Designer portuguesa apresenta colecção sustentável na Semana de Moda da Andaluzia

Sem género, sem idade, sem limite de tamanho e, mais importante, sem desperdício. Mariana Soares apresenta em Sevilha a colecção Ataraxia.

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As propostas de Mariana Soares apostam nos contrastes dos brancos, azuis e cinzentos com o laranja DR/Code 41 – Semana de la Moda de Andalucía

A designer portuguesa Mariana Soares apresenta, esta segunda-feira, em Sevilha uma colecção de moda com materiais e técnicas de produção amigas do ambiente, com peças, algumas feitas à mão, que podem ser usadas tanto por homens como por mulheres.

Com uma paixão pelo trabalho em tricô, que desde criança via a mãe e a avó executarem, algumas das peças da designer de 24 anos são tricotadas à mão e com as mãos, com os fios enrolados à volta dos braços e as mãos a desempenharem o papel das agulhas.

“A produção artesanal de malha é uma técnica de produção de vestuário totalmente sem desperdício. Todo o material que usamos está na peça e as sobras podem ser reaproveitadas para outra peça”, explica Mariana Soares.

Na colecção Ataraxia, que apresenta, na Andaluzia, ao abrigo da Fundação Três Culturas, que, desde 1998, trabalha para promover o encontro entre povos e culturas do Mediterrâneo, a designer de Lisboa usou fio de algodão orgânico e fio de lã para as malhas, artigos feitos em Portugal, mas também outros materiais sustentáveis como o linho e o lyocell, uma fibra feita a partir de polpa de madeira.

Entre as 27 peças da colecção Ataraxia, cujo nome tem origem na língua grega e significa “tranquilidade de espírito”, há pelo menos uma que, na verdade, podem ser duas: um macacão que se pode converter num vestido. “É comum, em certos eventos, as pessoas levarem uma roupa e outra peça para usar depois. Achei interessante essa ideia de as pessoas nem precisarem de trocar de roupa. Neste caso, é uma peça que se pode usar no dia-a-dia”, justifica.

Outra das características das suas criações é o facto de não se destinarem a uma estação específica do ano e serem de género neutro, isto é, poderem ser usadas tanto por homens como por mulheres, com uma aposta nas peças de tamanho grande.

Moda sem género

Mariana Soares confessa que começou a fazer peças sem género predefinido, “por uma razão muito pessoal”, pois sempre se sentiu confortável com roupa mais larga e sempre lhe fez “confusão”, nas lojas, a distinção entre secções para homem e mulher. “É uma diferença redutora. Para mim, enquanto designer, não fazia sentido haver essa distinção. Mais do que definir a idade da pessoa ou o género, achei importante definir os ideais da pessoa que vestir a minha roupa”, sublinha.

Na colecção, que é apresentada na antiga cidade romana de Itálica, na província de Sevilha, capital da região espanhola da Andaluzia, vão predominar os azuis, os cinzentos e os brancos, que vão, depois, contrastar com tons cor-de-laranja.

Para criar a colecção, composta, ao todo, por 13 looks, Mariana Soares inspirou-se em fotografias que tirou com uma câmara instantânea que anda sempre consigo, no Oceanário de Lisboa, um sítio “estranhamente calmo e relaxante” que serviu de base ao primeiro trabalho que a designer apresenta ao público em nome próprio.

Os fios usados na produção das malhas são certificados e fornecidos pela empresa portuguesa Rosários4, localizada em Mira de Aire, no distrito de Leiria. A designer conta também com a colaboração da empresa portuguesa de calçado Marita Moreno, que produz sapatos, malas e acessórios vegan e ambientalmente sustentáveis.

Além de Mariana Soares, no desfile Code'41, integrado na XV Semana da Moda da Andaluzia, vão também ser apresentadas as colecções das espanholas Attega (de Sevilha) e ANULA Company (de Córdoba), todas a convite do projecto Intrepida Plus.

O projecto Intrepida (Internacionalização das Mulheres Empresárias de Espanha e Portugal para a Inserção, Desenvolvimento e Alianças) é uma iniciativa enquadrada no programa Interreg Espanha-Portugal (POCTEP), financiada pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder) da União Europeia. O objectivo é impulsionar a competitividade empresarial das pequenas e médias empresas administradas por mulheres nos dois países.

A Fundação Três Culturas do Mediterrâneo é a principal beneficiária do projecto Intrepida Plus, juntamente com parceiros da província de Huelva, Núcleo de Empresários da Região de Portalegre (Nerpor), Núcleo Empresarial da Região de Évora (NERE) e município de Faro.

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