Scholz visita Kiev e Moscovo sem esperar “resultados concretos”

Chanceler alemão avisou este domingo que as sanções do Ocidente serão “imediatas” caso a Rússia invada a Ucrânia. No encontro com Putin, na terça-feira, Scholz dirá que a unidade entre a União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido “não deve ser subestimada”.

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Olaf Scholz, chanceler alemão Reuters/POOL

A ofensiva diplomática para tentar resolver a tensão na fronteira da Rússia com a Ucrânia prossegue esta segunda-feira com a visita do chanceler alemão a Kiev e, no dia seguinte, a Moscovo, num esforço que Berlim já admitiu não esperar que conduza a resultados concretos.

Na véspera da viagem, Olaf Scholz avisou este domingo que as sanções ocidentais à Rússia serão “imediatas” em caso de invasão da Ucrânia.

“Se houver uma agressão militar contra a Ucrânia, que poria em risco a sua soberania e integridade territorial, isso levará a duras sanções, que preparámos cuidadosamente e que podemos pôr em prática imediatamente com os nossos aliados na Europa e no seio da NATO”, afirmou Scholz.

Na conversa que terá na terça-feira com Vladimir Putin - o líder russo falou no sábado com os presidentes dos EUA e de França, Joe Biden e Emmanuel Macron, respectivamente - o chanceler alemão dirá ao Presidente da Rússia que a concentração de tropas junto à fronteira com a Ucrânia “só pode ser interpretada como uma ameaça”, avançou uma fonte do Governo de Berlim, citada pela Reuters.

“O chanceler deixará claro que qualquer ataque à Ucrânia terá consequências pesadas (...) e que não se deve subestimar a unidade entre a União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido”, disse a mesma fonte, acrescentando que embora o executivo alemão não espere resultados concretos, “estas conversações directas são importantes”.

De fora do “kit de ferramentas” que Scholz levará a Moscovo, como definiu a fonte do Governo alemão, ficará a discussão de uma eventual moratória à adesão da Ucrânia à NATO. “O que estiver a acontecer no terreno é que determina se a Rússia está, de facto, a desescalar a tensão”, adiantou.

“A situação actual já é, por si só, desestabilizadora e pode ficar fora de controlo”, acrescentou.

A questão da ajuda a Kiev

Antes do frente-a-frente com Vladimir Putin, Olaf Scholz encontra-se esta segunda-feira em Kiev com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, numa conversa em que os dois líderes tentarão resolver a tensão criada pela recusa de Berlim em fornecer armas a Kiev.

Antes do encontro entre Scholz e Zelenskyi, o Governo de Berlim já fez saber que está a ponderar fornecer à Ucrânia parte da ajuda solicitada por Kiev, mas continua a colocar de parte incluir nesse pacote qualquer tipo de apoio militar letal, refugiando-se na política adoptada desde o fim do regime nazi, de não exportar armas para zonas de conflito.

A Alemanha segue a política de sanções impostas à Rússia pela União Europeia após a anexação da Crimeia em 2014, que incluem o embargo na venda de armas a Moscovo. No entanto, uma investigação do jornal Welt am Sontag publicada este domingo revela que as empresas alemãs continuaram a fornecer à Rússia produtos de dupla utilização civil e militar com a aprovação das autoridades federais.

Em 2020, o Gabinete Federal de Economia e Controlo das Exportações (Bafa) emitiu 673 licenças para a exportação destes bens, com destino à Rússia, no valor de quase 366 milhões de euros.

Entre os itens que chegaram à Rússia inclui-se maquinaria que pode ser usada na produção de armas, tecnologia para construção de aeronaves ou certos produtos químicos. Uma discrepância que o embaixador ucraniano na Alemanha, Andrij Melnyk, criticou este domingo no Twitter como um exemplo da “hipocrisia alemã”.

Com as armas fora de questão, a Alemanha está a considerar o fornecimento de outros itens que constam da lista entregue por Kiev no início deste mês, que inclui, por exemplo, equipamentos de detecção de minas, rádios, sistemas antidrones, sistemas de rastreamento electrónico e equipamentos de visão nocturna.

“A lista contém uma ou duas coisas que poderíamos examinar com calma”, declarou uma fonte do Governo alemão, citada pela France Presse.

Embora não se espere o envio imediato de ajuda material após o encontro entre Scholz e Zelenskiy, fontes do Governo alemão acreditam que Berlim poderá aumentar a ajuda financeira, outra solicitação feita por Kiev.

“Estamos a examinar se ainda há oportunidades bilaterais de contribuir para um apoio económico”, afirmou a mesma fonte.

Numa entrevista à rádio pública alemã, o embaixador Andrij Melnyk pediu no sábado que, durante a visita de Scholz, seja anunciado um plano de ajuda “de vários milhões” de euros.

Desde a anexação da Crimeia em 2014 por Moscovo que a Alemanha tem sido o país que mais tem prestado ajuda financeira bilateral à Ucrânia, num total de dois mil milhões de euros, aos quais se soma uma linha de crédito de 500 milhões de euros, tendo já sido usados cerca de dois terços do montante total.

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