Rússia inicia mais exercícios militares perto da fronteira com a Ucrânia

Não há sinais de recuo militar por parte da Rússia. EUA estão à procura de fornecedores alternativos de gás natural para a União Europeia para antecipar interrupções.

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Camião militar russo a caminho da Bielorrússia para participar nos exercícios conjuntos RUSSIAN DEFENCE MINISTRY PRESS SERVICE / HANDOUT / EPA

A Rússia deu início esta terça-feira a uma série de exercícios militares, envolvendo milhares de unidades, perto da fronteira com a Ucrânia, deixando críticas ao papel dos EUA na crise.

O Ministério da Defesa russo disse ter iniciado exercícios que envolvem seis mil soldados e 60 caças nas regiões de Rostov e Krasnodar, perto da fronteira com a Ucrânia e com a Crimeia, a península anexada por Moscovo em 2014. Também foram mobilizadas as unidades de tanques pertencentes à Frota Russa do Mar Negro, ancorada na Crimeia, para integrar exercícios de tiro.

Não foi dada qualquer estimativa para a duração destas manobras. No final do ano passado, a Rússia organizou exercícios com dez mil militares em várias regiões do sul, incluindo a Crimeia.

Ao mesmo tempo, as forças militares russas iniciaram esta semana exercícios conjuntos com a Bielorrússia, também perto da fronteira com a Ucrânia e de países pertencentes à NATO, como a Polónia e a Lituânia.

As movimentações de tropas russas desde o final do ano passado desencadearam uma das mais graves crises entre Moscovo e a NATO nos últimos anos. Os EUA e os seus aliados estão convictos de que a Rússia mobilizou perto de cem mil soldados para preparar uma invasão do Leste da Ucrânia e avisaram que vão impor sanções pesadas nessa eventualidade.

A Rússia nega a intenção de invadir a Ucrânia e acusa, por seu turno, Washington de estar a provocar uma subida da tensão na Europa de Leste. O Kremlin disse que iria vigiar de perto as movimentações dos EUA, depois de o Pentágono ter revelado que tem 8500 soldados em prontidão para serem mobilizados para reforçar o flanco leste da NATO, caso a Rússia avance sobre a Ucrânia.

Para além de ameaçar impor sanções à Rússia, os EUA e os seus aliados têm reforçado o apoio financeiro e militar à Ucrânia, através do envio de armamento. Esta terça-feira, aterrou em Kiev mais um avião militar norte-americano com equipamento e munições que integram um pacote no valor de 200 milhões de dólares (177 milhões de euros). Apesar das garantias de apoio, Washington exclui qualquer possibilidade de intervir militarmente para defender a Ucrânia de uma potencial invasão russa.

Foi isso mesmo que a Casa Branca disse esta terça-feira, um dia depois de o Pentágono ter anunciado que colocou uma força de 8500 soldados em alerta máximo.

“Só para ficar claro: não há intenção, interesse ou desejo do Presidente Joe Biden de enviar tropas para a Ucrânia. A NATO é o fórum indicado para apoiar os nossos parceiros no Leste da Europa, o nosso foco tem sido esse”, afirmou a porta-voz, Jen Psaki.

Depois de o Reino Unido e os EUA, esta terça-feira foi a vez do Canadá dar ordem para a retirada dos familiares dos seus diplomatas colocados em Kiev por causa “da mobilização militar russa e pelas actividades de desestabilização em torno e no interior da Ucrânia”, revelou o Ministério dos Negócios Estrangeiros. O Governo ucraniano tinha criticado a decisão semelhante de Londres e de Washington, que considerou “prematura”.

Em paralelo com as movimentações no terreno, os esforços diplomáticos para evitar um conflito declarado decorrem. O Presidente francês, Emmanuel Macron, vai falar esta semana directamente com o homólogo russo, Vladimir Putin, revelou o Kremlin. Na última sexta-feira, os chefes da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, e da Rússia, Serguei Lavrov, admitiram a possibilidade de uma cimeira entre Putin e Joe Biden.

Embora a opção diplomática permaneça em cima da mesa, começam a ser divulgados alguns planos de contingência em caso de conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Fontes da Casa Branca disseram esta terça-feira que os EUA estão a tentar encontrar fontes alternativas de gás natural para garantir o fornecimento para a Europa se houver uma interrupção por parte de Moscovo.

Grande parte do gás que chega aos consumidores europeus vem da Rússia e atravessa a Ucrânia e não seria a primeira vez que o fornecimento seria interrompido como forma de pressão política.

Os responsáveis norte-americanos têm estado em contacto com produtores do Norte de África, Médio Oriente, Ásia e dos próprios EUA, que têm tentado aumentar a produção de gás natural liquefeito (LNG), refere a Reuters. Apesar da iniciativa, as principais empresas do sector têm dito que as reservas são baixas e é improvável que sejam suficientes para substituir o grande volume que circula entre a Rússia e a Europa durante o Inverno.

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