Melania Trump foi a nota de compaixão no concerto apocalíptico do Partido Republicano

Primeira-dama dos EUA falou no sofrimento das vítimas da pandemia e pediu que não se façam suposições com base na cor da pele. Segundo dia da convenção republicana fica marcado pelo uso de ferramentas do Governo para fins partidários.

Melania Trump: "Nunca façam suposições com base na cor da pele de uma pessoa”

No segundo dia da convenção do Partido Republicano, a 70 dias da eleição presidencial de 3 de Novembro nos Estados Unidos, o tom caloroso do discurso da primeira-dama, Melania Trump, marcou a diferença numa reunião cheia de avisos apocalípticos contra um possível futuro sob a liderança do Partido Democrata e do seu candidato à Casa Branca, Joe Biden. No momento mais polémico da noite, o discurso do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, foi visto como o fim da separação entre o Governo do país e o Partido Republicano.

“Não quero usar este tempo precioso para atacar o outro lado porque, como vimos na semana passada, esse tipo de mensagem só serve para dividir ainda mais o país”, disse Melania Trump, referindo-se à convenção do Partido Democrata. A primeira-dama dos EUA discursou nos jardins da Casa Branca, perante uma assistência em que se destacou o seu marido, o Presidente Donald Trump, na primeira fila.

Num discurso dirigido às mulheres suburbanas que abandonaram o Presidente Trump, a primeira-dama reconheceu a dor da pandemia da covid-19 de uma forma que poucos oradores na convenção republicana o fizeram.

“O Donald não descansará até que tenha feito tudo o que puder para cuidar de todos os afectados por esta terrível pandemia”, disse Melania Trump. “As minhas mais profundas condolências vão para todos os que perderam um ente querido.”

Melania Trump também reflectiu sobre a agitação racial que varreu o país nos meses desde a morte, em Maio, de George Floyd, o cidadão negro sufocado por um polícia branco no estado do Minnesota.

“Também peço às pessoas que parem com a violência e com as pilhagens, e que nunca façam suposições com base na cor da pele de uma pessoa”, disse.

Prosperidade versus recessão

O discurso de Melania Trump encerrou um dia em que os republicanos tentaram reformular a narrativa em torno da economia, ignorando em grande parte os milhões de empregos perdidos com a pandemia, que já custou a vida a mais de 177.000 americanos.

Antiga estrela de reality shows, Donald Trump, atacado por causa das políticas de imigração, usou vídeos de uma cerimónia de naturalização, em que surge a liderar uma cerimónia de naturalização de cinco imigrantes que se tornaram cidadãos norte-americanos. Na mesma linha, exibiu outro em vídeo em que assinava um perdão para sugerir que não é anti-imigração nem defende uma linha dura em relação ao crime – ao mesmo tempo que as suas políticas e a própria convenção enfatizam a sua abordagem de lei e ordem.

Uma variedade de responsáveis políticos e cidadãos comuns citaram os esforços de Trump para aligeirar as regulamentações, pôr “a América em primeiro lugar” nos acordos comerciais e defender a liberdade religiosa como motivos para apoiá-lo contra Biden, o ex-vice-presidente de Barack Obama.

“A nossa escolha económica é muito clara. Querem saúde económica, prosperidade, oportunidade e optimismo, ou querem voltar aos dias sombrios da estagnação, recessão e pessimismo?”, perguntou Larry Kudlow, o principal conselheiro económico da Casa Branca.

Imigração, religião e minorias

Antes do discurso de Melania Trump, o tom da convenção fez lembrar o dia de abertura, na segunda-feira, quando os republicanos estenderam a mão aos seus eleitores conservadores pintando um retrato terrível de uma América sob a liderança de Biden.

Cissie Graham Lynch, neta do falecido pastor evangélico Billy Graham, disse que uma presidência de Biden “não deixaria espaço para as pessoas de fé”. Joe Biden é católico e a sua fé foi destacada na convenção do Partido Democrata, na semana passada, onde foi formalmente nomeado.

No Twitter, o antigo mayor e ex-candidato à nomeação no Partido Democrata, Pete Buttigieg, recordou a caminhada que Trump fez da Casa Branca até uma igreja para posar com uma Bíblia para os repórteres de imagem. “A escolha aqui é simples. Um dos homens exibe uma Bíblia emprestada, o outro lê-a”, disse Buttigieg.

Num apelo aos eleitores negros, muitos dos quais foram afastados por uma retórica de divisão, Trump concedeu um perdão a um assaltante de bancos condenado no estado do Nevada, Jon Ponder, um homem negro que se tornou um defensor de outros presidiários.

Pompeo em Israel

Num dos momentos mais polémicos da noite, e que já suscitou pedidos para a abertura de uma investigação, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, discursou a partir de Jerusalém e elogiou o recente acordo para normalizar as relações entre Israel e os Emirados Árabes Unidos.

Pompeo, que tem a expectativa de se candidatar em 2024 à Casa Branca, também destacou a mudança da embaixada dos EUA para Jerusalém, um tema popular entre os evangélicos norte-americanos – uma parte essencial do apoio a Trump.

O local escolhido para o discurso de Melania Trump e o discurso de Mike Pompeo, durante uma viagem diplomática a Israel, foram criticados pelo Partido Democrata, que questionou o uso da Casa Branca para fins políticos e o facto de Pompeo fazer um discurso político durante uma viagem em representação do Governo. O próprio Donald Trump fará um discurso nos jardins da Casa Branca, na quinta-feira.

Uma pessoa que deveria falar na convenção era Mary Ann Mendoza, cujo filho polícia morreu numa colisão frontal com um motorista bêbedo que estava no país ilegalmente.

A campanha de Trump disse que Mendoza foi retirada do programa depois de partilhar no Twitter um link para a teoria da conspiração Qanon algo que Trump já fez em varias ocasiões.

O senador norte-americano Rand Paul, do Kentucky, lembrou aos eleitores que Biden votou para autorizar a invasão do Iraque quando serviu no Senado norte-americano.

“Temo que Biden escolha a guerra novamente. Ele apoiou a guerra na Sérvia, Síria e Líbia. Joe Biden continuará a derramar o nosso sangue. O Presidente Trump trará os nossos heróis de volta para casa”, disse Paul.

Um total de 17 milhões de pessoas assistiram à primeira noite da convenção republicana na segunda-feira, de acordo com a Nielsen, menos do que os 19,7 milhões de telespectadores que assistiram à primeira noite da convenção nacional democrata na semana passada.

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