Governo disse que o primeiro grupo de 36 mil militares na reserva, composto sobretudo de veteranos com experiência de combate no conflito que se arrasta há oito anos no Leste do país, já foi chamado. Zelensky considerou prematuro declarar uma mobilização geral da população nesta altura.

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O Ministério dos Negócios Estrangeiros também pediu aos cidadãos ucranianos que se encontrem na Rússia para regressarem ao país.

Putin fala em “diplomacia"

Esta quarta-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin disse estar disponível para “encontrar soluções diplomáticas” para a crise, dois dias depois de ter reconhecido como Estados independentes as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e de Lugansk, no Leste da Ucrânia, e de ter anunciado o destacamento de “forças de manutenção da paz” para os territórios, motivando uma onda de sanções dos países Ocidentais à Federação Russa.

Num discurso ao país, no âmbito das comemorações do Dia dos Defensores da Pátria – uma celebração das Forças Armadas e dos veteranos russos que vem dos tempos da União Soviética, e que foi recuperada e readaptada aos desígnios da Rússia moderna – o Presidente russo garantiu, porém, que não vai abrir mão dos “interesses” do país.

“O nosso país está sempre disponível para um diálogo directo e honesto [e] para encontrar soluções diplomáticas para os problemas mais complexos”, afiançou Putin, num vídeo divulgado nesta quarta-feira pelo Kremlin.

“[Mas] os interesses da Rússia, a segurança dos nossos cidadãos, não são negociáveis”, esclareceu, citado pela AFP. “Por isso, vamos continuar a reforçar e a modernizar o nosso Exército e a nossa Marinha”.

Embora a via diplomática continue a ser referida pela maioria dos representantes dos países e das organizações envolvidos na crise ucraniana como a melhor ferramenta para a sua resolução, os países ocidentais viram na decisão russa de reconhecer as províncias separatistas e de anunciar o envio de tropas para a região do Donbass a confirmação de que é preciso adoptar uma postura de desconfiança máxima em relação às intenções e aos objectivos estratégicos da Rússia.

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Nesse sentido, praticamente todos os contactos diplomáticos que estavam previstos para os próximos dias com representantes russos foram suspensos ou cancelados, com destaque para o encontro entre Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, e Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros russo.

“Agora que vemos que a invasão está a começar e que a Rússia deixou claro a sua rejeição total da diplomacia, não faz sentido avançar com este encontro nesta altura”, explicou o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, na terça-feira.

Num encontro em Moscovo com o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, também na terça-feira, Putin tinha dito que a Rússia apenas “reconheceu as novas realidades geopolíticas”. “Mesmo nas situações mais extremas, actuámos sempre com muito cuidado, seguindo os interesses de todos os Estados envolvidos (…) e tentámos sempre chegar a soluções mutuamente aceitáveis”, assegurou, citado pela RT.

Mas para a NATO e para os seus aliados, o reconhecimento das duas províncias ucranianas, ocupadas por separatistas pró-russos desde 2014, era o pretexto há muito procurado por Putin para invadir a Ucrânia e justificar a presença de mais de 150 mil soldados estacionados em diferentes pontos da fronteira ucraniana. Na terça-feira, Putin esclareceu que o reconhecimento da independência dos dois territórios incide sobre a totalidade das regiões de Donetsk e Lugansk, incluindo zonas que se mantêm sob controlo de Kiev, o que pode abrir a possibilidade de as forças russas virem a apoiar novas iniciativas militares dos rebeldes.

Resposta ocidental com sanções

Em resposta às movimentações de Moscovo, Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e Canadá anunciaram, na terça-feira, os primeiros pacotes de sanções punitivas dirigidas a bancos, empresários e membros da elite russa, próxima do Kremlin e de Putin, mas também de medidas de proibição de investimento em Donetsk e Lugansk.

O país mais ousado nas punições à Rússia foi a Alemanha, que ordenou a suspensão do Nord Stream 2, o enorme gasoduto, pronto a estrear, que liga os dois países através do Mar Báltico, e que é visto como uma galinha de ovos de ouro para Moscovo, uma vez que pode aumentar decisivamente a capacidade de exportação de gás natural russo para o mercado europeu – aumentando também, com isso, a dependência europeia na Rússia.

Nesta quarta-feira, os Governos do Japão e da Austrália juntaram-se na imposição de sanções e, segundo agência Yonhap, a Coreia do Sul encetou conversas com os EUA para perceber se também castiga a Rússia.

Quanto à China, que falou através de um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, citado pela Reuters, continua a defender que as sanções “não são a melhor forma de resolver problemas”.

Também nesta quarta-feira, o Governo britânico acrescentou às sanções impostas na véspera a cinco bancos e a três oligarcas russos, a promessa de suspensão de venda de divida soberana à Rússia, assim que as tropas russas entrarem no Donbass.

Apesar de significativas, as sanções ficaram um pouco aquém daquilo que foi prometido pelos vários Estados. Os líderes políticos Ocidentais garantem, porém, que estão a guardar as sanções “mais duras” para futuro, fazendo-as depender dos próximos passos do Kremlin.

“Ainda ficamos com muitas munições no nosso arsenal por utilizar, em função do comportamento da Rússia”, justificou Josep Borrell, alto representante para a Política Externa e de Segurança da UE.

No seu discurso ao país, nesta quarta-feira, Vladimir Putin fez questão de lançar um aviso para fora de portas, sublinhando que a Federação Russa está a investir fortemente nas suas capacidades de Defesa.

“Vamos continuar a desenvolver sistemas de armamento avançados, incluindo hipersónicos e baseados em novos princípios físicos, e a expandir a utilização de tecnologias digitais avançadas e de elemento de inteligência artificial”, elencou. “São, verdadeiramente, as armas do futuro, que aumentam significativamente o potencial de combate das nossas Forças Armadas”.

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