Guardas-florestais (e floresta?)

Se tivéssemos uma opinião pública menos assoberbada com problemas de quase sobrevivência económica e estivesse mais motivada para uma cidadania activa, a política florestal seria motivo de preocupação e reacção.

Dando de barato que em Portugal não temos florestas, a não ser pequenas áreas residuais, temos sim matas em regra monoespecíficas de pinheiro e eucalipto e o que temos de sobra são grandes problemas com o sector.

Têm surgido notícias sobre as reivindicações de guardas-florestais e – vejam lá! – sobre a renovação do Pinhal de Leiria, ex-libris da silvicultura nacional, que foi destruído pelo fogo por já lá não estarem os guardas-florestais que o deviam proteger – e os políticos que o decidiram nunca foram, nem nunca serão, chamados à responsabilidade. Sempre lá tinham ocorrido, ao longo de décadas, pequenos incêndios, que os guardas-florestais vigiavam a tempo e, com os trabalhadores permanentes (que também haviam desaparecido…), debelavam com prontidão.

Se tivéssemos uma opinião pública menos assoberbada com problemas de quase sobrevivência económica e que estivesse mais motivada para uma cidadania activa, como acontece em alguns países europeus, a política florestal que afinal tem que gerir uma grande percentagem do território português seria motivo de preocupação e reacção. E assunto de discussão para os políticos, que não é.

Cometendo o pecado de repetir sempre a mesma tecla, parece que na vida política portuguesa ninguém pára a pensar e a preocupar-se minimamente com a atitude criminosa de terem sido extintos os Serviços Florestais e a sua instalação no território, obtida através duma quadrícula de casas florestais agrupadas em administrações florestais.

Custa muito a entender? Os guardas-florestais, em país nenhum, são polícias, eles são o primeiro escalão dos técnicos florestais, a seguir vinham os mestres florestais que eram verdadeiros senhores das matas e sabiam mais que muitos engenheiros (e muito mais que os políticos que decidem sobre eles), seguiam-se os administradores florestais que enquadravam a estrutura e, no topo, os chefes de circunscrição que geriam as grandes regiões demarcadas. Era uma cadeia hierárquica multisecular que guardava o património florestal português.

Até que surgiram uns iluminados (mais ou menos preocupados com as celuloses…) que acabaram com a orgânica que já vinha – imagine-se este “atraso civilizacional”… –​ desde o tempo dos romanos com o velho direito do ager-saltus-silva. E como agora são sempre pessoas esclarecidas, até separaram de vez as florestas da agricultura, como sendo coisas que nada têm a ver uma com a outra. Inteligências de que todos sofremos as consequências…

Nos fogos de 2017 houve grande pressa em despedir a ministra da Administração Interna (depois, com outro MAI, não houve pressa nenhuma…) quando a culpa dos incêndios gigantescos não era dela, mas sim da falta de um ministro das Florestas que fosse capaz e da falta da tal política florestal, que tivesse oferecido capacidade aos serviços para responderem de outra maneira.

Os eucaliptais e pinhais estremes têm o seu lugar, mas depois de um ordenamento florestal, hoje inexistente, que oriente a distribuição de todas as espécies que devem compor o nosso património florestal. Só matas monoespecíficas, não! – entendam isso! Mas como estamos a entrar num Ano Novo, pode ser que caia do Céu um milagre sobre as mentes de quem vier a formar um novo Governo e se decida a reorganizar o sector em termos de futuro.

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