Director da UEFA criticou Cristiano Ronaldo por afastar as garrafas de Coca-Cola

UEFA exige respeito por patrocinadores e lembra que “multa é uma possibilidade”, já que as federações aceitam as regras de participação. Enquanto isso, nutricionistas apelam a um debate público sobre que tipo de patrocínios se devem ver num evento desportivo.

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Cristiano Ronaldo Reuters

O director do Euro 2020, Martin Kallen, criticou, esta quinta-feira, a remoção de garrafas de patrocinadores da competição, tanto por Cristiano Ronaldo como por Paul Pogba e Manuel Locatelli, frisando que as “receitas [publicitárias] são importantes para o futebol europeu”.

“Comunicámos com as federações envolvidas: lembrámos que as receitas dos patrocinadores são importantes para o torneio e para o futebol europeu”, informou o responsável suíço, citado pela Lusa, em videoconferência com órgãos de comunicação social de vários países.

Kallen, que também é director executivo da UEFA Events, empresa associada ao organismo que tutela o futebol europeu, lembrou que os atletas estão “obrigados a respeitar as regras do torneio através das federações”, deixando claro que a “multa é uma possibilidade”, ainda que esta não venha a ser aplicada aos jogadores: “Fá-lo-emos sempre através das federações. Temos um regulamento assinado pelos participantes, que são as federações”.

Na conferência de antevisão do jogo Hungria - Portugal, Cristiano Ronaldo pegou nas duas garrafas de Coca-Cola que tinha à sua frente, afastou-as e substituiu-as por garrafas de água.

Horas depois, após a vitória de França sobre a Alemanha, o jogador gaulês Paul Pogba afastou da sua frente uma garrafa de cerveja Heineken — no caso, sendo muçulmano, terão sido referidas razões religiosas.

E, no dia a seguir, o italiano Manuel Locatelli seguiu o exemplo do internacional português, na conferência de imprensa que se seguiu ao triunfo da sua selecção sobre a Suíça (3-0), para o qual contribuiu com dois golos.​

Gestos que marcam posições claras sobre a existência de patrocinadores que representam o oposto do que o desporto deverá simbolizar: uma vida saudável. Afinal, especificamente sobre a Coca-Cola, que viu as acções caírem depois da atitude do jogador português, o neurocientista Fabiano de Abreu, director do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito e membro da Sociedade Portuguesa de Neurociências, esclareceu, num e-mail enviado ao PÚBLICO, que, não só a bebida “tem efeito diurético”, o que “faz com que o corpo acabe eliminando vitaminas e nutrientes”, como a presença de cafeína na sua composição “potencia a ansiedade”.

Além disso, o neurocientista chama a atenção para a quantidade de açúcar presente na Coca-Cola e para o facto de “os picos [de açúcar] no sangue serem responsáveis por sintomas como alteração de humor, irritabilidade, confusão mental e cansaço”.

Factos que levaram a que dois especialistas em nutrição ouvidos pelo PÚBLICO tenham sido unânimes na ideia de que o gesto de pessoas como estes jogadores podem, por um lado, influenciar os hábitos de consumo dos mais jovens, ao mesmo tempo que realçaram a importância de se debater sobre as marcas que patrocinam eventos desportivos.

“Temos competições que promovem o bem-estar e a saúde e depois são patrocinadas por empresas cujos produtos alimentares, quando consumidos muito regularmente, colocam em risco a saúde das pessoas”. É neste contexto “paradoxal” que o também director da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, Pedro Graça, afirmou o desejo de que a atitude de Ronaldo possa ter lançado o debate.

Afinal, lembrou o neurocientista Fabiano de Abreu, “o consumo de alimentos ricos em açúcar e carboidratos têm influência negativa sobre os neurotransmissores como a serotonina, responsável pelo humor”. “A ingestão exagerada pode prejudicar o funcionamento cerebral acarretando os sintomas da depressão. Além disso, o consumo exagerado de açúcar causa danos nas sinapses do cérebro, prejudicando a conexão neuronal.”

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