Organizações de direitos civis processam Trump por agressões a manifestantes

Acção denuncia violação de direitos constitucionais quando a polícia usou gás lacrimogéneo e balas de borracha sobre manifestantes pacíficos. Na Casa Branca, ergueu-se uma autêntica fortaleza para conter protestos.

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Nos últimos dias, foi colocada uma grade preta à volta da Casa Branca Reuters/JIM BOURG
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Manifestantes em Washington, na noite de quinta-feira Reuters/JIM BOURG

A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em língua inglesa) vai processar Donald Trump, William Barr, procurador-geral norte-americano, e outros agentes federais na sequência do incidente da passada segunda-feira, quando a polícia utilizou gás lacrimogéneo contra manifestantes pacíficos para que o Presidente dos Estados Unidos pudesse atravessar a Praça Lafayette e tirar uma fotografia com uma bíblia numa histórica igreja de Washington.

A acção é feita em nome do movimento Black Lives Matter DC e de manifestantes individuais que acusam Trump e outras figuras da sua Administração de “violarem os seus direitos constitucionais e de se envolverem numa conspiração ilegal para violar esses direitos”, lê-se no comunicado divulgado pela ACLU. A queixa é subscrita por outras organizações de defesa de direitos humanos, nomeadamente o Comité de Advogados de Washington para os Direitos Civis e alguns escritórios de advocacia.

Na passada segunda-feira, enquanto manifestantes pacíficos gritavam justiça pela morte de George Floyd, afro-americano assassinado pela polícia de Mineápolis, o procurador-geral norte-americano, William Barr, ordenou que a polícia utilizasse gás lacrimogéneo e disparasse balas de borracha para abrir caminho para que Trump pudesse deslocar-se à igreja episcocal de São João. Até membros do clero foram apanhados no meio da confusão. 

A acção que foi muito criticada, até por líderes religiosos, que acusaram o Presidente de pretender instrumentalizar a religião.

“O que aconteceu na tarde da última segunda-feira, aqui na capital da nação, foi uma afronta aos nossos direitos”, afirmou April Goggans, representante do movimento Black Lives Matter DC e principal autora da queixa contra Trump e William Barr.

“As mortes de George Floyd e de Breonna Taylor [afro-americana, de 26 anos, morta a tiro em Louisville, em Março] às mãos de agentes da polícia reacenderam a raiva, a dor e a tristeza profunda que a nossa comunidade sofreu durante várias gerações. Não seremos silenciados por gás lacrimogéneo e por balas de borracha. Agora é a altura de sermos ouvidos”, declarou.

O episódio da última segunda-feira, que o procurador-geral e o Presidente continuam a defender, gerou mal-estar dentro e fora da Casa Branca, sobretudo depois de Trump continuar a acenar com a ameaça de enviar o Exército para parar as manifestações.

Às críticas dos manifestantes, das organizações de direitos humanos, dos líderes religiosos, do Partido Democrata, entre outras, juntaram-se vozes de republicanos, como a senadora do Alasca Lisa Murkowski, o ex-secretário da Defesa Jim Mattis, o ex-presidente George W. Bush e, inclusive, o actual secretário da Defesa, Mark T. Esper, que acompanhou Trump na visita à igreja episcopal, mas justificou-se ao dizer que não sabia que Trump pretendia tirar a fotografia com a bíblia.

Fortaleza na Casa Branca 

Enquanto a violência nas manifestações pela morte de George Floyd vai diminuindo, Washington continua sob segurança máxima, particularmente junto à Casa Branca, onde nos últimos dias foi erguida uma enorme grade preta, num forte perímetro de segurança.

Nos dias seguintes ao episódio da Praça Lafayette, a Casa Branca transformou-se numa autêntica fortaleza, que, segundo a descrição do Washington Post, é a manifestação física da ideia de “dominação da lei e ordem” do Presidente Trump sobre os milhões de americanos que estão nas ruas a protestar contra o racismo e a violência policial.

Para os apoiantes de Trump, a enorme grade que rodeia a Casa Branca, bem como o forte dispositivo policial na capital, representam a ordem e segurança, enquanto os críticos vêem uma tentativa de reprimir a população e de o Presidente se esconder dos cidadãos.

Apesar de os protestos estarem a diminuir de intensidade, e de muitas cidades já terem, inclusive, levantado o recolher obrigatório, o perímetro de segurança junto à Casa Branca continua a expandir-se e é expectável que assim continue nos próximos dias.

As fortes medidas de segurança estão a gerar algum desconforto dentro da Casa Branca. Segundo o Post, muitos funcionários, que falaram sob anonimato, estão ansiosos para que as barreiras de segurança sejam removidas – a ideia inicial era espalhar os manifestantes por áreas longe da Casa Branca e não isolar o edifício dos cidadãos.

William Barr, que tem coordenado a resposta federal em termos de segurança, sugeriu na terça-feira que deveriam ser aliviados os protocolos de segurança junto à Casa Branca, bem como a contingente policial e militar. No entanto, continuam a ser colocadas novas barreiras de segurança, quando são esperadas dezenas de milhares de pessoas nas ruas durante o fim-de-semana.

As elevadas medidas de segurança, segundo os Serviços Secretos norte-americanos, devem continuar em vigor, pelo menos, até ao próximo dia 10 de Junho.

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