Estudo com dados nacionais de Israel confirma a elevada eficácia da vacina da Pfizer

Dados observacionais mostram que a vacina foi eficaz a evitar hospitalizações e doença grave, fornecendo 97,2% de protecção contra as hospitalizações no geral, e 97,5% contra hospitalizações graves.

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ATEF SAFADI/Reuters

Dados nacionais de Israel sobre a eficácia da vacina da Pfizer-BioNTech são apresentados esta quarta-feira na revista cientifica The Lancet. No artigo mostra-se que as duas doses desta vacina dão mais de 95% de protecção contra a infecção do coronavírus, hospitalizações, doença grave e morte, incluindo nos mais velhos. Este é o primeiro estudo numa escala nacional que apresenta dados sobre a eficácia da vacina. 

Para se estimar a eficácia neste estudo foram usados dados nacionais de vigilância da pandemia do Ministério da Saúde de Israel durante os quatro primeiros meses de vacinação contra o coronavírus no país. A campanha de vacinação começou no momento em que estavam a surgir muitas infecções no país, o que levou mesmo a um confinamento nacional a 27 de Dezembro. A 20 de Janeiro de 2021, as infecções diárias atingiram um pico de 10.213 casos. A 7 de Março o confinamento foi levantado e a 3 de Abril 72% das pessoas com mais de 16 anos e 90% das que tinham mais de 65 anos já tinham recebido as duas doses da vacina da Pfizer-BioNTech, segundo um comunicado sobre o trabalho.

“Até agora, nenhum país no mundo tinha descrito o impacto na saúde pública de uma campanha nacional de vacinação”, afirma no comunicado Sharon Alroy Preis, do Ministério da Saúde de Israel e coordenadora da investigação. “Estes resultados são extremamente importantes porque, embora ainda tenhamos alguns desafios consideráveis pela frente, dão-nos uma esperança real de que a vacinação nos levará a controlar a pandemia.” 

Em troca do abastecimento contínuo e rápido de vacinas, Israel pagou caro pelas vacinas da Pfizer e fez um acordo para fornecer dados dos seus doentes à multinacional farmacêutica, o que tem levantado questões quanto à privacidade dos israelitas.

O estudo revela agora que a vacina é “altamente eficaz” contra a covid-19 em todas as pessoas acima dos 16 anos, dando 95,3% de protecção contra a infecção e 96,7% contra a morte sete dias depois da toma da segunda dose. A protecção contra a infecção sintomática e assintomática foi de 97% e de 91,5%, respectivamente.

A vacina também foi eficaz a evitar hospitalizações e doença grave, fornecendo 97,2% de protecção contra as hospitalizações no geral, e 97,5% contra hospitalizações graves. Após 14 dias da toma da segunda dose a protecção aumentava: a protecção acabava por ser 96,5% contra a infecção, 98% contra as hospitalizações e 98,1% contra a morte.

Tanto jovens como os mais velhos foram protegidos pela vacina. Nas pessoas com mais de 85 anos tinha 94,1% de protecção contra a infecção, 96,9% contra a hospitalização e 97% contra a morte sete dias após a toma da segunda dose. Já pessoas entre os 16 e os 44 anos tinham 96,1% de protecção contra a infecção, 98,1% contra a hospitalização e 100% contra a morte.

Como seria de esperar, a protecção entre sete e 14 dias após se receber apenas a primeira dose da vacina foi mais baixa. Aqui, houve 57,7% de protecção contra a infecção, 75,7% contra a hospitalização e 77% contra a morte. Os autores do estudo alertam que se sabe pouco sobre a duração da protecção da primeira dose e que a janela de protecção pode mesmo ser mais curta, sobretudo onde novas variantes de preocupação continuam a surgir.

Durante o período do estudo, Israel registou 232.268 casos de infecção do SARS-CoV-2. Dois terços dos casos foram de pessoas com mais de 16 anos e houve 7694 hospitalizações e 1113 mortes. A variante dominante foi a inicialmente identificada no Reino Unido (a linhagem B.1.1.7) e estima-se que represente mais de 90% dos casos em Israel.

Mais recentemente, foi detectada no país a variante primeiramente encontrada na África do Sul (a linhagem B.1.351), mas ainda não é possível estimar a eficácia das vacinas a esta variante devido ao número limitado de casos. Por isso, devem ser feitas mais investigações com esta variante.

Em comunicado, a equipa realça que os resultados são “encorajadores”, mas que há muitas questões e desafios pela frente. A duração da imunidade do vírus (tanto da infecção natural com a vacina) ainda é desconhecida e “é possível que novas variantes e resistentes a vacinas possam surgir no futuro”, alertam.

Num comentário ao estudo também na revista The Lancet, Eyal Leshem (do Centro Médico Chaim Sheba, em Israel) e Annelies Wilder Smith (da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres) assinalam que os resultados “sugerem que elevadas taxas de cobertura vacinal podem oferecer uma saída da pandemia”. Contudo, estes cientistas que não participaram no estudo avisam que muitos países não conseguem fazer uma cobertura vacinal da sua população da mesma forma que Israel está a fazer. “O uso global da vacina BNT162b2 está limitado por questões de fornecimento, custos elevados, e requisitos de uma rede de armazenamento ultrafrio.” 

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